sábado, 26 de janeiro de 2019

Identidade de uma escola

No dia comemorativo do Agrupamento de Escolas Carlos Amarante, em 22 de Janeiro passado, foi apresentado um livro intitulado «Escola Secundária Carlos Amarante – 133 anos a desenhar o futuro». Porque queria lê-lo antes de fazer-lhe qualquer referência só agora o menciono. Resumo a minha apreciação à consideração de que é um trabalho digno, rigoroso, sentido, sóbrio e elegante. Nele trabalharam (muito) os professores Abílio Vitorino, Domingos Araújo, Eusébio Fertusinhos e José Augusto Aguiar (esta sequência de indicação dos autores limita-se à mera ordem alfabética dos nomes próprios pelos quais os tratamos). Todos eles estão de parabéns e merecem (o nosso) sincero agradecimento.
Ah!, sobre o conteúdo do livro? É diverso, pelo que pode interessar a pessoas muito diferentes, por motivos variados. Sobretudo (mas não apenas) aos que tiveram ou têm (ou podem vir a ter) alguma relação com a Escola Secundária Carlos Amarante. E, para esses, o melhor é lê-lo, no todo ou em parte, como preferirem. 

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Quanto pode o entusiasmo

Hoje foi um dia diferente na minha escola e nas que com ela formam o que chamam um mega-agrupamento. Vieram visitar-nos meninos de outras escolas, do nosso e de outros agrupamentos. E foi bom e interessante recebê-los e aos professores que os acompanharam.
Nos diferentes espaços com múltiplas actividades estavam os nossos alunos mais velhinhos, muito satisfeitos e sorridentes e disponíveis. Por perto, um ou outro professor da casa para transmitir confiança e resolver alguma dificuldade. Foi um gosto apreciar os alunos e os professores visitantes, muito interessados e curiosos no que havia para observar e experimentar e ver os jovens anfitriões aplicados na sua função, desempenhando-a com brio e eficácia.
Já ao fim da manhã, numa das salas, a professora que trazia uma das turmas dos mais pequeninos puxava um deles pelo braço porque, ao que dizia, já havia passado a hora marcada. E ele, retesando-se no sentido oposto, terminante, de olhar brilhante e afirmação clara: - ainda me falta ver uma coisa. Sorriu a mestra e acedeu. Logo o petiz correu para a bancada para realizar o que entendia que lhe faltava.
Deliciado, observei (julgo que) com discrição. Mas logo (por azar) havia de surgir-me certo pensamento menos gratificante: O que acontece anos depois a muitos destes meninos, para se desgostarem ou detestarem a escola? O que fazemos nós (pais, professores, formadores deles, estruturas hierárquicas ministeriais e outros…) que torna o ensino tão pouco estimulante e ineficaz para tantos alunos?
Uma certeza tenho: a «matéria-prima», particularmente nos seus estádios mais precoces, não está «adulterada». E nas etapas posteriores também não. Os jovens colaboradores de hoje, que assumiram o papel de professores, provam-no.
Daí que volte sempre a interrogação: - O que fizemos da escola? Uma pergunta que me persegue. Mesmo em dia de satisfação.
Deixo este pequenino apontamento. Por motivo específico, voltarei ao tema.
Um obrigado e parabéns a todos. 

José Batista d’Ascenção

PS: As fotos são o que são: a responsabilidade cabe inteira ao fotógrafo, que não o é.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

O círculo da quadratura na esfera da acção educativa

Imagem obtida aqui.
O que é um bom professor hoje? Alguém suporá que haja consensualidade na ideia do que é um professor competente? É aquele que sabe muito (mais do que os alunos) e (que os) ensina bem? É alguém que, mais do que ensinar, proporciona situações de aprendizagem que conduzem os alunos à descoberta do saber? É o que concebe e/ou acompanha projectos em que os alunos constroem o (seu próprio?) conhecimento? Ou quem fomenta a auto-aprendizagem de crianças e jovens, sem os contrariar e por quaisquer meios? O professor pode ser qualquer pessoa que (supostamente) domine «técnicas de ensino» ou é imprescindível que conheça largamente e a fundo as matérias que lhe compete leccionar? E os alunos podem aprender bem algo que não tenha definição enquanto conteúdo ou técnica ou procedimento? Ou, dado o volume de coisas que convém saber e a (aparente) facilidade de acesso ao conhecimento, é necessário que aprendam antes a «aprender a aprender»? E se esta última pergunta for válida, não é igualmente legítimo perguntar se devem aprender a “aprender a aprender”?…
Na era em que todas as respostas estão aparentemente à distância de um «clique», há quem advogue que os professores são dispensáveis. Se esta ideia fosse verdadeira, por motivos lógicos, as escolas, tal como as conhecemos, deviam ser encerradas.
Porém, até ver, mesmo em situações de desprestígio e descrédito da função docente e de desvalorização dos professores, como acontece em Portugal, ninguém propõe medida tão extrema.
Por outro lado, sabemos que há profundas desigualdades socioeconómicas e culturais entre os portugueses, que limitam sobremaneira as possibilidades de aprendizagem de muitas crianças (não esquecer que 20% dos portugueses são pobres e que abundam as condições de miséria, material e não só, que causam a desestruturação de muitas famílias). Porque é que os pedagogos não reclamam aos políticos a atenuação deste problema, que vem antes dos outros?
Naturalmente, se os resultados da aprendizagem são fracos, a formação e selecção de professores deve (devia) ser profundamente (re)pensada. Que (outros…) requisitos devem ser exigidos para aceder à profissão de professor? Qual é a qualidade exigida (ou que deve exigir-se) às entidades que formam professores e à preparação (formação, de raiz e contínua) que ministram? Qual é o grau de autonomia e de consequente responsabilização que deve ser atribuído ao professor? E qual é o papel e o estatuto dos técnicos que acompanham os alunos com problemas e limitações sérias de aprendizagem: devem ser professores especializados, que lhes ensinam o que eles estejam em condições de (poder) aprender, ou são mais uma fonte de exigência formal perante os professores, que não podem operar milagres, e uma peça do «puzzle» de artificialismo ilusório que faz (literalmente) de conta que muitos desses alunos aprendem o que consta dos currículos comuns?
À deriva num mar de incertezas, incapazes de definir balizas eficazes e de prevenir/resolver realmente os problemas, os decisores enveredam por mezinhas folclóricas que pretendem adoçar com estatísticas construídas a preceito. A chamada «flexibilidade curricular» vagueia nessa indefinição. As «aprendizagens essenciais», idem: veja-se o caso de «biologia e geologia» de 10º e 11º anos: há matérias dos programas que deixaram formalmente de ser «essenciais» e há um ou outro acrescento de matérias «essenciais» ao que estava definido nesses programas. Ora, o ministério solicita ao IAVE (Carta de Solicitação ao IAVE, I.P. n.º 1/2018, de 2 de novembro) e o IAVE aceita que o que sai no próximo exame nacional deve resultar da «intersecção dos documentos curriculares» (que são os velhos programas e as novas «aprendizagens essenciais»), pelo que, segundo o conceito matemático de «intersecção de dois conjuntos», o que é novo nas «aprendizagens essenciais» fica… excluído, o que pode parecer esquisito, mas que se justifica relativamente aos conteúdos de 10º ano leccionados o ano passado, antes da aplicação generalizada das «aprendizagens essenciais». Contudo, a «informação-prova» do IAVE contempla «temas/unidades a avaliar» em exame que não fazem parte das «aprendizagens essenciais» definidas pelo ministério. Em que ficamos? Dito de outro modo: permanecem dúvidas sobre os exactos conteúdos a testar em exame, dúvidas que não existiriam se tivessem sido elaborados programas novos com indicação clara dos conteúdos (actualizados) a ensinar (se este verbo ainda tem aplicação…), dispensando a angustiante necessidade de proceder à exegese de diversos e díspares documentos burocráticos.
Como se não bastasse, sobrepõe-se ao «nevoeiro» reinante o objectivo de produzir sucesso (quase pleno e quase obrigatório). Ainda que estatístico. O que acabaremos por alcançar.
Mas sem motivos de congratulação. Porque, embora previsível, não quadra. Jocosamente, há quem lhe chame o circo da quadradura.

José Batista d’Ascenção

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

A diversidade de seres vivos (biodiversidade) passada e presente em relação com os movimentos tectónicos que conduziram os continentes às suas posições actuais

O tema foi esta manhã tratado com alunos de décimo e de décimo primeiro ano, que encheram o auditório da Escola Secundária Carlos Amarante (ESCA), pelo Professor Jorge Paiva.
Em excelente forma, o Professor Paiva não parece contar 85 anos: pleno de energia, não se senta, cativa os jovens alunos, interliga magistralmente a geologia e a biologia, não perde o fio à meada, solicita muito eficazmente o auditório com belas imagens: grandes, apelativas, bem identificadas, relativamente aos locais e aos nomes científicos dos seres vivos que nelas constam, e datadas, e recorrendo sempre à sua vasta experiência temperada com humor pertinente não dispersivo.

Os professores que acompanham os alunos aprendem tanto como eles. Uns e outros ficam enriquecidos, satisfeitos e agradecidos. E pedem-lhe que venha mais vezes.

É um gosto poder aprender assim, porque não cansa e não (nos) custa (nada, em qualquer sentido do termo).

Um grande obrigado ao mestre que não desiste de nós.

Créditos fotográficos devidos à amabilidade e disponibilidade da D. Gracinda Cerqueira. A ela e ao Sr. M. Silva, este pelo apoio técnico, o nosso agradecimento.


José Batista d’Ascenção