quinta-feira, 9 de maio de 2024

O ensino em Portugal – vemos o que temos ou o que queremos ver?

Sob coordenação de David Justino, ex-ministro da pasta, saiu o 1º volume de um estudo que abrange um século do ensino no nosso país, antes e depois do 25 de Abril. Hão-de seguir-se, semanalmente, mais três volumes, até ao fim do mês que corre.

Quarenta anos ininterruptos a leccionar, no (chamado) 3º ciclo e no ensino secundário, levam-me a emitir (prévia) opinião, tendo, por ora, lido pouco mais que o prefácio de Sampaio da Nóvoa.

Diz Sampaio da Nóvoa que a escola do presente é muito diferente da escola do passado. É universalmente inquestionável, suponho. Igualmente irrebatível é a referência ao «atraso evidente da “escola para todos”, em Portugal», em «comparação com os países europeus».

Já considero infundamentada a asserção de que «as críticas periódicas à escola pública, que alguns consideram […] um dos grandes falhanços do 25 de Abril, baseiam-se mais em disputas políticas e ideológicas do que em análises rigorosas da realidade.» Leio regularmente textos do Professor Galopim de Carvalho e não vejo como pode aquele Homem protagonizar «disputas políticas e ideológicas» em matéria de ensino, no sentido da acusação. Tento olhar a minha prática, e a de tantos professores dedicados, face às dificuldades que enfrentamos e aos resultados gerais que se conseguem, e não vejo como disfarçar o falhanço com a maioria dos alunos, particularmente os filhos dos mais pobres, que não têm meios de colmatar as insuficiências e deficiências da escola. Não são questões teóricas, é a dura realidade de todos os dias.

Mais adiante, Sampaio da Nóvoa refere que «há uma permanência do “modelo escolar” dentro da sala de aula, com poucas alterações do decurso do último século» e que «a essência da relação professor-aluno mantém-se inalterada.» Não sei com que olhos Sampaio da Névoa enxerga a realidade. Lembro-me de quando era aluno e de como me intimidavam muitos dos professores que tive. E sei como, hoje, a maior parte dos professores se intimida perante os comportamentos da maioria dos alunos, nem falando de muitos pais/encarregados de educação. Esta cegueira é muito nefasta e anula o papel do ensino e da cidadania que devia ser o da Escola.

Invoca, Sampaio da Nóvoa, os relatos da UNESCO onde se refere a «necessidade de um “novo contrato social da educação”. Trata-se, acrescenta, «sobretudo de repensar o “modelo escolar”.» Também me parece, mas talvez esse contrato se deva fundar em dados estatísticos e gráficos (mais) reais (estou a pensar nos registos de assiduidade e de sucesso, por exemplo) do que aqueles que países como Portugal fornecem à UNESCO.

A Escola Pública não está bem de saúde. Precisamos de «não nos limitarmos a repetir as mesmas banalidades e preconceitos de sempre», pela boca dos teóricos que, quando vão às escolas, vêm uma realidade enfeitada, como pretendem. E que a UNESCO parece acolher com gosto. Para os professores que dão aulas, a realidade é outra.

Um bom princípio seria começar por exigir aos candidatos à docência uma sólida preparação nas áreas respectivas e uma formação pedagógica humildemente realista. Ficção e floreados de metodologias e técnicas milagrosas, dispensam-se.

Conto debruçar-me sobre este e os próximos volumes e confrontá-los com a realidade que experimento diariamente. Talvez sejam os últimos estudos sobre educação que vou ler, por saturação e relativa fraca utilidade. Se assim não for, alegrar-me-ei.

José Batista d’Ascenção

sábado, 4 de maio de 2024

Ideias do tempo que passa

Hoje, no jornal «Público», António Barreto, personalidade ponderada e de vasto conhecimento, com o óbice de ter opinião sobre todas as matérias, a propósito de tema na agenda mediática, afirma: «A muito pouca gente ocorre admitir a ideia de uma escola livre, de programas abertos e de manuais plurais. Ou antes, de uma pluralidade de manuais, ficando os estudantes e as suas famílias responsáveis pelas escolhas.» E mais adiante: «Porque não será possível conviver, na mesma escola, com todos os manuais possíveis, ficando às famílias a faculdade ou o dever de escolher? O término do texto também é curioso: «Reparar a escola opressiva não se faz com uma escola de livro único».

Todo o artigo tem fundamento com que concordo. Porém, esta medida como outras defendidas por António Barreto, no sector da «educação», levariam a uma prática com resultados bem diferentes do que o autor supõe.

Daqui a pouco começa a ser difícil perceber porque é que as escolas hão-de ter professores. Para que servem eles?

A não ser que seja para serem objecto de desprezo e… opressão.

José Batista d’Ascenção