domingo, 25 de setembro de 2016

Anos lectivos: três períodos ou dois semestres?

Em artigo publicado no jornal “Público” de 22 de Setembro, Filinto Lima reincide na ideia de que haveria vantagens em organizar os anos lectivos em dois semestres em vez dos três períodos como é desde sempre. As vantagens que refere derivam do facto de o terceiro período ser mais curto que os dois anteriores e, em alguns anos, quando a Páscoa é subida no calendário, se limitar a cinco ou seis semanas de aulas. Mas, uma tal organização do ano lectivo teria também inconvenientes. Desde logo, o primeiro momento formal de avaliação far-se-ia mais tarde, quatro e meio a cinco meses depois do início das aulas. Ora, nos (muitos) casos em que é preciso dar conhecimento aos encarregados de educação das dificuldades dos alunos e desenvolver estratégias de remediação, fazê-lo a meio do ano tornaria as coisas mais difíceis para alunos, professores e pais, já que ia acentuar-se a tendência para a irremediabilidade das situações mais problemáticas.

No que respeita ao funcionamento das escolas, em vez de se insistir em modificações que a alguns parecem virtuosas, talvez não fosse má ideia debatê-las em profundidade e auscultar, de forma alargada, os intervenientes directos: alunos com mais de 16 anos, encarregados de educação e professores. Não faltam exemplos de decisões tomadas como se viessem trazer grandes melhorias, como foi, por exemplo, a alteração da duração das aulas de 50 para 90 minutos, e que se revelaram tão contraproducentes quanto duradoiras (mesmo dando às escolas a possibilidade de alterar a duração do tempo lectivo, as distribuições curriculares e os hábitos instalados impedem, na prática, que se anule o erro cometido, de que, como é costume, não se conhecem os responsáveis). Essa medida, como tantas outras, também foi tomada sem que os intervenientes fossem tidos ou achados.

Preferível era que os directores das escolas se empenhassem no sentido de diminuir os tempos extra-lectivos a que os professores estão acorrentados nas escolas sem condições para fazer trabalho útil, ou as múltiplas comissões para funções esdrúxulas, assim como diversíssimas reuniões em que se discutem burocracias ridículas, que moem os professores e lhes retiram a energia de que tanto necessitam para preparar e dar as aulas, acompanhar alunos e elaborar e corrigir os elementos de avaliação. 

José Batista d’Ascenção

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Libertar os professores de tarefas que não sejam ensinar

…”há que libertar os professores de, praticamente, todas as tarefas que não sejam as de ensinar.”
A frase é do Professor Galopim de Carvalho e está publicada em sítios como este e este.

Se quiséssemos que a Escola funcionasse e que os alunos aprendessem, aquela condição devia ser fundamental. Mas, na realidade, não é. Nem pouco mais ou menos. Nem se vê como possa vir a sê-lo.
Certo que as nossas condições sócio-psico-culturais são as que são e não são um bom ponto de partida. Quantos portugueses têm o hábito (leia-se “gosto”) de ler? Quantos poderiam ler correctamente, se momentaneamente o desejassem? Quantos podem fomentar a aprendizagem escolar dos filhos com a sua própria sabedoria, disponibilidade e riqueza cultural? Quantos meninos e jovens portugueses terão visitado um museu levados pelos seus pais? E quantos museus portugueses têm algum tipo de atenção a uma possível visita de crianças?...
Das condições materiais de tantas famílias, nem vale a pena falar…
O que podem as escolas e os professores fazer? Deviam poder muito. É sua obrigação fazerem muito. Mas é preciso dar-lhes algumas condições. Seguem-se alguns exemplos.
Os programas curriculares devem ser elaborados por quem saiba profundamente as matérias a leccionar. E, se possível, por quem tenha boa prática de ensino. Não deve ser o caso. Como exemplo, péssimo, aliás, pode-se referir o programa de biologia do 10º ano de escolaridade, que não tem qualquer lógica, nem sequência nem articulação. Mais parece ter sido feito para impedir que os alunos aprendam e que os professores consigam ensiná-los. E vigora há uma dúzia de anos. Porém, os professores nem reclamam muito (nada, a bem dizer), porquanto, muitos deles são de opinião que, sempre que os programas são mexidos, consegue-se sempre que fiquem (ainda) piores do que estavam.
A formação dos professores devia ser muito rigorosa, na sequência de exigente selecção de quem pode aceder à profissão e partindo de uma sólida preparação científica nos bancos das universidades. Depois é preciso actualização e aprofundamento ao longo de toda a vida profissional dos docentes. E essa formação só devia poder ser ministrada por quem reunisse indiscutível credibilidade científica e pedagógica, sendo que a segunda não pode existir sem a primeira. Ora, a chamada formação contínua dos professores está muito longe de os tornar melhores profissionais, porque em grande parte é um pró-forma, de que não poucos se vão afastando, agora que a progressão na carreira é uma miragem e acumular diplomas inúteis não desperta interesse. Não se pense que o que fica dito é exagero. No final do ano lectivo passado, alguns “centros de formação” mandaram que se fizesse um levantamento de necessidades junto dos professores, e houve os que, na área da biologia e da geologia, em meados de Junho, pediram formação em temas especificos como: Dinâmica das membranas biológicas e transportes transmembranares (aprofundamento e atualização); Evolução por simbiose: aparecimento da respiração e da fotossíntese na célula procariótica e na célula eucariótica; Aspectos novos da replicação do DNA, transcrição, processamento e síntese proteica; papel do RNA de transferência; chips de DNA; Engenharia genética; Práticas de micropropagação; Sismologia; Metamorfismo - recristalização, classificação de amostras de rochas; Cristalização de magmas; Tectónica de placas. 
Um mês depois chegava o plano de formação aprovado para o biénio 2016-2018 e, dos temas pedidos, consta(va)m dele… nenhuns.
Passou o Verão e em meados de Setembro começaram as aulas. Eis que chegou então, do (mesmo) centro de formação “o mapa síntese das temáticas/ações que constam dos Planos de Ação Estratégica dos Agrupamentos/Escolas associadas para o biénio 2016/2018”…, acerca dos quais, a primeira coisa que se pede é que “verifiquem, (…), se relativamente à vossa Escola/Agrupamento a síntese anexa está correta”;
Ora, como há professores que não desistem do que lhes parece necessário para poderem trabalhar melhor, logo alguém respondeu a quem reencaminhara aquela mensagem do seguinte modo:
“Que pena, os professores não poderem ter a formação que precisam efectivamente, nem ser dada nenhuma explicação sobre o facto... E pensar que os centros de formação deviam servir para isso...”
O que mereceu pronto esclarecimento, pela mesma via:
…“este não é o plano de formação do agrupamento mas o de ação estratégica que não é bem a mesma coisa mas simplesmente o que neste momento (de política de educação) tem prioridade.”
A que o recalcitrante (ainda) respondeu:
“Pois, de acção estratégica, chamam-lhe, e a dificuldade é perceber que acção estratégica será, se não vai ao encontro das reais necessidades (ia a escrever prioridades...) dos professores”…

E é desta forma que habitualmente (não) “resolvemos” os nossos problemas. Porque se insiste no “método”?

José Batista d’Ascenção

sábado, 17 de setembro de 2016

Medalha de prata nas olimpíadas ibero-americanas de biologia


Para a Maria Soares Marques Figueiredo Portela, aluna da Escola Secundária Carlos Amarante (ESCA), que fazia parte da turma K do 11º ano da ESCA, o ano lectivo passado, quando ficou em primeiro lugar a nível nacional, mesmo concorrendo com os alunos que frequentavam o 12º ano. A Maria Portela continua a frequentar a ESCA este ano lectivo, no 12º ano. No 10º ano, a Maria Portela também era aluna da ESCA, claro.

É formidável! Um contentamento desmedido e saborosamente doce e único!

Muitos parabéns à Maria Soares Marques Figueiredo Portela!
E obrigado à Maria Soares Marques Figueiredo Portela!

Parabéns também aos pais (e familiares e amigos) da Maria Soares Marques de Figueiredo Portela!
E obrigado aos pais da Maria Portela, por educarem uma menina assim e por a terem matriculado na ESCA.

Parabéns à ESCA, por acolher, acarinhar, estimular e acompanhar alunos como a Maria Portela e como quaisquer alunos (do ensino profissional, alunos surdos, alunos cegos, alunos com outras deficiências, alunos com grandes carências económicas e todos os que não cabem nestas categorias, nem nós queremos “categorizar”…)

Parabéns (e obrigado) à Direcção da ESCA por dirigir uma Escola de Liberdade, onde não se esquece que uma Escola Secundária digna do nome tem que ensinar (repita-se: ensinar) bem os seus alunos.

Parabéns (e obrigado) à professora de biologia da Maria Portela, que a estimulou a participar e valoriza imenso o mérito da aluna.

Parabéns (e obrigado) à professora coordenadora das olimpíadas da biologia da ESCA, que tanto se aplicou para que tantos alunos tivessem participado com mérito nas diversas eliminatórias, em que mais uma aluna da ESCA, a Patrícia Santos Araújo, que frequentava a turma F do 12º ano, se classificou entre os dez primeiros na final nacional das olimpíadas da biologia.
Um obrigado à Patrícia Araújo e desejos das maiores felicidades para a sua vida académica, agora na universidade.

Obrigado a todos os alunos da ESCA que quiseram participar nas diversas eliminatórias das últimas olimpíadas da biologia, e que o fizeram com dignidade.

E para não tornar este texto insuportável, que a Maria Portela não merece (e nós também não), refira-se apenas que ela devia ter ido representar Portugal nas olimpíadas internacionais (ao Vietnam), no final do ano lectivo, tendo-se optado por que participasse antes nas olimpíadas ibero-americanas, por sugestão dela mesma perante a insistência da Ordem dos Biólogos, dada a impossibilidade de agenda da Maria Portela, nessa data.

José Batista d'Ascenção

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Exigência de certa proficiência na escrita da nossa Língua a professores e técnicos do Ministério da Educação

Por Francisco José Viegas, aqui:

«Pede-se que os técnicos superiores do Ministério da Educação escrevam com uma – digamos – clareza meridiana, compreensível, e demonstrando que uma frase deve ter, pelo menos, sujeito, predicado, complemento direto e algum juízo.»

«Texto em que o mais alto técnico do ministério lavrou o seguinte, relativo ao novo programa de educação de adultos: “Este programa deverá assentar numa maior integração das respostas na perspectiva de quem se dirige ao sistema, tornando, na óptica do formando, coerente e unificada a rede e o portefólio dos percursos formativos, que no percurso individual devem ser passíveis de combinação personalizada.”» 

E entre uma e outra das citações anteriores:

«No Código Penal ainda não estão previstos castigos para os pataratas das várias novilínguas tecnocráticas que se exercitam a escrever inanidades que outros analfabetos depois repetem, rolando a esclerótica.»

Não sendo viável o procedimento penal, que não doam as mãos a Francisco José Viegas.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Pessoas que adoçam o mundo

A D. Emília

A D. Emília limpa e arruma salas de aula, dá apoio na cozinha da cantina e serve (ia escrever “atende” mas optei por “serve”) no bar dos professores da Escola Secundária Carlos Amarante (ESCA).

Nas suas várias tarefas, que começam cedo em cada dia, a D. Emília apresenta-se sempre com um sorriso e é com imensa simpatia, doçura e delicadeza que trata toda a gente. Não se sabe de quem, na escola, não goste da D. Emília. Por graça, dizemos dela que é como se tivesse quatro braços (e desembaraçados): ao primeiro intervalo da manhã, os professores precipitam-se esfaimados para o bar e uns querem o café curto, outros cheio, outros “normal” - somos muito pormenorizados, os “clientes” da D. Emília -, outros é chá que bebem, ou chá com leite, ou leite com café ou leite “pingado” ou só leite…; o pão é nuns casos com manteiga, noutros com queijo, torrado para este, pouco aquecido para aquele, simplesmente pão para um terceiro, etc. etc. Não se baralha, não se esquece de cada um no meio do aglomerado insofrido e serve todos a gosto e com gosto. Não recebe um pagamento que não dirija um obrigado à pessoa saciada, a quem dispensa um olhar e um sorriso. É assim até que, findo o intervalo, depois do toque de (re)entrada, a turbamulta começa a deslizar pelos corredores, rumo às salas de aula, escoando-se e esvaziando o espaço. Então aproveita para, diligentemente, lavar a montanha de loiça suja que em poucos minutos se acumulou e preparar o balcão e as mesas para a razia do intervalo seguinte. Ao mesmo tempo serve e conversa suave e agradavelmente com quem, tendo “furo”, se dirige ao bar.

Há quem, brincando, diga que, se fugir de casa, o procurem no bar da sala de professores. Vozes extremas chegam a afirmar que é (para elas) mais importante a D. Emília do que o Ministério da Educação inteiro…

A D. Teresinha colabora com a D. Emília no bar e é uma boa parceira e muito boa atendedora: estão as duas muito bem ali, naquela função, pese embora o cansaço que não podem deixar de sentir, mas que disfarçam na perfeição. São uma dupla consoladora e reconfortante para os professores.

Mas a D. Emília não se limita às suas tarefas específicas. Se vem alguém à escola (um conferencista, um antigo professor ou outro visitante) e é preciso compor um centro de flores, a D. Emília não só o faz com gosto, como o faz muito bem. Se alguém faz anos e lhe solicitam a colaboração para arranjar um miminho, a D. Emília aplica-se, serena, discreta, mas com inteira eficácia. Se se organiza um passeio com lanche, lá está a D. Emília como saboroso pronto-socorro. Nada se lhe pede a que não mostre a melhor boa vontade. Trabalha há muitos anos na ESCA, já o seu pai trabalhava, e, entre os professores que a conheceram e já se aposentaram e os que chegam de novo à escola em cada ano, não se conhece um que não confirme as impressões que neste texto se alinham.

A ESCA tem falta de funcionários - não tem havido admissões por cada um que atingiu a aposentação ou que a morte nos roubou -, mas os que se mantêm ao serviço são muito bons profissionais. Este texto é dedicado à D. Emília, não excluindo nenhum dos outros no apreço e carinho que os professores lhes dedicam e a quem são muito gratos.

Mais uma vez: Obrigado, à D. Emília e, por extensão, a todos os funcionários da ESCA.

José Batista d’Ascenção

sábado, 10 de setembro de 2016

É tempo

Neste início, parece boa a divisa
Que estabelece que querer é poder
Válida apenas se cada um se aplicar
Vontade, curiosidade, pesquisa
Efectivas, pois não vale disfarçar
Disponibilidade, cooperação
Algum raciocínio e um módico d’atenção
Aumentam imenso o gosto de aprender

E assim se vai consolidando… o saber!

José Batista d’Ascenção

Adenda: não querendo o autor ofender a sensibilidade dos poetas, esclarece que o texto é apenas uma mensagem difícil e dura que, para maior suavidade, imita a forma de um poema.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

A propósito da abertura do ano lectivo. Texto do Professor Galopim de Carvalho

GEOLOGIA E O NOVO ANO LECTIVO

Prestes a começar o novo ano lectivo, verifico com apreensão que os novos programas referentes aos 10º, 11º e 12º anos da disciplina “METAS CURRICULARES DE GEOLOGIA - Curso científico-humanístico de Ciências e Tecnologias”, cujas linhas gerais estão delineadas e que conheço no pormenor, elaborados por uma equipa a que, de facto, reconheço competência científica e pedagógica, continuam amordaçados, algures numa gaveta do Ministério…

Imenso e tido por inabarcável, ao tempo dos descobrimentos marítimos, o nosso Planeta é hoje assustadoramente pequeno face ao crescimento exponencial da população, além de que começa a dar preocupantes sinais de esgotamento e agressão já evidentes, em especial, na poluição do ar que respiramos, da água que bebemos e dos solos onde, é bom não esquecer, radica a maior parte da cadeia alimentar que nos sustenta. Sendo a geologia uma disciplina científica que, entre outros aspectos fundamentais à sociedade, nos fornece o essencial dos conhecimentos necessários ao conhecimento e à defesa do ambiente natural, é fulcral atribuir-lhe, ao nível da Escola, a importância que, realmente, tem.
Da exploração racional dos recursos geológicos, mineiros e energéticos, todos eles não renováveis (e são tantos) e das águas subterrâneas à protecção do ambiente e à prevenção de catástrofes naturais, a geologia faculta-nos os conhecimentos indispensáveis. À desenfreada procura de lucro de uns poucos, tem de opor-se a necessária cultura científica por parte do comum dos cidadãos. E a Escola tem, forçosamente, que fornecer essa cultura em articulação harmoniosa e inteligente com os saberes de outras disciplinas. Não o “molho” de definições que (salvo honrosas excepções) tem sido a sua praxis.

Quem, a nível político, tem decidido sobre o maior ou menor interesse das matérias curriculares referentes à disciplina de Geologia mostrou desconhecer a real importância deste domínio do científico como motor de desenvolvimento e bem-estar, mas também como componente da formação cultural dos portugueses. Mostrou, ainda, incapacidade pedagógica em transmitir aos alunos a beleza e o fascínio das matérias que nos revelam a história deste “planeta azul” que nos deu berço e nos assegura a vida.

Já o escrevi em blogues e noutros meios de comunicação, já o disse de viva voz ao anterior ministro da Educação, já o comuniquei por escrito ao actual (que continua sem responder), já explanei por palavras ditas, por onde quer que sou convidado a falar, e insisto em afirmar que, no panorama das nossas escolas, e com as sempre necessárias e honrosas excepções, esta disciplina limita-se a um conjunto de matérias desarticuladas e desinseridas de um contexto unificador, tidas por desinteressantes e, até, fastidiosas. Todos sabemos que há professores mal habilitados que as debitam sem entusiasmo, por dever de ofício. Há, ainda, os que, sem capacidade crítica, seguem o estereotipado e igualmente acrítico manual adoptado, que o aluno decora por obrigação de um programa falho de mérito, e que lança no caixote do esquecimento, passado que foi o exame final. O que, no presente, o professor é convidado ou obrigado a fazer (salvo as honrosas excepções que é necessário ressalvar) é preparar o aluno para acertar nas perguntas que lhes irão ser apresentadas no exame. E do acertar ou não nessas, por vezes, armadilhas em forma de charadas depende a sua aprovação numa disciplina que em nada contribuiu para o seu enriquecimento intelectual. 

Tem sido este o quadro nas nossas escolas, onde a Geologia sempre foi subalternizada. Foi este o quadro em que cresceram e se formaram a imensa maioria das mulheres e dos homens que hoje temos na política, na administração, nas empresas, na cultura, na comunicação social, no cidadão comum.

É preciso e urgente olhar para esta realidade do nosso ensino. É preciso e urgente que o actual ministro reactive a equipa que trabalhou nos últimos dois anos no estabelecimento das linhas gerais do programa no sentido de finalizar no mais curto espaço de tempo os novo curricula.
Afigura-se-me como necessária uma profunda revisão de tudo o que se relacione com o ensino desta área curricular, a começar nos programas, passando pelos livros e outros manuais adoptados, pela formulação dos questionários nos chamados pontos de exame, sem esquecer a necessária e conveniente formação dos respectivos professores.
Sempre disse e insisto em dizer que o professor deve saber muitíssimo mais do que os alunos a quem se dirige. Não pode, de maneira nenhuma, ser um mero transmissor das noções, tantas vezes, torno a dizer, estereotipadas, acríticas e, por vezes, incorrectas de alguns manuais de ensino.

Sendo certo que a capacidade de intervenção de cada indivíduo, como elemento consciente da Sociedade, está na razão directa das suas convenientes informação e formação científicas, importa, pois, incrementá-las. E incrementá-las é facultar-lhe correctamente o acesso aos conhecimentos que, constantemente, a ciência nos revela.

Galopim de Carvalho

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

A Escola: Raios-X + TAC + Ressonância. E um murro no estômago.

Por Joaquim Azevedo, no jornal "Público" de hoje, pág. 45 da versão impressa.

«As escolas públicas rejeitam alunos.
(...)
É uma prática generalizada e grave, muito grave.
(...)
Muitos (...) adolescentes arrastam nas suas costas rejeições sistemáticas de matrículas em escolas públicas e, em alguns casos, rejeições repetidas por várias escolas, num mesmo ano lectivo.
(...)
Porquê [sic] que isto acontece (...)? , Por muitas razões. Entre elas, porque boa parte das escolas (...) quer limpar a sua face e faz tudo o que a lei consente para ficar bem na fotografia, para se desembaraçar dos "feios, porcos e maus": (...)
(...)
O problema é muito grave e já o seria se envolvesse um só aluno (...). Depois, é grave porque está a criar dois tipos de escolas públicas. De um lado, as (...) que rejeitam este tipo de alunos, (...) as escolas públicas limpas, do outro, as escolas que os aceitam porque, situadas em "bairros sociais problemáticos", estão a ficar sem alunos, na sequência da debandada (...) da "classe média", que apreende bem este movimento e retira [delas] os seus filhos para escolas mais limpas.
(...)
Além disto, há uma rejeição de alunos, mais sistemática, por parte das escolas públicas, com base nas classificações e outros motivos burocráticos (...), para afastar os "indesejados", pois podem estragar o perfil da escola e das turmas.
(...)
Não me resigno. O que assim é, pode ser bem diferente.»

Para não desviar a atenção das perguntas de Joaquim Azevedo com outras da mesma agudeza ou comentários "justificativos", opto pelo silêncio atento, com a devida vénia e agradecimento.

Apenas não resisto a uma pergunta ao próprio jornal "Público": o que se ganhou com a publicação entusiástica de "rankings" que estigmatizaram a escola pública e promoveram a escola privada, aumentando as suas condições de negócio e potenciando a segregação dos deserdados da sorte?

José Batista d'Ascenção

Adenda: o título que encima as transcrições do artigo de Joaquim Azevedo não é da sua autoria.