E elas - como nós - são escravas dos algoritmos digitais, dos conteúdos e da manipulação das redes sociais, assim como da publicidade e de grupos ou entidades cuja organização manobra desejos e comportamentos, desde tenra idade, à volta do desporto, de festivais de música, de excursões de «finalistas» de todos os ciclos de ensino, mesmo os mais iniciais…, e por aí fora.
Muito precocemente, os pais deixam de ser os principais orientadores da educação das crianças. Não raro por iniciativa comodista dos próprios, quando sossegam os infantes com recurso aos telemóveis e outros apetrechos, de que eles mesmos também são dependentes.
Não vão longe os tempos em que se liam alto histórias às crianças, mas parece. O léxico enriquecia-se, o pensamento faz-se com palavras e, nos petizes mais bem acompanhados, e afortunados, desenvolvia-se o gosto pela leitura, que potenciava as faculdades do raciocínio, da criatividade e da inteligência e alargavam-se os horizontes socio-afectivos e culturais. Tragicamente, quando os meninos começam a juntar as sílabas e deviam iniciar a leitura, pais que antes liam para eles deixam de o fazer, a pretexto de que devem passar a ler sozinhos. É matar à míngua a iniciação à leitura. E perder momentos íntimos de comunhão e partilha. Pior quando se pensa que aceder aos monitores favorece a leitura. É uma percepção errónea, que traz consequências nefastas. Vamos assim produzindo zombies digitais, viciados em jogos ou híper-estimulados a saltitar de comunicação em comunicação, ou entre anúncios ou pequenos vídeos, em que não se demoram, porque nem seriam capazes de ler meia dúzia de linhas que fosse. Algumas redes sociais limitam-se e limitam os seus assinantes a parcas dezenas de caracteres. Trata-se de cretinismo profundo e em expansão. Há meninos que, no fim de 5 ou 6 anos de escolaridade, não conseguem escrever o próprio nome sem erros. E alguns, ainda nos primeiros anos do primeiro ciclo, já reagem violentamente contra educadores infantis e professores. Muitos são prodígios de egoísmo e comodismo, acumulando quilos em proporção às horas que passam agarrados aos teclados. Outros não dormem e andam estremunhados nos tempos que deviam ser de aulas.
A tecnologia e a “inteligência artificial” não podem esvaziar o cérebro (de cada) humano, que tem de aprender o que lhe é fundamental, sob pena de alguém pensar por si – condição a que aspiram todos os ditadores e outros manipuladores.
Vêmo-lo diariamente, a investigação científica (digna do nome) fundamenta-o. Falta prevenir.
José Batista d’Ascenção
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