terça-feira, 26 de novembro de 2024

“Botânica, Camões e Cultura”, pelo Prof. Jorge Paiva

Eram alunos de artes e (maioritariamente) de ciências. Eram professores, de vários grupos disciplinares. Limitámos as presenças porque é acanhado o auditório da Escola Secundária Carlos Amarante.

Imediatamente antes de o Professor “abrir o livro”, a introdução fez-se pela voz e viola de Margarida Corsino, entoando a “Senhora do Almortão”, na versão que fala de maçãs camoesas. Um deleite.

Seguiram-se as palavras e as imagens trazidas pelo Professor. Um regalo. Sobre a mesa espraiavam-se várias especiarias, como as dos tempos da «carreira da Índia», já lá vão quinhentos anos.

O tempo voava. O auditório ficou imerso no tema. Um tema sem fim, o que tornou a especificidade da sessão (ainda) mais preciosa.

A culminar, a distribuição do postal de Natal (de 2024) do Professor Jorge Paiva. Uma mensagem pungente, associada à imagem belíssima do Narcissus poeticus.

Bem a propósito, a música, a lição e a mensagem de Natal, homenageando o nosso Poeta maior, em ano de comemoração do quinto centenário do seu nascimento, e pugnando pela defesa do ambiente.

Há manhãs felizes.

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Caixa de «tetris»

Nunca, até um dia desta semana, em quatro décadas de ensino, um característico objecto de laboratório de biologia, tinha, que eu soubesse, merecido designação tão bizarra. Por mais de uma vez, na última aula laboratorial, designara eu as caixas de Petri antes da sua utilização. E não só as tinha chamado pelo nome, como o tinha escrito no quadro, noutra aula, em finais de Setembro (dia 26).

Donde pode, então, ter-se originado a confusão? Os alunos (porque foi mais do que um…) não sabem. Eu também não, por isso coloco a única hipótese que me ocorre.

Nos anos mais recentes, manuais, editoras e certos professores carregam no apelo ao que chamam «gamificação», que praticam com entusiasmo. Trata-se do uso de jogos para promover a aprendizagem. Vai daí, a coisa generalizou-se, porque é muito estimulante, senão da aprendizagem, pelo menos do jogo, mais ou menos viciante que possa ser.

Ora, «tetris» é nome de jogo comum em dispositivos electrónicos. Haverá relação?

Professores como eu não são adeptos da «gamificação». A ideia não é nova e já merecia dúvidas a Almeida Garret, quando escreveu: «Não sou grande apaixonado… do ensino por meio de brincos e bonitos. Digo que não sou apaixonado do excesso a que se tem levado»… [In: «Da Educação», MDCCCXXIX].

Assim vamos aonde não devíamos ou deixamos de ir ao que devia ser o mais importante.

E quem se importa?

José Batista d’Ascenção

sábado, 9 de novembro de 2024

Aulas de cidadania – e se acabássemos com elas?

Em minha opinião, a cidadania, como a educação, em geral, é mais algo que se pratica e de que se dá o exemplo, diariamente, do que matéria para ensinar em (doses de) aulas específicas. A introdução de uma disciplina de cidadania nos currículos escolares logo redundou em descrédito e tem dado azo a disputas políticas que não apoiam nem prestigiam as instituições escolares.

Para os alunos, as aulas de cidadania são tempos de aborrecimento e para os professores são igualmente pouco estimulantes porque não conseguem que as matérias e a acção que desenvolvem sejam levadas a sério. Por outro lado, como a escola tem de ser legal e formalmente uma «escola de sucesso», menos se admite que o aproveitamento em aulas a que não se dá importância possa ser avaliado negativamente, donde, há meninos que, não se comportando nelas de modo propriamente exemplar, têm tão boas classificações como os outros, o que só aumenta o descrédito.

Esta é a realidade que temos, sedimentada no tempo e na experiência. Convinha que atentássemos nela e fôssemos capazes de ser consequentes.

Os professores fazem educação e cidadania quando são educados, ensinam bem, com a cabeça e com o peito, cumprem as normas de cidadania e exigem conhecimentos e comportamentos em conformidade, apoiados na lei, no funcionamento das hierarquias e - muito importante - na vontade expressa da generalidade dos encarregados de educação.

Então, toda a acção escolar será de verdadeira cidadania.  

José Batista d’Ascenção