domingo, 20 de junho de 2021

Melhorar o funcionamento das escolas e ocupar os alunos em tempo de férias

Menos produtivas do que deviam, pelas razões conhecidas, as aulas chegaram ao fim ou estão prestes a terminar. Exceptuando os alunos que vão fazer (alguns) exames, para a maior parte (e mesmo para esses) aproxima-se um longo período de férias. São as férias grandes, que muitas opiniões consideram demasiado grandes. E são. Mas, alargar o calendário de aulas, face às nossas condições climatéricas e ao modo como nos organizamos, não seria muito avisado.

Para os jovens e para as famílias é um problema. Minorá-lo devia fazer parte das preocupações do Ministério da Educação. Como o ensino público não sabe bem o que quer (a despeito da formulação de boas intenções e da enunciação nítida de princípios básicos que consta de alguns documentos legais), muito por causa do vasto entulho “filosófico-discursivo” de leigos e especialistas, seria ideal que, gozando de verdadeira autonomia, cada escola e cada comunidade educativa pudessem aclarar (em linguagem simples, exacta e sucinta) as suas metodologias preferenciais e preferidas, de modo a facultar a encarregados de educação e a alunos do ensino secundário as opções pretendidas entre escolas e currículos. A amálgama em que funcionamos tem o efeito prático de uma roleta (não isenta de vício) que frustra muitos e dá prazer a (relativamente) poucos (normalmente os que podem). Ou seja: a escola frequentemente desagrada e repele, em vez de atrair.

Por outro lado, os estabelecimentos de ensino, mais do que matraquear burocracia, deviam disponibilizar os seus espaços e instalações nos períodos não lectivos para diversas actividades ou projectos não dependentes dos docentes, como os dos Centros Ciência Viva e de outras organizações (culturais, desportivas, de lazer, de saúde, de ecologia, de solidariedade…) capazes de ocuparem as crianças e os jovens em experiências estimulantes e formativas.

Esperar que os professores, enquanto professores, substituam os pais (que muitos deles também são) é que não é possível. Nem desejável.

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 15 de junho de 2021

Acerca da duração do ano lectivo em Portugal

Existe no nosso país a ideia de que são poucos os dias de aulas de cada ano lectivo (e de que os professores trabalham, vulgarmente, pouco). Não é por acaso. Se é razoável e justo é outra matéria.

O número de aulas por dia e por semana, visto na perspectiva dos alunos não parece pouco nem pequeno. Na minha também não. E é de todo improdutivo que crianças e jovens entrem às 08.20 h da manhã e acabem às 13.20 h. Ou que iniciem uma tarde de aulas às 13.30 h e a terminem às 18.30 h. Fora os dias em que têm aulas de manhã e de tarde. Creio que em poucas profissões de adultos (legalmente reguladas) se trabalha(rá) num tal regime, no país.

Carga horária total em horas da escolaridade obrigatória. (*)
Como obter rendimento, então?

Um dos motivos (reais) por que se quer alargar o calendário de aulas prende-se com a necessidade que os pais sentem de que alguém se ocupe dos seus filhos. É compreensível. Mas, exigir dos professores aquilo para que eles não servem e não reclamar a disponibilidade das instalações escolares para o que muito bem poderiam servir, para além das aulas, é uma pena: porque perdem todos.

Habitualmente, recorre-se à comparação com o que se passa noutros países situados (mais) a Norte… Contudo, não se atenta em que, quando a temperatura se eleva a 35ºC ou mais, não é simplesmente possível que 28 alunos e o professor encafuados numa sala de aulas, que computador e projector ligados aquecem ainda mais, realizem qualquer trabalho útil. E, nas escolas que têm algum sistema de ar forçado, se o mesmo fosse ligado, não havia capacidade financeira para pagar a conta de energia no final do mês, descontando eventuais crises de alergias e outros problemas respiratórios em não poucos casos…

Impressiona, por isso, que não se tomem em conta “pormaiores” tão básicos quando se reclama o que parece linear, mas que é inviável. E que seria facilmente resolvível com outra organização e outros objectivos.

Tanto mais que o trabalho voluntário dignifica qualquer um.

José Batista d’Ascenção

(*) Inhttps://www.ffms.pt/FileDownload/34bcf694-4883-41ee-ad4b-6a77786c0c29/os-tempos-na-escola (pg. 25/75 ou 29 na numeração do documento)

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Planos de recuperação de aprendizagens - quantos?

Este ano lectivo e o anterior foram muito perturbados pela interrupção das aulas presenciais e pela ilusão da eficácia do ensino à distância.

Nas disciplinas de biologia e geologia (do ensino secundário), a componente laboratorial, mesmo com as insuficiências habituais, ficou comprometida em prejuízo dos alunos.

Assim mesmo, a perda destas e de outras aprendizagens tem consequências dramáticas? Em minha opinião, não.

Pior do que as falhas havidas, que são reais, são os problemas estruturais crónicos e endémicos do sistema de ensino, que vamos camuflando com remendos sobre remendos e compondo com estatísticas de trazer por casa, quais “cancros” tratados com improvisos e mezinhas de eficiência nula. Tantos são, e entre eles:

- programas mal concebidos, já desactualizados antes ainda de entrarem em vigor, há duas décadas ou quase. Como o de 10ºano, na parte de biologia. Não se percebe porque é que ninguém quer mexer naquela relíquia…;

- a falta de prioridade a conteúdos lectivos determinantes para a compreensão do mundo, da vida e da história. Não são poucas as escolas em que tudo parece ser mais importante do que a aprendizagem que devia ter lugar nas salas de aula;

- o reconhecimento da imprescindibilidade de normas claras e universais de disciplina e de serenidade nas escolas;

- a sobrecarga de actividades burocráticas dos professores, cuja função devia (con)centrar-se nas tarefas de ensinar alunos (vejam-se as longas ordens de trabalhos das convocatórias dos conselhos de turma e a “língua de pau” dos extensos conteúdos das respectivas actas);

- as enchentes de «mails» das mais diversas proveniências (direcções, serviços do ministério, centros de formação, editoras, encarregados de educação; alunos, etc.), todos os dias úteis, sábados, domingos e feriados, a qualquer hora do dia ou da noite, como se os professores não tivessem mais que fazer;

- o descrédito das avaliações dos alunos, dos professores e do funcionamento das escolas;

- o vazio de conteúdo (e de orientações concretas e úteis) das «aprendizagens essenciais» em documentos distintos dos velhos programas, surgidas tarde e mal, quando, muito bem redigidas e articuladas,  deviam integrar programas novos;

- a concepção de exames para os quais o cumprimento estrito do programa (de biologia e geologia) não prepara(ria) convenientemente os alunos;

Etc.

Não precisamos de planos de recuperação sucessivos e sobrepostos, mais formais que funcionais. Bastariam condições mínimas que não esgotassem energias e recursos nem matassem o gosto de trabalhar.

José Batista d’Ascenção