A D. Emília
A D. Emília limpa e arruma salas de aula, dá apoio na cozinha da cantina e serve (ia escrever “atende” mas optei por “serve”) no bar dos professores da Escola Secundária Carlos Amarante (ESCA).
Nas suas várias tarefas, que começam cedo em cada dia, a D. Emília apresenta-se sempre com um sorriso e é com imensa simpatia, doçura e delicadeza que trata toda a gente. Não se sabe de quem, na escola, não goste da D. Emília. Por graça, dizemos dela que é como se tivesse quatro braços (e desembaraçados): ao primeiro intervalo da manhã, os professores precipitam-se esfaimados para o bar e uns querem o café curto, outros cheio, outros “normal” - somos muito pormenorizados, os “clientes” da D. Emília -, outros é chá que bebem, ou chá com leite, ou leite com café ou leite “pingado” ou só leite…; o pão é nuns casos com manteiga, noutros com queijo, torrado para este, pouco aquecido para aquele, simplesmente pão para um terceiro, etc. etc. Não se baralha, não se esquece de cada um no meio do aglomerado insofrido e serve todos a gosto e com gosto. Não recebe um pagamento que não dirija um obrigado à pessoa saciada, a quem dispensa um olhar e um sorriso. É assim até que, findo o intervalo, depois do toque de (re)entrada, a turbamulta começa a deslizar pelos corredores, rumo às salas de aula, escoando-se e esvaziando o espaço. Então aproveita para, diligentemente, lavar a montanha de loiça suja que em poucos minutos se acumulou e preparar o balcão e as mesas para a razia do intervalo seguinte. Ao mesmo tempo serve e conversa suave e agradavelmente com quem, tendo “furo”, se dirige ao bar.
Há quem, brincando, diga que, se fugir de casa, o procurem no bar da sala de professores. Vozes extremas chegam a afirmar que é (para elas) mais importante a D. Emília do que o Ministério da Educação inteiro…
A D. Teresinha colabora com a D. Emília no bar e é uma boa parceira e muito boa atendedora: estão as duas muito bem ali, naquela função, pese embora o cansaço que não podem deixar de sentir, mas que disfarçam na perfeição. São uma dupla consoladora e reconfortante para os professores.
Mas a D. Emília não se limita às suas tarefas específicas. Se vem alguém à escola (um conferencista, um antigo professor ou outro visitante) e é preciso compor um centro de flores, a D. Emília não só o faz com gosto, como o faz muito bem. Se alguém faz anos e lhe solicitam a colaboração para arranjar um miminho, a D. Emília aplica-se, serena, discreta, mas com inteira eficácia. Se se organiza um passeio com lanche, lá está a D. Emília como saboroso pronto-socorro. Nada se lhe pede a que não mostre a melhor boa vontade. Trabalha há muitos anos na ESCA, já o seu pai trabalhava, e, entre os professores que a conheceram e já se aposentaram e os que chegam de novo à escola em cada ano, não se conhece um que não confirme as impressões que neste texto se alinham.
A ESCA tem falta de funcionários - não tem havido admissões por cada um que atingiu a aposentação ou que a morte nos roubou -, mas os que se mantêm ao serviço são muito bons profissionais. Este texto é dedicado à D. Emília, não excluindo nenhum dos outros no apreço e carinho que os professores lhes dedicam e a quem são muito gratos.
Mais uma vez: Obrigado, à D. Emília e, por extensão, a todos os funcionários da ESCA.
José Batista d’Ascenção
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