Frequentemente, ao ler matérias que lecciono (no ensino secundário) estremeço (e envergonho-me) com os erros que cometo. Vai longe e está desactualizado (há muito) o que estudei na universidade. Acontece que ser professor de biologia e geologia abarca tal pluralidade de conteúdos, e alguns com tão poucas relações directas, que dificilmente um professor, por mais que leia e estude autonomamente, consegue estar em dia com os conhecimentos mais recentes nas diversas áreas.
Por isso, sempre fui crítico da multiplicação, repetição e predomínio de acções de formação sobre o modo de ensinar em detrimento das de actualização de conhecimentos em domínios em que devia caber às universidades disponibilizá-los, e a que os docentes de cada disciplina deviam ter acesso gratuito ou integralmente subsidiado, em tempo oportuno e compatível.
In: Rui Dias, "Portugal Antes da História", 1º volume "Da Dinâmica Global aos Processos Geológicos" |
O mesmo desconforto sinto quando analiso e trabalho com certos manuais escolares adoptados (até com a minha concordância ou mesmo preferência!). E sou crítico tanto em relação às deficiências de conteúdo como no que toca às supostas pedagogias que pressupõem.
Por vezes, vem-me à memória o que ouvia à minha professora de matemática, Amélia Chagas, no que foi o Liceu Nacional de Castelo Branco, em finais da década de 70 do século passado, no que então se chamava ensino complementar (hoje ensino secundário): os manuais do ensino secundário deviam ser feitos pelos professores do ensino superior, podendo os (dos anos finais) do ensino básico ser elaborados por professores do ensino secundário. O argumento radicava na convicção de que os professores de cada nível sabem bem quais são as bases que julgam (mais) necessárias ao início do ciclo de estudos em que trabalham. A esta ideia não faltam obstáculos de concretização, mas não pode apontar-se-lhe falta de lógica.
Outra possibilidade seria o ministério da educação propor a professores de diferentes departamentos universitários ou outros, de méritos reconhecidos, a elaboração de materiais pedagógicos, incluindo livros, textos de apoio e/ou exercícios, relativos às rubricas dos programas das disciplinas de ciências, como em tempos (já em democracia) houve. No mínimo conseguia-se uma base de qualidade isenta de erros grosseiros, facilitadora da aprendizagem e da acção dos professores. Esse trabalho já é generosamente feito, de modo inteiramente grátis, por pessoas como os Professores Galopim de Carvalho e Jorge Paiva. Outros, como o Professor Rui Dias publicam livros essencialmente para professores. Nada se perdia em tornar esse serviço mais definido e sistemático, recompensando devidamenre os seus autores.
José Batista d’Ascenção
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