sexta-feira, 22 de setembro de 2023

As primeiras aulas deste ano lectivo correram-me bem

Cada recomeço, em cada Setembro, provoca em mim uma espécie de nervoso miudinho que não melhora com a idade. Não sei se pode ser útil (a alguém) confessá-lo, mas tenho a certeza que não é crime admiti-lo.

Gostei dos alunos e dentro em pouco entusiasmei-me. Terei sido muito palavroso (?) e não dei pelo tempo (longa hora e meia seguida de cada vez!) até escassos minutos antes do termo. Então convidei-os gratamente a descansar até à exacta hora de saída.

Este meu sentimento não se correlaciona com certas noções avançadas de aulas, que não partilho: muita excitação, às vezes balbúrdia, eventualmente com os alunos agrupados a fazer pouco e desordenadamente, ou, ao contrário, individualmente presos aos jogos em que disputam pontos para vencerem outros, seus adversários (chamam-lhe «gamificação» e há quem afirme que favorece a aprendizagem…). São os tempos.

A arte da pedagogia (que não considero uma ciência) para mim é outra: e tem que tocar os alunos, fazer-lhes vibrar as cordas do interesse e causar brilho nos olhos. Por isso, a maior parte das aulas (falo das minhas, naturalmente) causa-me dor.

A luta que me anima não é para conseguir claques de exibicionistas (as «evidências», diz-se), mas para conquistar almas. E isso é muito difícil. Cada vez mais difícil.

Mas não é impossível, às vezes acontece, tornando-se um bálsamo para todas as frustrações.

Gostava de estar à altura do que os meus alunos precisam e merecem, até porque alguns deles são maravilhosos, segundo informação recebida. Farei o possível.

Fica escrito. 

José Batista d’Ascenção

domingo, 17 de setembro de 2023

Dr Paiva – 90 anos. Uma vida dedicada à ciência, ao mundo das plantas e à luta cívica.

Hoje, no suplemento P2 do jornal «Público»

«Sou cientificamente realizado e civicamente desiludido.

Fiz mais de 2500 palestras [a maior parte delas em escolas básicas e secundárias]. Verifiquei que os alunos na escola gostavam muito de ouvir o que tinha para dizer e ficavam alertados para o que estava a acontecer. Escrevi muitos artigos de opinião. Mas depois os alunos são tão massacrados com propaganda consumista que, quando chegam à universidade, a maioria esquece-se. E, quando vão para as suas profissões, esqueceram-se. E, quando chegam a políticos, não fazem absolutamente nada. Estamos neste estado de desgraça das alterações climáticas. Há mais de 50 anos que estamos a falar nas alterações climáticas e que é preciso actuar. Os senhores políticos reúnem-se internacionalmente, em vários sítios, e promulgam acordos que nunca cumpriram. Nunca cumpriram nenhum acordo! Sempre pensei que o estado que estamos a atingir — pessoas a morrer queimadas [por tanto calor e incêndios] — ainda não seria na minha vida. É uma desilusão muito grande. Vai ser muito pior, porque os políticos continuam a não fazer nada.»

É a realidade, Bom Mestre. E, por questões intrínsecas e perante essa realidade, a escola falha. O pior é que grande parte dos “teóricos da educação” e dos políticos que mandam na escola que temos parecem igualmente refractários à assunção dos factos e… da responsabilidade.

Mas há sempre quem não vá na onda. E os bons exemplos, ainda que a custo, (também) contam.

Muitos parabéns. E um grandíssimo obrigado.

José Batista d’Ascenção

sábado, 9 de setembro de 2023

«Quando se tiram os livros da escola»

Por José Pacheco Pereira, no jornal «Público» de hoje

[…] «O deslumbramento é hoje mais grave quando se tiram os livros da escola, se reduz a leitura a textos jornalísticos, se permitem telemóveis nas salas de aula onde é muito difícil perceber a sua utilidade a não ser como distracção, e se está a reduzir o vocabulário circulante a cada vez menos palavras. Pensam que é possível ler Eça de Queirós sem saber nada da mitologia grega ou das histórias da Bíblia? Na verdade, seria melhor tirá-lo das leituras, ou escrever apenas com o número de caracteres do Twitter, agora X. O resultado é que se está a tirar poder às pessoas. Quem o faz? O Ministério da Educação, os pais, os directores das escolas e alguns professores, todos eles na sua maioria já “formados” nestes deslumbramentos e medos.» […]

Provavelmente, poucos vão ler e desses poucos concordarão.

O que é pena.

Grato a Pacheco Pereira.

José Batista d’Ascenção