sábado, 24 de junho de 2017

Mudanças na organização e no funcionamento das escolas – improviso e aleatoriedade por iniciativa de quem tem a obrigação de ser prudente.

Também no jornal “Público” de hoje, página 14, o presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, Filinto Lima, lamenta que «o calendário do próximo ano lectivo continue “refém da Páscoa”, o que leva a que exista um primeiro período “gigantesco” e um terceiro período “diminuto”, situação que vem mais uma vez pôr em cima da mesa a necessidade de se “avançar para uma organização semestral” das aulas, conforme tem sido defendido pelos directores.»
Esta necessidade, se existe, será para os directores, porquanto, em décadas ininterruptas de leccionação, nunca dei por que os professores tenham alguma vez referido o assunto como um problema. Tenho para mim que para os professores que dão aulas não há problema nenhum. Há muitos outros, que os directores conhecem ou deviam conhecer. Mas relativamente a esses não há vontade sequer de os referir, quanto mais de os resolver.
Dispenso-me de apresentar razões, por já as ter referido aqui, em reacção à manifestação da vontade daquele director escolar noutra ocasião.

José Batista d’Ascenção 

Evolução de Darwin ou “valores turcos”?

Imagem obtida aqui
Segundo refere o jornal “Público” de hoje, na página 29, «os liceus da Turquia vão deixar de ensinar a teoria da evolução de Charles Darwin, por ser considerada controversa e difícil de perceber, […]. As mudanças fazem parte do novo programa escolar, elaborado de acordo com os “valores turcos”.»
Charles Darwin, um dos génios da humanidade que viu mais e mais longe no estudo da natureza e da evolução biológica, é assim removido dos conteúdos a estudar nas escolas de um país (que também é) da Europa. É uma regressão que não se julgaria possível.
O mundo fica mais cinzento pela mão dos ditadores, mesmo que eleitos (ou principalmente quando?), que sempre arranjam “valores” incontroversos e fáceis de perceber. A que as massas aderem facilmente.
Que preço acabaremos (nós, a humanidade) por pagar?

José Batista d’Ascenção

quinta-feira, 15 de junho de 2017

À volta da mesa se sentam os amigos

Da mesma proveniência académica ou de instituições diferentes, tendo passado por escolas diversas, da cidade de Braga, do concelho, da região ou do país, às vezes as mesmas, chegámos, a maior parte de nós, à ESCA em anos diferentes, mais jovens, cheios de energia e de expectativa e de desejos e de sonhos. Havíamos de construir uma juventude de formação sólida e por via dela uma sociedade mais justa e um país mais desenvolvido. Dedicámo-nos com gosto e com empenho. Concordámos e discordámos, fomos iguais e diferentes, não abdicámos de ser cada um igual a si próprio, como todos gostamos de ser e como gostamos que cada um dos outros seja. No início de cada ano lectivo, olhámos com ternura e simpatia os mais novinhos que foram chegando. Encorajámo-los na sua disponibilidade e procurámos aprender com os seus contributos. E em cada Junho-Julho, vimo-los partir com alguma pena, pela incerteza do seu futuro profissional e porque já faziam parte de nós e da «nossa casa». Aos que já se retiraram profissionalmente, guardamo-los no peito. E sentimos que estão connosco, no exemplo que nos deram, no carinho com que nos trataram e na saudade que nos deixaram.
A nossa casa profissional é a ESCA, uma escola de liberdade, onde, por esse motivo, sentimos a responsabilidade aumentada, mas não por qualquer espécie de imposição hierárquica interna, explicita ou dissimulada. E por isso gostamos muito da «nossa escola», por comparação com qualquer outra, mas sem desdouro para nenhuma. Ao longo do tempo houve turmas mais fáceis e mais difíceis, alunos brilhantes em matéria de aprendizagem de conteúdos, de procedimentos, de atitudes e de sentimentos e outros que não conseguimos que brilhassem em alguns ou mesmo em todos aqueles aspectos. Mas não desistimos porque, em termos de consciência, primeiro, e de pedagogia, depois, não seria legítimo que o fizéssemos. Às vezes foi e é difícil. Muito difícil. Por isso, não raro, amparamo-nos uns aos outros, tentando minimizar a angústia e as feridas, próprias e alheias, sejam as mais visíveis, porque expostas, ou aquelas que intuímos que magoam em silêncio. Mais ou menos atentos, procuramos dar ânimo a quem, momentaneamente, (nos) parece mais combalido. E como esse amparo, por vezes discreto, sabe bem! Também temos a humildade e a generosidade de pedir conselho ou de esclarecer dúvidas quando as solicitações são mais que muitas e o cansaço se agiganta aos nossos ombros. E se não apagamos a dor do peito de ninguém, muitos de nós beneficiaram do afago sentido e próximo dos restantes e da força e do carinho que tão eficazmente nos souberam transmitir. Com a prática, por vezes tão dolorosa, que temos vindo a adquirir, temos o consolo de pensar que muitos olhos se dirigem permanentemente de todos para cada um de nós e vice-versa. O tempo continuará a sua marcha inexorável, e o labor, e a burocracia, e a vontade de fazer o melhor possível, e a doença que se vai insinuando, e a falta de forças que às vezes sentimos, e a desautorização que chega, não raro por via legal, de onde não era suposto, e tudo o mais que o destino nos reserve, não hão-de apagar nem esmorecer esta sensação de bem-estar que conseguimos junto uns dos outros, de preferência à volta de uma mesa. Como agora.
Juntos faremos o caminho, caminhando.
Em homenagem à vida e a esta amizade que não morrerá em nós, coroemos este momento com um grande e belo e bom e fraterno abraço.
Obrigado.

Braga, aos catorze de Junho de 2017.

José Batista d’Ascenção

Adenda 1
Texto lido em jantar dos professores de biologia e geologia da Escola Secundária Carlos Amarante (ESCA), em Braga, na data indicada.

Adenda 2
Suponho que por um certo recato e timidez, que compreendo, num ano difícil para “o grupo”, os organizadores preferiram um momento de confraternização restrito aos professores no activo. Outra era a minha preferência: como, desde há bastante tempo, me sinto velho – atenção, “velho”, sobretudo aplicado a pessoas, tem para mim uma conotação benigna e apaziguadora – cada vez mais necessito do amparo das referências de tempos anteriores como das dos mais novos, que olham com candura a minha vetustez. Árvore que (já) sou de muitos Invernos e Primaveras fazem-me tanta falta as raízes de sempre como os renovos do presente. Sem as primeiras e sem os segundos, nada sou. Pelo que, mais cedo do que tarde, muito gostaria de suprir esta “falta”.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Opiniões sobre educação

No jornal “Público” de hoje, página 45, Santana Castilho expende algumas ideias sobre a política educativa do actual governo, por contraste com o desempenho ministerial de Nuno Crato. Há aspectos fundamentais com que concordo, e que exponho de seguida.

A referência a um governo que tem […] “prudente respeito pelos contratos firmados com os chineses da EDP mas oportuno desprezo pelos contratos firmados com os professores portugueses.”
A afirmação de que o secretário de estado João Costa é um «arauto-mor do “eduquês” recuperado […] que está destruindo […] o que, apesar de tantas vicissitudes e sacrifícios, os professores sérios e maduros conseguiram acrescentar aos resultados do sistema de ensino.»
Para Santana Castilho, «a questão é termos passado de uma pedagogia ferozmente utilitarista [de Nuno Crato], que encarava a Educação como mercadoria ao serviço da economia de mercado, […] para uma pedagogia do paraíso, assente na retórica provinciana do “aluno do século XXI”, do “trabalho de projecto”, da “flexibilidade pedagógica”, do “trabalho em rede” e dos “nados digitais”, sem considerar o estádio intermédio que resulta da arbitragem prudente entre o valor intrínseco do conhecimento e a especulação pedagógica.» [desta última parte discordo: ao «estado intermédio», seja lá o que for, prefiro o «valor intrínseco do conhecimento»].
Mas concordo inteiramente com Santana Castilho quando afirma que […] «o ascensor social, que a escola pode ser, pára uma vez mais», explicitando que o governo de Costa «reserva “as aprendizagens essenciais”, que ninguém sabe o que são nem como se definem, para os que já chegam à escola oprimidos pela sorte madrasta de terem nascido em meios desfavorecidos» e que, «definitivamente, só há um caminho, […] encontrar um currículo e programas correspondentes equilibrados e adequados à maturidade e desenvolvimento dos alunos e acompanhá-los, sem diminuições de exigência e rigor, com reforço de meios e recursos logo que evidenciem as primeiras dificuldades.» Afirmando também, e muito bem, que «a inovação pedagógica do aprender menos não remove o insucesso. Mascara-o. Os experimentalismos que partem do abaixamento da fasquia não puxam pelos que ficam para trás. Afundam-nos.»

E termina com a nota: «É importante que cada professor saiba bem de que lado quer estar nesta dialéctica», com que concordo particularmente: fora assim e outro galo cantaria.

José Batista d'Ascenção