quarta-feira, 30 de outubro de 2024

MENDEL – «O Pai da Hereditariedade». Alguns dados biográficos.

Para alunos de biologia de 12º ano de escolaridade

Gregor Mendel nasceu em 1822 numa região que pertencia à Áustria, na cidade de Heizendorf, e que hoje pertence à República Checa. Foi padre, mas a atividade a que mais se dedicou foi a de professor do ensino liceal, atual ensino secundário.

Em 1840, tirou o curso dos liceus (atuais escolas secundárias) e depois pretendeu entrar para a Universidade, mas não tinha recursos para prosseguir estudos. Um professor sugeriu-lhe então que entrasse para um convento para que pudesse continuar a estudar.

Em 1843, entrou para um convento, em Brünn (Brno, em português), passando a chamar-se Gregor (o seu nome de nascença era João, João Mendel). Nesse convento fez estudos de Teologia e simultaneamente também estudou no liceu local, que era um liceu clerical.

Em 1849 ficou como professor no liceu da localidade, onde ensinou grego e matemática.

Em 1850 foi fazer exame para professor efetivo do ensino secundário, mas desistiu.

Em 1851, o superior do convento chegou à conclusão de que Mendel tinha qualidades excecionais para o estudo de Ciências Naturais e mandou-o estudar para a Universidade de Viena. Tinha então 29 anos. Aí tirou o curso que hoje poderíamos fazer corresponder ao de Biologia.

Em 1853 regressou à sua cidade – Brünn, e, como professor não efetivo, ensinou Ciências Naturais no liceu.

Em 1856 apresentou-se de novo a exame para professor efetivo do ensino secundário, mas tornou a desistir. Até 1858 ensinou no liceu de Brünn.

As suas experiências sobre hereditariedade foram iniciadas em 1862 no jardim do convento e foram realizadas com ervilheiras da espécie Pisum sativum, durante quatro anos. Em 1866, Mendel analisou os resultados dessas experiências e apresentou-os num trabalho intitulado “Experiências de Hibridação nas Plantas”, trabalho que contém as leis da hereditariedade. Nesse título, Mendel mostrou-se modesto, pois podia ter escolhido outro com mais impacto, como por exemplo: “Descoberta das Leis da Hereditariedade”.

A publicação do trabalho de Mendel foi feita numa revista local de Ciências Naturais sem grande importância. Daí que, durante mais de 30 anos, esse trabalho se tivesse mantido desconhecido. Devido à sua pequena divulgação, os autores contemporâneos de Mendel desconheciam-no, como era o caso de Charles Darwin (mais velho do que Mendel 13 anos – nasceu em 1809 - e que morreu 2 anos antes dele, em 1882).

Em 1868, Mendel foi nomeado abade do convento e quase suspendeu as suas experiências. Em 1871 viria a trabalhar com outra planta, a Hieracium pilosella, tendo obtido resultados que não conseguiu interpretar...

A atividade experimental de Mendel durou apenas nove anos, de 1862 a 1871, e o período mais importante decorreu entre 1862 e 1866.

Mendel tinha uma boa preparação matemática e tinha lido os trabalhos de outros autores sobre hereditariedade [casos de Georg Heinrich Koelreuter (alemão), Karl Friedrich von Gaertner (alemão), Charles Naudin (francês) e Darwin], pelo que possuía muitos elementos que lhe foram úteis e justificam o seu êxito. Outro aspeto que também lhe foi favorável foi o facto de ter escolhido uma planta que tinha todas as vantagens para o tipo de experiências a que se propusera.

Em 1884 morreu com 62 anos.

Os naturalistas contemporâneos de Mendel não compreenderam o seu grande mérito científico. Só em 1900, três investigadores redescobriram os seus trabalhos, de forma simultânea e independente. Foram eles o holandês Hugo de Vries, o alemão Carl Correns e o austríaco Tschermak-Seysenegg. Realizando estudos sobre variabilidade de plantas, ao lerem a obra de Gregor Mendel, reconheceram a sua importância para a interpretação dos dados que haviam obtido. As leis da hereditariedade foram redescobertas e divulgadas. Com cavalheirismo científico, aqueles investigadores resgataram o defunto monge do anonimato e elevaram-no à merecida condição de «pai das leis da hereditariedade».

José Batista d'Ascenção

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Botânica, Camões e Cultura, por Jorge Paiva


Em Camões, o sublime que engrandece.


Botânica, Jorge Paiva esclarece.


Cada um de nós disfruta e enriquece.



500 anos depois.


José Batista d'Ascenção

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Ainda há coisas boas no ensino

Um dos tempos de apoio (às minhas disciplinas) é às Quartas e começa a hora imprópria: 14.05 h.

Chegou afogueada, com quinze minutos de atraso, preocupada em justificar-se: a fila da cantina era longa, comeu à pressa, e viera directamente, de tal modo que deixara a mochila na biblioteca.

Sosseguei-a, disse-lhe que, se precisasse de algum material, podia ir buscá-lo e que, depois, me dava conta das suas dúvidas sobre a matéria. Tudo sem correr.

Pouco demorou. Trazia as dificuldades bem elencadas. Deu tempo para esclarecê-la e elogiar-lhe o esforço.

Não compareceu mais ninguém, afinal, o teste é “só” para a semana… Ela precata-se com tempo. Vai passar a trazer que comer de casa, para comparecer com mais frequência, disse-me, num sorriso aberto.

Ficou contente por se sentir esclarecida, agradeceu e despediu-se.

De nada, retorqui, e pedi-lhe para não ficar aflita – basta pedir ajuda.

Só, permaneci um minuto a saborear o gosto de me sentir útil – o troféu profissional que mais desejo.

Hoje foi um dia compensador.

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 15 de outubro de 2024

A escola de hoje – notícias que deixaram de ser notícia

Mais de metade dos professores (55,4%) admite que já foi “vítima de agressões físicas ou verbais por parte dos alunos”, revela um inquérito realizado pelo movimento Missão Escola Pública, que alerta para o facto de este resultado evidenciar “uma deterioração preocupante das condições de segurança e respeito no ambiente escolar”.

In: jornal «Público» de hoje, 1º parágrafo de um artigo de Clara Viana, na pág. 14 da versão impressa.

José Batista d'Ascenção

domingo, 13 de outubro de 2024

Velhos professores e professores velhos

Obedeço às duas condições, mais por sentimento do que pela cronologia.

Sinto-me um velho professor porque me identifico com uma profissão valorizada, valorização que velhos profissionais sentiam, em tempos que já lá vão, tempos que não foram tão bons assim, nem para mestres nem para (muitos) alunos, mas em que, apesar de tudo, o professor se sentia respeitado.

Hoje, isso não acontece: nem pelas leis, nem pelas hierarquias, nem pelos alunos, nem pelos seus pais, nem pelas instituições forma(ta)doras, nem sequer pelos pares. E tudo e todos vão pagando entre si na mesma moeda. É a triste realidade, que constato e de que não me queixo.

E também me sinto um professor velho pelo muito que já vi e vivi na profissão, em que teorias e metodologias, sempre em mudança, porque inconsistentes e mal fundamentadas, nos trouxeram até ao presente, com uma grossa fatia de alunos a passar pela escolaridade obrigatória sem aprender a ler e escrever escorreitamente ou a pensar com racionalidade, mínimos que a ciência exige e recomenda.

Para uma fracção enorme de crianças e jovens - os filhos dos mais pobres, obviamente - a família e a escola não os preparam minimamente. Nessa medida, aquilo a que chamamos «educação» é ineficaz e a escola, tal como a conhecemos, é um falhanço crónico.

Não vale a pena encher a boca com «a geração mais bem preparada de sempre». É uma falácia, até porque todas as gerações deviam ser mais bem preparadas do que as que as antecedem.

Não escrevo isto por derrotismo, porque a «matéria-prima» não nasce intelectualmente defeituosa nem é incapaz. Quem falha somos nós, os adultos, forma(ta)dos por forma(ta)dores que eram e são tão limitados quanto nós, os «educadores».

Paradoxalmente, imperfeitos como somos, somos indispensáveis. Convém é que não nos enganemos, nem a nós nem aos outros. O mundo precisa de honesta assunção.

Por isso, sigo para a escola, em cada dia, com o mesmo sentimento de imprescindibilidade da primeira vez.

Mas não com a mesma crença nos resultados.

José Batista d’Ascenção