terça-feira, 10 de julho de 2018

Critérios de classificação do exame nacional de biologia e geologia (da 1ª fase 2018) – o bom-senso desejável e o rigorismo dispensável

Este ano, quando resolvi o exame nacional de biologia e geologia da 1ª fase (em 26 de Junho), o que fiz pouco depois da realização da prova, senti alívio e conforto. E pensei: os alunos vão subir as classificações relativamente aos anos anteriores, se os critérios não trouxerem surpresas.
Logo que pude consultar os critérios de classificação, senti novo alívio. E pensei, com alegria: os alunos vão subir as classificações.
No dia seguinte fui buscar provas para classificar. Couberam-me, a mim como aos meus pares de escola, cinquenta exemplares. São muitas provas (que deviam ser distribuídas por mais classificadores), mas o período de «correcção» foi suficientemente largo para permitir um trabalho minucioso (na aplicação dos critérios e no preenchimento da pauta, de dimensão e particularidades exageradas – para quê ter que preencher com zeros as células de duas colunas correspondentes à ausência de erros que a maioria dos alunos não comete?), que exige muita paciência e serenidade.
Vistas as questões de resposta redigida, primeiro, e registadas as dúvida a esclarecer, e verificadas as perguntas objectivas da prova, continuei a sentir que os resultados, genericamente, subiriam.
Os supervisores (dois, este ano, para diferentes questões) responderam às dúvidas colocadas com prontidão, nuns casos emitindo a sua opinião e noutros recomendando a espera pela necessária concertação global. Como a interacção com os supervisores se faz através de uma plataforma informática, podem agregar-se muitos professores (entre 90 e 135!), de quaisquer zonas do país, aos mesmos supervisores. Não sei se se ganha muito em «fiabilidade», mas sei que é difícil e pouco confortável e pouco útil, pelo menos para mim, interagir com um número excessivo de professores em tarefas classificativas (muito além dos 15-20 que eu acharia desejável). E o mais desagradável é não limitar as interacções à plataforma, onde cada qual entra quanto quer, despejando de seguida, no «mail» de cada classificador, uma contínua e horrível enxurrada de mensagens: uma por cada intervenção dos supervisores ou dos classificadores.
Em cinco de Julho debrucei-me sobre a síntese das especificações à versão prévia («versão de trabalho») dos critérios de classificação. E aí esfriaram as minhas expectativas relativamente à hipotética melhoria das classificações dos alunos, com certos rigorismos que, nalguns casos, escapam ao meu entendimento. Por exemplo:
- «Em alternativa a “movimento da rocha”, aceita-se “movimento da placa”», mas penaliza-se a «referência “a placa é sacudida” em alternativa a “movimento da rocha”». Ora, parece-me a mim que o termo “sacudida” até está muito bem para expressar a ideia de movimento brusco de blocos rochosos originador de um sismo…
- «Não aceitar a referência a “complexidade celular” em alternativa a “tipo de células” ou a “nível de organização celular”. Não aceitar? Será que a generalidade dos investigadores de ponta na área tem os mesmos pruridos de linguagem?...
- «Não aceitar a referência a “tipo de alimentação” como alternativa a “modo de nutrição”.» Como se trata, tal como no exemplo anterior, de um critério de classificação de seres vivos, (segundo Whittaker) dos anos setenta do século passado, considerado desactualizado pelos taxonomistas posteriores, sem falar no sentido etimológico dos termos, isto pode dar lugar a confusão (que os supervisores se esforçaram estoicamente por esclarecer até à véspera da entrega das provas, saliente-se).
Enfim, são pontinhos que muitos alunos podem perder e que colocarão as médias mais próximo das de anos anteriores, assim como as taxas de reprovação, que em alguns anos foram dignas de lástima.
E não havia necessidade. Melhor seria compensar o esforço de tantos alunos e a dedicação dos seus professores. 

José Batista d’Ascenção.

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