quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

«Clima de escola», além das lutas visíveis

Digo a mim próprio que, nos corredores da escola, hei-de ser (mais) enfático e afável nos cumprimentos a colegas professores e aos preciosos funcionários e alunos. Ontem falava com uma colega acabada de regressar de período de convalescença, muito animada, confessando-me que trazia uma farmácia ambulante que a havia de ajudar a reunir a energia necessária. Espero que tenha sentido a minha ternura. Mas há outras(os) que seguem de ou para as salas de aula, por entre magotes de alunos, sem que o seu olhar encontre o meu. Nesses casos saem-me frágeis saudações, eventualmente inaudíveis. Culpo-me e prometo que da próxima é que é. Só que na(s) próxima(s) não consigo a satisfação plena das intenções. São mais do que eu gostaria os olhares baços para o indefinido. Ou é dos meus olhos. Quem sabe se o reflexo pouco objectivo do que eu mesmo sinto.

Entre os mais chegados, porque do mesmo grupo de docência (agora chamam-lhe grupos de recrutamento), ainda combinamos uma ou outra refeição conjunta, mas a adesão não é universal e os que participam não transbordam de felicidade.

No bar da sala de professores, que ainda temos, servidos por santas senhoras, pronunciamos frases de circunstância, esforçamo-nos em atitudes de simpatia, mas prestamos pouca atenção ao que os outros dizem, e reciprocamente. Pelo que não há silêncio, que seria pesado, mas há cada vez menos quem oiça alguém com prazer de ouvir.

Entre o pessoal auxiliar, que ganha pouco, como todos os que trabalham nas escolas, há os que têm décadas de serviço e pesam o bom e o menos bom da profissão, sem sinais de júbilo, e há os que são mais jovens e se esforçam por ver mais que cinzento no futuro.

No que respeita aos alunos, que vêem em cada professor um velho em luta com forças e fraquezas, não se perdia nada se a alegria fosse mais notória.

Este clima contrasta com a atitude dos que (ainda) não perderam o humor e dão vivacidade ao quotidiano e aos dias festivos ou de comemoração.

O que fazer? - Tudo para alimentar a esperança, em primeiro lugar em cada um de nós.

Como? - Não me perguntem, digo apenas que sempre haverá dias luminosos e pessoas animadas da alegria de viver.

José Batista d’Ascenção

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