Sempre à procura, debrucei-me sobre o ensaio de Nuno Crato para a Fundação Manuel dos Santos, com o título que roubei para este texto.
Começa assim: …«temos obrigação de fornecer uma educação melhor aos nossos jovens. Mas estamos a falhar.» O autor contesta «a ideia de que o ensino por descoberta é mais eficiente e mais ativo do que o ensino explícito» e, contrastando conhecimentos com competências, sustenta «a primazia dos conhecimentos disciplinares para o desenvolvimento de capacidades de aplicação» (p. 1).
Os apoios em que se firma são a investigação científica em psicologia educativa e análises estatísticas internacionais, com dados do PISA e do TIMSS, tomando em atenção as evoluções havidas nos anos recentes, dependentes de acontecimentos como a interrupção das aulas devido à pandemia e das políticas educativas seguidas, antes, durante e depois dela, no nosso país.
«Havia quem alegremente ressuscitasse velhos mitos, dizendo que o ensino remoto era uma grande oportunidade para os alunos tomarem em mãos a sua própria construção do conhecimento» (p. 10). Intramuros, as avaliações das escolas não traduziram problemas e as provas de aferição que se lhes seguiram anunciaram «melhorias dos alunos»! Em Dezembro de 2023, os dados da OCDE chocaram com a realidade virtual. Portugal piorou, mas mais que a média dos restantes países da organização e «regrediu mais do que outros países que tiveram as escolas encerradas durante o mesmo tempo» (p. 10-11). «Verificou-se que nada substitui o ensino presencial, que o ensino direto é indispensável (…) e que as ferramentas digitais podem ser um grande apoio ao ensino (…), [mas] não como um substituto do professor». (p. 34 – 35).
Testes e exames são absolutamente necessários. «As provas podem assumir várias formas» (p. 14), mas têm de ser «válidas» e «fiáveis» (p. 14-15). «Nenhum teste é perfeito (…) nem mede tudo, (…) nem a avaliação pode consistir num só teste ou num só momento» (p. 17).
Professores experientes indicam «trabalhos de casa e perdem noites a corrigir esses trabalhos, semana após semana, ano após ano» (p. 22) e (…) «estão constantemente a fazer perguntas à turma e aos alunos» (p. 22). São tudo «formas de testar conhecimentos e de os reforçar» como preconizam as ciências cognitivas modernas» (p. 23).
«A única solução justa para um sistema educativo é ser exigente com todos (…). E acompanhar essa exigência com apoios especiais [sobretudo cognitivos e não apenas socio-emocionais] para os alunos que têm mais dificuldades» (p. 26).
«A psicologia cognitiva sabe que os jovens não aprendem ciência comportando-se como cientistas em miniatura» (p. 36), como também «não nos podemos restringir à utilidade prática imediata» do que se ensina (p. 37). «Nunca sabemos para que nos vai servir o conhecimento. Só o descobrimos mais tarde.» (p.57). Nenhum jovem poderia «descobrir e construir por si mesmo todo o conhecimento que se espera que adquira durante a sua escolarização» (p. 37).
A este propósito, recordo o que uma antiga aluna minha, de nono ano, me disse um dia numa aula, num exercício do manual que apelava à descoberta, e que foi mais ou menos isto: stôr: se eu pudesse descobrir alguma coisa gostava que fosse algo que ainda não tivesse sido descoberto – agora, descobrir o que já se sabe há muito tempo, faz sentido? E eu concordei com ela, reforçando que o que descobrimos para nós próprios que é sobejamente conhecido não é descoberta nenhuma.
(Continua)
José Batista d’Ascenção
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