quarta-feira, 29 de março de 2023

O venerando Professor Jorge Paiva e os alunos do ensino secundário

Pedimos-lhe e ele vem. Vem sempre [de Lisboa a Braga ou a qualquer ponto do país]. Paga as próprias viagens e o que come e fala-nos com empenho das matérias que lhe propomos [hoje, o tema era: «Portugal Dendrodescoberto, ou os desertos rochosos em que se estão a transformar as nossas montanhas»]. Sente-se bem assim. Já me têm dito que o devemos poupar. Eu respondo sempre que o devemos aproveitar. Do alto dos seus quase 90 anos, do seu conhecimento, da sua generosidade e disponibilidade, faz com que eu me veja e a muitos da minha idade como pessoas envelhecidas de cansaço e não pouca desilusão. É assim, confesso-o.

Os alunos apreciam-no. Um, de entre os presentes (cento e dez de manhã e metade disso de tarde), já no ensino superior, soube e pediu para vir assistir, porque, desde que o conheceu, achou o Professor Paiva inspirador. Outros, que foram nossos alunos, escolheram os seus cursos e dão-se bem neles pela motivação que encontraram neste Mestre.

Nunca dei fé que protestasse por motivos de vencimento ou que manifestasse alguma vontade de se aposentar. Trabalhou e trabalha, trabalha sempre, com a paixão e o encantamento de um menino. E mostra, sem o referir, que a pedagogia é essencialmente uma arte e um dom, sem tempo nem idade.

De coração cheio: Muito bem haja, querido Professor.

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 28 de março de 2023

Uma coisa chamada projecto «MAIA»


in: jornal «Público» de hoje, versão impressa, pg 13

O dito projecto é, em minha opinião, um conjunto de artifícios excessivos, morosos e inúteis. Em português simples e claro (embora não muito elegante), considero-o uma porcaria.

E lamento a subserviência dos professores que, não lhe dando crédito, e apesar de «muito desânimo», continuam a tentar aplicá-lo.

Vá lá que já há uma petição com mais de 9000 assinaturas a contestar o monstro.

Que repouse no fundo da lixeira para que deve ser remetido quanto antes.



José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 22 de março de 2023

Tempo e discurso

Numa aula de história de 9º ano de escolaridade, a professora aborda a primeira grande crise do capitalismo, mostrando uma caricatura “clássica” do capitalista, em que realça a atitude, a vestimenta, o charuto e o facto de ser gordo.

Imediatamente, uma aluna intervém, diligente e incisiva:

- “Stora”: “gordo” não se diz, que é preconceito.

Com paciência e calma, a professora refere o valor das palavras, enquanto conceitos, e o respeito que devem merecer(-nos).

A menina rola os olhos, algo confusa, e a coisa fica por ali.

Há agora o que chamam «discurso inclusivo» e quem procure impô-lo nas escolas.

É um pequeno exemplo, que revela onde já chegámos.

O futuro (nos) revelará o que mais vier.

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 1 de março de 2023

A escola pública transformada em manicómio

«Chamam-lhes aulas de substituição. Não é designação errada, perante a prática em que o que deviam ser aulas se transformou.

Os alunos não querem abordar nenhum assunto em que o professor substituto possa ser útil. Apenas três se ocupam a trabalhar, em exercícios de matemática. Os restantes procuram distrair-se com os seus telemóveis, algo ruidosos e excitados. Outros jogam em grupo, mas, sobretudo, tagarelam e agitam-se.

O professor (substituto) contempla e faz (estas) anotações. Ninguém o interpela, exceptuando os alunos que pedem para ir lá fora. Que vão e voltam com o mesmo tédio com que saíram. Ou que demoram a voltar.

A escola é isto. Foi nisto que a transformaram. Faliu, a escola pública, por se ter reduzido ao absurdo. E à indignidade.

Felizmente, uma aluna manteve-se todo o tempo a trabalhar. Honrosa excepção. Merecedora de felicitações.»

Então, o professor pediu a atenção dos jovens (de 10º ano) e leu-lhes as curtas notas anteriores, título incluído. Fez-se silêncio gélido na sala. Vários deles pediram desculpa. Alguns acrescentaram: «obrigado».

Donde se prova que não é por causa dos alunos que a escola está em colapso, nos princípios e no funcionamento.

José Batista d’Ascenção