segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Ortografia e a dor de ser professor

Trata-se de alunos de 12º ano, para todos os efeitos, alunos pré-universitários. São simpáticos, meigos e educados, embora suponham que podem conversar continuamente durante as aulas e, claro, pensam também que copiar nos testes é um procedimento banal, não condenável. Professores como eu têm uma pedagogia esquisita na opinião deles, é convicção minha.

Terminei a correcção dos segundos testes deste primeiro período. Um aluno, que tirou 18,4 (a segunda melhor nota), escreveu «impocível», «cituação» e «projenitores». Um outro, que tirou 11, redigiu «triçomia» e «penagem» (em vez de plumagem). Para muitos, a construção frásica é cheia de aleijões. Poucos escrevem bem, admito que por influência principalmente dos pais e dos professores do ensino infantil, que deviam receber prémios.

Não se deduza que inflacionei as notas, que variam entre 4 e 19.

A escola chegou ao estado em que está e não pára por aqui, se os meus temores se confirmarem.

O que devo fazer: Emigrar? Organizar uma manifestação ruidosa nas escadas do parlamento? Injuriar alguém?

Ou, simplesmente, guardar segredo?

José Batista d’Ascenção

P.S.: A dor dos professores pode ter origens diversas. Há quase década e meia, o jornal «Público» publicou um texto meu sobre o tema. Talvez o afixe aqui, para se poder aquilatar da evolução do «estado da síndrome».