domingo, 12 de dezembro de 2021

E se os professores insistissem em que é fundamental ensinar os alunos?

 

Imagem adaptada, colhida aqui.
Este 1º período letivo optei por não me pronunciar sobre o que (vejo que) vai pelas escolas. Foi de propósito. Porque vou ficando velho, em consequência das reduções da componente lectiva, de acordo com o estipulado no «estatuto da carreira docente» (lei deturpadamente aplicada), voltei a ter alunos do ensino básico (7º ano de escolaridade), que não tinha desde o milénio passado…

E estão diferentes, os meninos. Como diferente está a escola: não propriamente melhor; e diferentes estão os professores: envelhecidos e, em larga medida, com a saúde e a capacidade profissional mais ou menos arruinadas.

As causas elencou-as com incisão o Professor Santana Castilho, em artigo no jornal «Público» de 08 de Dezembro, de modo compreensivelmente incompleto, como o próprio refere.

Como se constata, em Portugal todos sabem como se dá aulas, excepto os professores que as dão. E não faltam “teóricos” que, todos os anos, arranjam maneira de dar mais uns rombos na precária condição dos docentes ao invés de os ajudarem a dar boas aulas e a ensinar os alunos. Este ano surgiu mais uma «burlantinice» (o neologismo é meu) a que chamaram «Projeto Maia». Os pais da coisa e os discípulos que se esfalfam a promover a sua aplicação pelas escolas implicam com os testes escritos aplicados aos alunos e, vai daí, insistem em que é preciso diversificar os processos e estratégias de avaliação (o que é verdade), mas reduzindo muito o peso daqueles instrumentos na avaliação. Idealmente, talvez, de acordo com o que se vai propalando, até acabar com eles. Quando se aplicam, os testes devem contemplar diversos domínios, os quais, se mais ou menos definíveis numas disciplinas, são artificiais, aleatórios, sobreponíveis e inúteis ou inaplicáveis noutras. Enfim, uma salgalhada que se desdobra em extensas e desconformes grelhas de “excel”, de que deve resultar que os alunos obtenham uma notação positiva. Em muitos casos, há indicação clara de que o valor inferior da escala nem pode ser usado, mesmo que algum aluno não apareça nas aulas. Claro que ninguém antecipa o que possa vir a ser o desempenho dos alunos em exame nem nas participações nos programas internacionais como o PISA ou o TIMMS (excepto uns quantos professores, mas esses não contam, obviamente). E de que os professores serão então culpados. Esta metodologia, tida por justa e boa, engloba o secundário.

Quanto aos meus alunos mais pequeninos, lá está a doce ternura da pré-adolescência, mas também a matreirice e a tendência para a batota, que as crianças tão bem aprendem com o exemplo dos adultos. Tudo normal, por esse lado. Porém, o que mais (me) dói é que muitos, que são vivos e inteligentes, não sabem ler adequadamente e menos ainda conseguem alinhar coerentemente uma ideia em três linhas escritas.

Procurei, por outro lado, não descurar a necessária formação e actualização. Por isso, para além do “excel”, frequentei todas as lições que o Professor Galopim de Carvalho deu, à distância, aos sábados, das 18 às 19 horas, no mês de Outubro e Novembro, até ontem, e que vai continuar a partir do Ano Novo. Com os seus 90 anos, ele sim, ajuda efectivamente os professores. O Professor Jorge Paiva é outro com quem os docentes do ensino básico e secundário podem contar. Limitei-me a dois exemplos por serem os de mais idade, em registo de agradecimento e homenagem.

Feliz Natal.

José Batista d’Ascenção