Obedeço às duas condições, mais por sentimento do que pela cronologia.
Sinto-me um velho professor porque me identifico com uma profissão valorizada, valorização que velhos profissionais sentiam, em tempos que já lá vão, tempos que não foram tão bons assim, nem para mestres nem para (muitos) alunos, mas em que, apesar de tudo, o professor se sentia respeitado.
Hoje, isso não acontece: nem pelas leis, nem pelas hierarquias, nem pelos alunos, nem pelos seus pais, nem pelas instituições forma(ta)doras, nem sequer pelos pares. E tudo e todos vão pagando entre si na mesma moeda. É a triste realidade, que constato e de que não me queixo.
E também me sinto um professor velho pelo muito que já vi e vivi na profissão, em que teorias e metodologias, sempre em mudança, porque inconsistentes e mal fundamentadas, nos trouxeram até ao presente, com uma grossa fatia de alunos a passar pela escolaridade obrigatória sem aprender a ler e escrever escorreitamente ou a pensar com racionalidade, mínimos que a ciência exige e recomenda.
Para uma fracção enorme de crianças e jovens - os filhos dos mais pobres, obviamente - a família e a escola não os preparam minimamente. Nessa medida, aquilo a que chamamos «educação» é ineficaz e a escola, tal como a conhecemos, é um falhanço crónico.
Não vale a pena encher a boca com «a geração mais bem preparada de sempre». É uma falácia, até porque todas as gerações deviam ser mais bem preparadas do que as que as antecedem.
Não escrevo isto por derrotismo, porque a «matéria-prima» não nasce intelectualmente defeituosa nem é incapaz. Quem falha somos nós, os adultos, forma(ta)dos por forma(ta)dores que eram e são tão limitados quanto nós, os «educadores».
Paradoxalmente, imperfeitos como somos, somos indispensáveis. Convém é que não nos enganemos, nem a nós nem aos outros. O mundo precisa de honesta assunção.
Por isso, sigo para a escola, em cada dia, com o mesmo sentimento de imprescindibilidade da primeira vez.
Mas não com a mesma crença nos resultados.
José Batista d’Ascenção
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