A pedagogia é um oceano de dúvidas, onde muitas crenças predominam mascaradas de certezas fundadas na ciência, tão válidas como qualquer empirismo que não passe disso mesmo.
A nuvem de factores que envolve o acto de aprender e os seus protagonistas mais importantes - os alunos e quem os educa/ensina - não permite definir um sistema de equações que contemple o conjunto de todas as variáveis. Não obstante, há linearidades indiscutíveis, como a que relaciona as dificuldades económicas com o baixo rendimento escolar das crianças: indubitavelmente, a fome, o frio ou os maus tratos prejudicam a aprendizagem. Mas, o oposto, a ideia de que proporcionando condições materiais e afectivas a todos os alunos se garantiria sucesso universal não é, obviamente, uma verdade demonstrável. Na realidade, as condições intrínsecas de cada indivíduo: a constituição, a saúde, as capacidades, as aptidões e as tendências de cada pessoa (que a tornam única e irrepetível) podem não contribuir para que a melhor educação/formação se desenvolva com satisfação e proveito plenos, dos próprios e dos seus educadores/professores. Por isso, ensinar e aprender é uma luta de sempre.
O conhecimento dos mecanismos neuro-psico-fisiológicos decorrentes dos estímulos educativos deve fazer luz sobre a aquisição e integração do saber, e aí deve assentar a acção pedagógica. Contudo, apesar dos progressos da neurologia, não parece que estejamos perto de conhecer aprofundadamente aqueles mecanismos, esclarecendo de modo concreto e amplo os “algoritmos neuronais” que realizam a aprendizagem e proporcionam eficácia no uso do que se aprendeu, em cada contexto afectivo e sociocultural. Mesmo conhecendo-os, sobravam sempre os casos em que múltiplas deficiências lhes limitariam o bom funcionamento.
Assim, andamos à volta do(s) problema(s), sem saber se temos feito as melhores abordagens. Desconhecemos se há alguma via intrínseca particular que suporte o leque das mais variadas aprendizagens, traduzível numa fórmula-base que servisse a cada um para aprender qualquer coisa. Se existisse uma “fórmula mágica” todos poderiam aprender tudo, sem limites. Por outro lado, sabemos que há (relativamente) poucas pessoas geniais que aprendem (ou aprenderiam) bem qualquer matéria. Conhecemos igualmente muitos génios que o são (ou foram) em áreas restritas: na matemática, num ou noutro desporto, na política, na literatura, etc. Sabemos ainda que todas as pessoas aprendem: algumas muitíssimo e outras muito pouco (quaisquer que sejam as bitolas…). Agora, aprender significa aprender qualquer coisa, seja o que for. E aprender algo, concretamente, facilita ou é condição de aprendizagem de outras coisas. Mas não se aprende no vazio. “Aprender a aprender” é um jogo de palavras. Que podia ter continuidade em, por exemplo, aprender a “aprender a aprender”. E assim por diante.
Portanto, se a fórmula «aprender a aprender» fosse real e conhecêssemos a realidade que encerra, talvez já tivéssemos resolvido o problema do insucesso. Porém, nesta matéria o expediente tem sido outro…, e esse é absolutamente ilusório e tremendamente injusto.
José Batista d’Ascenção