Após a “correcção” de 51 provas de exame fiz, como é meu costume, um pequeno resumo sobre certos aspectos que destaquei relativamente às provas, ao processo de classificação e a alguns dos seus possíveis efeitos. Essa súmula submeti-a ao supervisor que simpaticamente me acompanhou no processo, via «net». A classificação das provas é, obviamente, uma actividade sujeita a sigilo, mas, como é igualmente óbvio, não é sigilosa a minha opinião sobre a matéria. Donde, torno-a pública, na intenção de que se possa melhorar – como é necessário – o rigor, a eficácia, a justeza e a justiça dos exames. Ei-la:
- O tempo que mediou entre a 1ª e a 2ª fase devia ter sido encurtado em dois ou três dias para evitar a falta de tempo dos classificadores da 2ª fase que receberam mais provas. A atribuição de 51 provas para classificar em 7 dias, incluído o fim-de-semana, é excessiva, dado que os professores estão exaustos no final do ano lectivo e, se essa não for razão ponderosa, como devia ser, devia pelo menos pensar-se que a qualidade do trabalho pode ser afectada, prejudicando alunos e levando a mais pedidos de reclamação, com trabalho, despesas, preocupação e cansaço acrescidos. Este factor devia ser muito bem pensado e, se for conveniente, deve corrigir-se atempadamente o calendário de exames do próximo ano lectivo.
- Os textos e as perguntas das provas deviam ser muito bem pensados: não deviam, por exemplo, extravasar o definido nos programas, o que acontece, também a título de exemplo, com o texto introdutório do grupo III (sobre esta matéria diz o programa de geologia de 11º ano, na página 20: «Evitar descrições exaustivas da génese dos carvões e do petróleo, não ultrapassando, neste caso, noções breves de armadilha petrolífera, local de geração, migração e local de acumulação.»); já a questão 9 deste grupo é uma pergunta “circular”, em que os alunos não precisam de saber conteúdos de biologia/geologia – sobre os quais o exame devia incidir - para responderem correctamente; e o facto de se tratar de uma resposta relativamente fácil não invalida o exposto, já que o exame de biologia e geologia não tem, em minha opinião, que testar competências que se limitam a mera selecção e análise lógica de dados de textos e de tabelas fornecidos no enunciado, independentemente de haver ou não conhecimento da sua fundamentação científica por parte dos alunos, como é o caso;
- Por uma questão de equidade, os critérios de correcção deviam também ser muito justa e claramente definidos e aplicados. Assim, na questão 8 do grupo II, a especificação dos critérios é omissa quanto ao erro cometido em respostas que referem a quimiossíntese como produtora de oxigénio. Sendo certo que a questão 2 do mesmo grupo pode ter já penalizado esse erro, é discutível e é desconfortável atribuir a mesma classificação a duas respostas - eventualmente a máxima - sendo que uma delas esteja correcta e a outra comporte um erro grosseiro;
- A invenção, em 2017, de coluna própria (em separado) na grelha de classificação do parâmetro “discurso e rigor científico” facilita o processo de classificação, mas não acrescenta rigor nem justiça: a cotação a atribuir é a mesma havendo uma falha de rigor científico num tópico ou em três tópicos. Já o acrescento de mais uma coluna para registo do incumprimento das regras de nomenclatura binominal, descontando 0, -1 ou -2 pontos, é uma bizantinice que dá trabalho, porque é preciso preencher todas as células (ainda que seja para descontar… zero pontos!), torna a grelha (ainda) mais extensa e aplica-se em poucos casos, os quais deviam ser considerados, mesmo que cumulativamente, no parâmetro “discurso e rigor científico”;
- A supervisão mediante plataforma com um número elevado de classificadores (cada grupo não devia ter mais de 15, no máximo 20) por cada supervisor não é adequadamente funcional, e muito menos agradável, no que respeita à discussão e esclarecimento de dúvidas.
José Batista d'Ascenção