quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

A ideia de educação de David Justino

David Justino, professor catedrático do Departamento de Sociologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; ministro da Educação do XV Governo Constitucional, entre 2002 e 2004.

“Torna-se difícil para mim entender a educação que não assente no conhecimento e na cultura, no esforço e no rigor, na exigência e na disciplina. Não simpatizo com os novos profetas, eles prometem a escola do século XXI, a escola do futuro em que os alunos interagem com as tecnologias, desenvolvem competências e o professor se torna uma espécie de animador de sala de aula.” in: jornal "Publico" de 25 de Janeiro, pg 14, versão impressa.

Não podia estar mais de acordo.

E, apesar de não ter apreciado o governo (liderado por Durão Barroso) de que fez parte, gostava que estas posições tivessem sido percebidas com a mesma ênfase e clareza pelos professores e agentes do ministério da educação, ao tempo em que foi ministro (pelo menos).


José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Dobre de finados ou toque a rebate pela escola pública?

Vai tumultuosa a vida escolar, por oposição à paz podre dos últimos doze anos. O panelão levantou fervura e o testo saltou, com prejuízo para os alunos, perturbação e angústia dos pais e (acréscimo de) sofrimento para os professores. Nada que fosse imprevisível.

No meio da tormenta têm sido salientados problemas relacionados com a progressão na carreira, a precariedade, os concursos, a não contagem do tempo integral de serviço, o drama da “casa às costas”, a mobilidade por doença, todos motivos de razão. A mesma ênfase merece a vida penosa intra-escolas a que estão sujeitos os professores que dão aulas, como seja a inconcebível definição da componente lectiva, que contraria as reduções com a idade que a lei (faz de conta que) estipula efectivamente [de modo que um professor chamado a substituir outro numa aula da componente lectiva deste, vê esse tempo lectivo transmutar-se legalmente num tempo não lectivo para si. Como se não bastasse, o professor substituto pode ser remetido para a condição de guardador de alunos, chegando a indicar-se-lhe o espaço do recreio para deles tomar conta, sejam meninos do básico ou jovens do 12º ano], ou como sejam os conceitos extraordinários de inclusão, de educação especial, de flexibilidade, de supervisão, de sucesso pleno, ou de avaliação (de que é exemplo o fantástico projeto MAIA, como referi aqui), conceitos que implicam procedimentos burocráticos infernais que hão-de traduzir-se em estatísticas (de trazer por casa) que reflictam os “planos de melhoria”, que se exigem as vezes necessárias até chegar aos resultados de “sucesso” convenientes para publicar e comunicar à OCDE.

Por tudo isto, a escola pública faliu. Os políticos e os “teóricos” adstritos ou instalados no edifício formal da educação conseguiram o objectivo de destruir os professores, arruinando-a completamente. Perdem os alunos e perde o país. Mas as perdas não são universais, como bem sabemos.

Por isso, sem quaisquer ilusões, esta quinta, 19, faço greve.

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

«Clima de escola», além das lutas visíveis

Digo a mim próprio que, nos corredores da escola, hei-de ser (mais) enfático e afável nos cumprimentos a colegas professores e aos preciosos funcionários e alunos. Ontem falava com uma colega acabada de regressar de período de convalescença, muito animada, confessando-me que trazia uma farmácia ambulante que a havia de ajudar a reunir a energia necessária. Espero que tenha sentido a minha ternura. Mas há outras(os) que seguem de ou para as salas de aula, por entre magotes de alunos, sem que o seu olhar encontre o meu. Nesses casos saem-me frágeis saudações, eventualmente inaudíveis. Culpo-me e prometo que da próxima é que é. Só que na(s) próxima(s) não consigo a satisfação plena das intenções. São mais do que eu gostaria os olhares baços para o indefinido. Ou é dos meus olhos. Quem sabe se o reflexo pouco objectivo do que eu mesmo sinto.

Entre os mais chegados, porque do mesmo grupo de docência (agora chamam-lhe grupos de recrutamento), ainda combinamos uma ou outra refeição conjunta, mas a adesão não é universal e os que participam não transbordam de felicidade.

No bar da sala de professores, que ainda temos, servidos por santas senhoras, pronunciamos frases de circunstância, esforçamo-nos em atitudes de simpatia, mas prestamos pouca atenção ao que os outros dizem, e reciprocamente. Pelo que não há silêncio, que seria pesado, mas há cada vez menos quem oiça alguém com prazer de ouvir.

Entre o pessoal auxiliar, que ganha pouco, como todos os que trabalham nas escolas, há os que têm décadas de serviço e pesam o bom e o menos bom da profissão, sem sinais de júbilo, e há os que são mais jovens e se esforçam por ver mais que cinzento no futuro.

No que respeita aos alunos, que vêem em cada professor um velho em luta com forças e fraquezas, não se perdia nada se a alegria fosse mais notória.

Este clima contrasta com a atitude dos que (ainda) não perderam o humor e dão vivacidade ao quotidiano e aos dias festivos ou de comemoração.

O que fazer? - Tudo para alimentar a esperança, em primeiro lugar em cada um de nós.

Como? - Não me perguntem, digo apenas que sempre haverá dias luminosos e pessoas animadas da alegria de viver.

José Batista d’Ascenção