Na aula (sobre expansão dos fundos oceânicos) calculávamos a velocidade de afastamento de dois pontos situados em placas litosféricas diferentes (por exemplo nas ilhas das Flores e da Graciosa, nos Açores), em movimento (geológico) divergente, e de cada um dos pontos em relação à origem da deslocação, a meio da distância entre os dois (na zona de rifte).
Para esquematização dividimos o quadro ao alto, a meio, e proponho que titulássemos:
- à esquerda: se considerarmos a velocidade de afastamento de qualquer dos pontos em relação ao rifte;
- e à direita: se considerarmos a velocidade de afastamento das ilhas uma em relação à outra.
A aluna, no quadro, escreve: «se considerar-mos…»
Nenhum dos alunos dá por nada. A minha cara deve ter sido de poucos amigos, pelo que a menina, hesitante, pergunta:
- Setôr, «considerarmos» existe?, não deve ser «consideramos»?
Repliquei: se eu considerar, se tu considerares, se ele considerar, se nós considerarmos… etc.
E insisto: - Isto diz-lhes alguma coisa?
Mutismo.
Mando então que seja eliminado o hífen.
E logo um rapaz muito vivo, lá ao fundo:
- Mas então, não tem que ter tracinho?
Sai-me, num grito: - Burro!
Nunca na minha vida tinha dito tal coisa a um aluno. Além do mais, a minha expressão era tão dolorosa e revoltada, quando falha de objectividade. E logo o reconheci.
Para minha surpresa, o rapaz sorri abertamente e faz questão de dizer:
- Não há problema nenhum.
Resta acrescentar que nem aquele aluno nem a generalidade dos alunos daquela turma (de 10º ano), incluindo a menina que estava no quadro, têm falta de inteligência. Nem de simpatia nem de boa educação, já agora.
A desgraça vem do estado a que a «escola» chegou, qual seja a de que muitos alunos não percebem o que os professores dizem, nem entendem o (pouco) que lêem.
Curiosamente, ainda há poucas horas ouvi o novel líder do PCP afirmar, no início do seu primeiro discurso, que, «se dúvidas houvessem»… (sic), e referir, pouco depois, que as crianças têm direito a ser felizes e a aprender…
Lá direito têm. Ou deviam ter.
José Batista d’Ascenção
Sem comentários:
Enviar um comentário