Hoje, os computadores jogam xadrez e já nenhum humano os pode vencer. É um feito (relativamente) recente. Mas não sei de actuais campeões humanos da modalidade que se julguem melhores do que os de outros tempos, quando era fácil ganhar às máquinas, nem os grandes jogadores se terão tornado melhores ou mais capazes só porque jogam (e perdem…) com os dispositivos informáticos.
Esta manhã discuti durante alguns minutos com um colega professor de «física e química» do ensino secundário sobre possíveis vantagens pedagógicas de os alunos proporem ao ChatGPT a resolução de problemas e de aprenderem com essa resolução. Dizia aquele professor que a resolução pela IA de um exercício que fez ultimamente na aula estava quase perfeita e muito bem sequenciada, falhando apenas num pormenor na parte final. Uma maravilha, portanto. Até porque, referia o meu colega, dentro de pouco tempo, a performance dos dispositivos será necessariamente melhor.
Tudo bem, então?
Não, em minha opinião. E lá acrescentei que, do mesmo modo que o motor de busca «Google» não aumentou a bagagem de conhecimentos de ninguém, e conhecendo nós a tendência geral (muito lógica) das pessoas para funcionarem por esforços mínimos, isso pode levar a que muitos deixem de estudar por si próprios, na ideia de que todo o conhecimento está ao alcance e disponível na hora, sem dificuldade. Ora, os cérebros humanos podem tender para o vazio, perdendo capacidade para detectar falhas grandes ou pequenas em respostas que lhes são exteriores e sobre as quais não têm poder crítico. Ou seja, os humanos têm que continuar a estudar e a aprender, e isso exige esforço, tempo, dispêndio, determinação, paciência e, na maior parte das vezes, espírito de sacrifício. Não sendo assim, enormes massas humanas ficarão à mercê das elites que sabem e programam as máquinas para objectivos de supremacia, domínio e proveito material.
O tempo do intervalo passou e, por isso, já não tive tempo de acrescentar outro exemplo que me ocorrera: hoje qualquer jovem vai a qualquer lado com recurso ao GPS disponível nos telemóveis. Mas já pedi a um que, sem ligar o aparelho, me dissesse, a partir do local onde estávamos (e o local podia ser outro qualquer…), em que direcção ficava a capital do país. O rapaz olhou-me espantado, como se a pergunta fosse absurda. E não fazia a menor ideia para que lado apontar. Quer dizer, tal como o «Google» não aumentou a sabedoria global de ninguém, também o GPS não eleva as capacidades de orientação geográfica de quem o utiliza.
Resumindo: estudar e saber é tão necessário como sempre foi e será.
A IA dá-nos, de imediato, respostas espantosas, mas numa compilação estatística do que os humanos produziram, com uma proficiência que nenhuma pessoa pode alcançar. Mas a inteligência humana é imprescindível, hoje e cada vez mais, o que requer trabalho, trabalho, trabalho.
José Batista d’Ascenção
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