As condições são agora outras. Em consonância com os desejos manifestos de alguns protagonistas do ministério da educação, quase não há silêncio nas aulas. Falta serenidade e audição atenta de quem devidamente intervém, seja professor ou aluno. E há muito quem aceite isto como se fosse desejável e formativo.
Na realidade, muitos meninos, mesmo (ou principalmente) aqueles a quem não falta materialmente nada, parece não distinguirem o espaço da aula dos corredores ou do recreio. E, não raro, dois ou três são capazes de se (com)portar tão impropriamente que perturbam dramaticamente a aprendizagem deles e dos restantes. Claro que é preciso interrogarmo-nos sobre se crianças de 12-13 anos devem cumprir, em cada dia, horas e horas encafuadas em salas repletas, a apanhar com conteúdos teóricos de 13 ou 14 disciplinas, mas isto mexe com outros interesses.
Daqui surge o problema da avaliação. É preciso apresentar sucesso. Não havendo, recai sobre o professor uma burocracia justificativa monstra, arrasadora das suas energias, sobretudo na situação comum em que a idade pesa. Para escapar ao «suplício» atribuem-se «notas» em que nem todos acreditam. Quem se desse ao trabalho de ler as actas das reuniões de avaliação, cada vez mais extensas, aperceber-se-ia de um nevoeiro discursivo intragável, tristemente revelador de realidades que se pretende esbater ou justificar. Será por causa disso que as direcções passaram a apostar na semestralidade, redutora do número de avaliações?
Como a escola pública é, e deve ser, para todos, ganharia eficiência e credibilidade, se:
- assumisse como requisitos fundamentais a boa educação e a disciplina nas aulas;
- exigisse dos professores e dos conselhos de turma rigor e a objectividade possível na ponderação e atribuição das classificações dos alunos;
- conferisse aos encarregados de educação a responsabilidade da decisão sobre a passagem ou retenção dos seus educandos, independentemente das “notas” conseguidas.
De contrário, a escola pública continuará a afundar-se em descrédito, impreparando crianças, destruindo professores e valorizando o (negócio do) ensino privado, o qual, orgulhando-se da sua qualidade pedagógica, até se pode dar ao luxo de escolher e de rejeitar alunos.
José Batista d’Ascenção