Em artigo publicado no jornal “Público” de 22 de Setembro, Filinto Lima reincide na ideia de que haveria vantagens em organizar os anos lectivos em dois semestres em vez dos três períodos como é desde sempre. As vantagens que refere derivam do facto de o terceiro período ser mais curto que os dois anteriores e, em alguns anos, quando a Páscoa é subida no calendário, se limitar a cinco ou seis semanas de aulas. Mas, uma tal organização do ano lectivo teria também inconvenientes. Desde logo, o primeiro momento formal de avaliação far-se-ia mais tarde, quatro e meio a cinco meses depois do início das aulas. Ora, nos (muitos) casos em que é preciso dar conhecimento aos encarregados de educação das dificuldades dos alunos e desenvolver estratégias de remediação, fazê-lo a meio do ano tornaria as coisas mais difíceis para alunos, professores e pais, já que ia acentuar-se a tendência para a irremediabilidade das situações mais problemáticas.
No que respeita ao funcionamento das escolas, em vez de se insistir em modificações que a alguns parecem virtuosas, talvez não fosse má ideia debatê-las em profundidade e auscultar, de forma alargada, os intervenientes directos: alunos com mais de 16 anos, encarregados de educação e professores. Não faltam exemplos de decisões tomadas como se viessem trazer grandes melhorias, como foi, por exemplo, a alteração da duração das aulas de 50 para 90 minutos, e que se revelaram tão contraproducentes quanto duradoiras (mesmo dando às escolas a possibilidade de alterar a duração do tempo lectivo, as distribuições curriculares e os hábitos instalados impedem, na prática, que se anule o erro cometido, de que, como é costume, não se conhecem os responsáveis). Essa medida, como tantas outras, também foi tomada sem que os intervenientes fossem tidos ou achados.
Preferível era que os directores das escolas se empenhassem no sentido de diminuir os tempos extra-lectivos a que os professores estão acorrentados nas escolas sem condições para fazer trabalho útil, ou as múltiplas comissões para funções esdrúxulas, assim como diversíssimas reuniões em que se discutem burocracias ridículas, que moem os professores e lhes retiram a energia de que tanto necessitam para preparar e dar as aulas, acompanhar alunos e elaborar e corrigir os elementos de avaliação.
José Batista d’Ascenção
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