terça-feira, 27 de maio de 2025

A recta final

Cada vez mais lento, vou fazendo as aulas com o (pouco) fulgor que consigo. Há dias, alguém me perguntou como é que ando, ao que respondi que agora não ando, arrasto-me.

Deve ser o peso da idade, mas não apenas.

Os meus alunos de décimo ano são umas jóias, tirando poucas excepções, que não sabe a gente o que lhes faça. Eu (até) sabia, mas só o digo aos alunos em causa, na presença dos restantes, sem grande efeito, e a pessoas mais próximas. A outros ou a outras instâncias, não vale a pena.

Os de décimo segundo estão a escassos meses de ingressarem no ensino superior. A vários destes, ao longo do ano, procurei morigerar a ideia de perfeição que atribuíam ao seu trabalho e alertá-los para os trambolhões da vida, que magoam, às vezes profundamente, mas nos dão oportunidade de, humildemente, aprendermos a sério e de exercitarmos, pelos outros e por nós, os deveres de compaixão e de cumprimento honesto das obrigações. Fi-lo com ênfase desde Setembro e notei efeito franco na maior parte, no terceiro período. De caminho deixei claro que não me revejo em muitos aspectos da (falta de) pedagogia formal das últimas décadas.

Naturalmente, desejo a todos os que são ou foram meus alunos as maiores felicidades, do fundo do coração.

Pelo meu lado, está quase a cumprir-se mais um ano de trabalho a somar(-se) a muitos.

Lá esforçar, esforcei-me.

José Batista d’Ascenção

segunda-feira, 19 de maio de 2025

Os alunos fazem, os alunos aprendem.

Mas é preciso que façam, e que percebam o que fazem. E para entenderem o(s) porquê(s) e os “para quê?” do que executam é preciso atenção, trabalho, disciplina e… gosto.

Estas condições elementares não estão reunidas em muitas aulas de muitas escolas do nosso país. Os professores (que dão – ou tentam dar – aulas) sabem-no bem.

Claro que há muitas outras condicionantes de que aquelas dependem, mas se elas não existirem, nada feito: com tecnologia, sem tecnologia, com trabalho de grupo, sem trabalho de grupo, com actividades lúdicas ou sem elas…

Para mim, que gosto de ser um professor “clássico”, não fazemos um trabalho profícuo com, pelo menos, dois terços dos alunos, desde há décadas. E o panorama não me parece animador, dourêmo-lo nós das (múltiplas) formas que quisermos.

Desta vez, na aula prática, tratámos da ascensão de água (e sais minerais) no tecido condutor de seiva bruta das plantas – o xilema. Ficou bonito, como a imagem documenta [mais à direita, com o caule rachado bem rectilineamente, de cima a baixo, e cada parte mergulhada numa solução de cor diferente, a rosa ficou corada de modo diferente em cada uma das metades do conjunto da corola].

A parte má é que (me) foi preciso dar ordem de saída do laboratório a um aluno, que não a queria aceitar e acabou por sair da sala a ameaçar que ia telefonar à mãe. Vejam só.

José Batista d’Ascenção