domingo, 25 de setembro de 2022

Os alunos que este ano me couberam

Os meus alunos deste ano, todos novos para mim, causaram-me boa impressão. Corrigidas as fichas de avaliação diagnóstica, foi sem surpresa que constatei o carácter pouco efectivo do que realmente convinha estar aprendido ou a inconsistência do que muitos, apesar de tudo, retiveram. Quem manda na “educação” ignora (ou despreza) estes factos, mas a realidade é a que é, independente das esponjas que lhe passem por cima ou do “verniz” que lhe apliquem. Não digo isto por acaso: o ano passado voltei a leccionar a alunos do ensino básico e foi um choque terrível: onde todos (os elementos do conselho de turma) viram excelência, eu confirmei os meus receios, os quais, naturalmente não pressupõem qualquer falta de capacidade dos meninos, antes derivam da ficção que ilude o facto de quase não se ensinar nada a muitos alunos, independentemente de se “conseguir taxas de sucesso” que enganam sobretudo os filhos dos mais pobres. Por essa razão e por nunca ter esquecido as minhas (próprias) origens não alinho, nem de longe, na ideia de que a “educação” em Portugal é um “rolls-royce”.

Voltando aos meus alunos deste ano, para já, vi humildade e disponibilidade, o que, se não for meio caminho andado, é um bom início para o caminho a percorrer.

Não quero génios, que nunca encontrei nos muitos anos que levo de professor, e tive, obviamente, excelentes alunos, mas fico satisfeito com meninas e meninos que não trazem o rei na barriga e estão dispostos para trabalhar.

A felicidade deles será a minha. E todos os meus esforços serão poucos para os ajudar, como sinceramente desejo.

José Batista d’Ascenção

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Mais um início de aulas

 

O recomeço de cada ano lectivo é um factor que perturba a placidez do mês do calendário que mais aprecio: Setembro. Até ao primeiro contacto com os alunos, na sala de aulas, a ansiedade vai crescendo e só por essa altura se liberta. A partir daí, a tensão vai decrescendo até se situar num nível-base gerível que, com oscilações mais ou menos acentuadas, dura todo o ano. Tem sido sempre assim.

Quem e como serão os meus alunos, como é que eu vou estar, com que energias, com que disponibilidade física, e com que ânimo e capacidade de estímulo vou apresentar-me perante eles? São perguntas que me martelam o espírito por estes dias.

Penso, por outro lado, na angústia dos jovens e na expectativa que muitos terão relativamente ao reinício das aulas. Admito que as emoções próprias da idade, as relações entre eles e a influência e a dependência das condições familiares possam sobrepor-se, em muitos deles, às preocupações com o que deveriam aprender nas diversas disciplinas. É normal que assim seja. Mas sei que alguns, de si próprios e face à atenção e cuidado dos pais, se inquietam com o que vão ter que estudar e com as “notas” que precisam tirar. E, em número mais restrito, outros vivem “stressados” com a “vigilância” e exigência familiar relativamente àquilo que será o seu “rendimento”.

Não me pronuncio sobre as confusões da escola pública nos tempos que correm. Por agora é o combate de mim comigo sobre a melhor forma de ir ao encontro dos meus alunos. E o desejo renovado de que a realidade não arruíne as intenções. Estou a trabalhar para isso.

José Batista d’Ascenção