Há três décadas, pela “correcção” de cada prova de exame de 12º ano recebia-se um valor que era atractivo para muitos dos professores chamados à tarefa. Alguns tomavam a iniciativa de, na altura da entrega das provas “corrigidas” da primeira fase, se oferecerem para os mesmos serviços na segunda. Mais tarde, com o avolumar de dificuldades orçamentais, os professores perderam estatuto e remuneração, passando a ser obrigados a uma suposta formação para “correctores” de exames nacionais de uma estrutura com a sigla GAVE. E tal “distinção” acorrentou-os à realização da tarefa, para que passaram a ser “especializados”, tendo que executá-la de forma gratuita.
Consequência da acção dos “especialistas” em pedagogia do ministério da educação, sempre a atafulhar as escolas com a sua bizarra produção burocrática, fundada em crenças a que chamam ciência, as condições da leccionação não melhoraram, em contraste com os resultados formais da aprendizagem documentada nos registos, reforçados pela participação em testes internacionais, assente nalgum ilusionismo. Tanto que até um técnico da OCDE disse há não muitos meses que a educação em Portugal é um “rolls-royce”. Assim mesmo, como se todos nós fôssemos cegos.
Eu (também) fui um dos “correctores” de antanho, como sou dos de agora, e também recebi as formações do GAVE, sem nunca me ter proposto para qualquer das funções. Com o passar do tempo, fui reforçando a convicção do artificialismo e improvisação de todas elas e comecei a não me sentir bem na condição de funcionário involuntário do “funil” de ingresso no ensino superior. Alimentando uma ideia que se esfumava, procurava não perder o sonho de preparar alunos para que eles aprendessem os aspectos fundamentais dos programas. Posteriormente, desejava eu, os alunos haviam de prestar provas em exame (pois claro!) e, no caso dos que quisessem prosseguir estudos, as instituições a que se candidatassem que tratassem de os seleccionar pelo que soubessem, da forma que bem entendessem.
Em verdade, sempre defendi que a cada ciclo de estudos, a começar no final do ensino básico, se devem aplicar provas de exame, bem feitas: respeitadoras da aprendizagem dos alunos e do trabalho dos professores que os prepara(ra)m. E mais digo: nunca encontrei instrumentos mais adequados, nem mais rigorosos, nem mais fiáveis nem mais justos de testar alunos. Não medem tudo, nem têm que medir, medem o que podem, que não é pouco.
Bem sabemos que, no ministério da educação, os tais “especialistas” sabem que a escola pública entrou num caminho de degradação acelerada. E por isso se esforçam por esconder o fracasso, de que são grandemente responsáveis. A tentativa de eliminar os exames é apenas o expediente mais fácil. Embora inútil.
José Batista d’Ascenção