domingo, 20 de fevereiro de 2022

Promessas e silêncio, em sinal de luto

O que a foto documenta talvez não seja o principal problema das escolas.
Ou, se o é, em grande medida, não devia ser. Imagem colhida aqui.

Durante a campanha para as últimas eleições legislativas prometi a mim mesmo que votaria num partido que dissesse (e propusesse) alguma coisa decente sobre o estado (enlouquecido e envilecido) da educação no país. No meu critério, nenhum o fez. Na antevéspera do dia de eleições, perante o sentimento de que se sobrepunha um dever mais alto, e para evitar males maiores, decidi quebrar a promessa.

Por me parecer inútil, tenho evitado pronunciar-me sobre o caminho por que segue a escola pública e a evolução do ambiente que nela se vive. E sobre a responsabilidade que pesa sobre os ombros dos professores, a qual não deixará de ser assacada preferencialmente àqueles que dão aulas (e não tanto aos políticos nem aos que dirigem e administram e alimentam o sistema).

Não vencido nem convencido, vou esforçar-me por ficar em silêncio. Por consequência, este espaço ficará à míngua de conteúdo e pode ser que (o) encerre, para não insistir em realidades que não sei nem quero nem posso doirar.

Pela dor e por pudor. 

Não termino esta nota sem registar um sentimento de homenagem aos que, em cada sala de aula, não desistem de ser professores nem aceitam banir o verbo ensinar.

No futuro (que é já amanhã) aproveitar-se-á o que for conseguido, se for possível. Temo que o resto predomine e tenha consequências que não sejam fáceis de suportar.

Por mais ou menos tempo que viva, creio que não ficarei surpreendido e tudo farei para não me queixar.

Disse.


José Batista d’Ascenção

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

A propósito da escola de hoje e da intimidação que nela (tantas vezes todos os dias) se vive

Anteontem, Domingo, lia um pequeno escrito de Ademar Costa, no jornal «Público», que versava (em português claro e límpido) sobre essa coisa do bullying nas escolas. O simplismo do texto, seguramente devido ao espaço exíguo a que se limitava, causou-me desconforto. E, de uma penada, reagi, também eu sujeito ao mesmo condicionalismo da quantidade de palavras permitidas, que o jornal hoje publica. Ei-las:


Intimidação nas escolas

Larvar ou explícita, a intimidação vexatória (bullying) existiu nas escolas que frequentei, como aluno, antes, em tempo de ditadura e de democracia, e como professor, até hoje.

E não se deve apenas nem principalmente à falta de auxiliares. Nem tem como vítimas somente os alunos. Há problemas muito mais complexos: a indisciplina mal (ou nem sequer) assumida na escola (que se quer) democrática; a desresponsabilização dos pais (que já frequentaram o mesmo tipo de escola); a desvalorização legal, institucional e social dos professores, que deviam ser mais do que (fracos) agentes de entretenimento de meninos, que fazem (mais ou menos) o que querem - veja-se a importância “pedagógica” com que se apela à e se propõe a chamada “gamificação” (até com formação creditada); o facilitismo e o demissionismo que se instalou, travestidos de sucesso; o não registo ou a justificação de muitas faltas para camuflar situações de baixa frequência ou abandono; etc.

Por outro lado, as más influências da “internet” não justificam tudo, já os fracassos da educação explicam muito. 

Sobra(-me) ainda a certeza de que muitos “doutores” de hoje são agressores de ontem.

Para que conste.


José Batista da Ascenção.