sábado, 22 de outubro de 2016

Termos (ainda) na “moda”: articulação e supervisão

Terríveis, os “modismos” na escola (mesmo que serôdios) continuam imparáveis a fazer vítimas: nos professores e, por consequência, nos alunos. Não obstante, “mais papistas que o papa”, são professores apaniguados os que mais se afadigam a pôr em prática e a disseminar a inferneira.

A articulação, ora vertical, ora horizontal (falta ainda a versão “plano inclinado”, para a qual se deixa aqui a dica) traduz-se em reuniões obrigatórias, mesmo que para nada, de preferência todas as semanas. Vamos ver se não haverá quem as proponha em regime diário…

A supervisão, vulgo professores (dois, por enquanto…) a “supervisionarem(-se)” na mesma sala de aula, tem que passar a ser prática (alargada, porque salvífica) ao jeito ou à força, mesmo que não dê (ou dê mau) resultado.

Será assim enquanto não surgirem outras ideias igualmente brilhantes. Então, quando as ondas passarem, por tédio ou indiferença, ninguém vai curar de saber que benefícios se obtiveram nem se avaliarão os prejuízos, nem, muito menos, se responsabilizará quem os causou.

Ensinar é que não está (nem vai ficar) na moda. E por isso ninguém se preocupa em que os professores tenham tão boas a preparação de base e a actualização contínua quanto as condições efectivas para poderem ensinar.

Mas, não se pode ter tudo, não é?

José Batista d’Ascenção

domingo, 9 de outubro de 2016

Os mega-agrupamentos de escolas são um erro

Tornados efectivos os mega-agrupamentos de escolas, e com alguns anos de experiência, podemos já aquilatar com dados reais alguns aspectos de (mais uma) experiência pedagógica:
- Poupa-se dinheiro?
- Motivam-se mais e melhor os professores e os alunos?
- E, sobretudo, a aprendizagem melhorou?
Não é líquido que a resposta seja sim à primeira daquelas perguntas e menos o será à segunda e à terceira.

Dados da própria Inspecção Geral da Educação e Ciência (IGEC) referentes a certo mega-agrupamento mostravam que, no ano seguinte à sua constituição, os resultados das suas principais escolas no ano anterior, que eram bons, tornaram-se maus. No segundo ano já havia uma melhoria, embora tímida e distante do que se conseguia antes de aquelas escolas terem sido agrupadas. Quanto estes resultados foram apresentados aos professores coordenadores para análise, perante a pergunta do líder da equipa inspectiva sobre o que significavam e o que se devia fazer, um “imprudente” professor sugeriu que, a serem indiscutíveis aqueles dados, o mais avisado seria… desfazer o agrupamento. A sugestão gelou a sala. Mas logo, prestimosas e solícitas, algumas vozes tentaram agradar aos membros da IGEC, salientando enfaticamente a tendência de melhoria dos dados do primeiro para o segundo ano, referindo o reforço do espírito de agrupamento, e sinergias, e articulação (muitas reuniões…), e outros conceitos típicos do discurso, nesta matéria. Ninguém referiu o prejuízo entretanto causado aos alunos, muito menos o desgaste dos professores e menos ainda o desejával apuramento da validade da opção pelos agrupamentos…

O que mostra a realidade? Qualquer mortal percebe que, havendo duas escolas de ciclos sucessivos “porta com porta”, como nos centros urbanos acontecia, a conveniência seria agrupá-las e é até difícil entender como puderam ter sido construídas indiferentemente uma da outra. Mas que sentido tem constituir artificialmente um mega-agrupamento de escolas que associa jardins de infância e escolas do primeiro ciclo (antigo ensino primário), de diferentes freguesias rurais, a uma escola secundária do miolo urbano, com que nunca tiveram qualquer relação, e em que as distâncias físicas entre estabelecimentos de ensino chegam a ser de 15 Km, servidas por estradas secundárias? Não sabemos todos que a direção deve ser tanto quanto possível de proximidade? Quantos pequenos (grandes) problemas ficam sem que ninguém responsável os verifique in loco e trate deles? E por que há-de condicionar-se uma (grande) escola do ensino secundário, para mais se ministra ensino regular e profissional, na sua vocação de captar qualquer aluno de qualquer localidade, das urbes, das periferias ou do interior, e obrigá-la a articulações mais ou menos artificiosas com territórios específicos que não se traduzem em benefícios concretos na aprendizagem dos alunos?

Outro aspecto digno de reflexão é o facto de, com boas intenções, se apelar à construção de um espírito de identidade dos agrupamentos, sobrepondo-o às referências próprias de cada escola, correndo o risco de descaracterizar cada uma delas para se obter uma amálgama indefinida com que é difícil alguém identificar-se genuinamente.

E um órgão que devia ser absolutamente fundamental nas escolas, como é o conselho pedagógico, ressente-se das condições referidas, com consequências nefastas: tende a transformar-se num fastidioso conselho… burocrático, onde muitas questões concretas de pedagogia, por vezes (muito) difíceis, mas também interessantes e até vibrantes deixam de ter oportunidade de análise.

E repare-se, uma tal modificação não foi pedida por alunos, nem por encarregados de educação nem pelos professores.
Quando vão avaliar-se com rigor as suas vantagens e desvantagens? E a quem agradecer as primeiras e responsabilizar pelas segundas?

José Batista d’Ascenção