Da
mesma proveniência académica ou de instituições diferentes, tendo passado por
escolas diversas, da cidade de Braga, do concelho, da região ou do país, às
vezes as mesmas, chegámos, a maior parte de nós, à ESCA em anos diferentes,
mais jovens, cheios de energia e de expectativa e de desejos e de sonhos.
Havíamos de construir uma juventude de formação sólida e por via dela uma
sociedade mais justa e um país mais desenvolvido. Dedicámo-nos com gosto e com
empenho. Concordámos e discordámos, fomos iguais e diferentes, não abdicámos de
ser cada um igual a si próprio, como todos gostamos de ser e como gostamos que
cada um dos outros seja. No início de cada ano lectivo, olhámos com ternura e
simpatia os mais novinhos que foram chegando. Encorajámo-los na sua disponibilidade
e procurámos aprender com os seus contributos. E em cada Junho-Julho, vimo-los
partir com alguma pena, pela incerteza do seu futuro profissional e porque já
faziam parte de nós e da «nossa casa». Aos que já se retiraram
profissionalmente, guardamo-los no peito. E sentimos que estão connosco, no
exemplo que nos deram, no carinho com que nos trataram e na saudade que nos
deixaram.
A
nossa casa profissional é a ESCA, uma escola de liberdade, onde, por esse
motivo, sentimos a responsabilidade aumentada, mas não por qualquer espécie de
imposição hierárquica interna, explicita ou dissimulada. E por isso gostamos
muito da «nossa escola», por comparação com qualquer outra, mas sem desdouro
para nenhuma. Ao longo do tempo houve turmas mais fáceis e mais difíceis,
alunos brilhantes em matéria de aprendizagem de conteúdos, de procedimentos, de
atitudes e de sentimentos e outros que não conseguimos que brilhassem em alguns
ou mesmo em todos aqueles aspectos. Mas não desistimos porque, em termos de
consciência, primeiro, e de pedagogia, depois, não seria legítimo que o
fizéssemos. Às vezes foi e é difícil. Muito difícil. Por isso, não raro,
amparamo-nos uns aos outros, tentando minimizar a angústia e as feridas,
próprias e alheias, sejam as mais visíveis, porque expostas, ou aquelas que
intuímos que magoam em silêncio. Mais ou menos atentos, procuramos dar ânimo a
quem, momentaneamente, (nos) parece mais combalido. E como esse amparo, por
vezes discreto, sabe bem! Também temos a humildade e a generosidade de pedir
conselho ou de esclarecer dúvidas quando as solicitações são mais que muitas e
o cansaço se agiganta aos nossos ombros. E se não apagamos a dor do peito de
ninguém, muitos de nós beneficiaram do afago sentido e próximo dos restantes e
da força e do carinho que tão eficazmente nos souberam transmitir. Com a
prática, por vezes tão dolorosa, que temos vindo a adquirir, temos o consolo de
pensar que muitos olhos se dirigem permanentemente de todos para cada um de nós
e vice-versa. O tempo continuará a sua marcha inexorável, e o labor, e a
burocracia, e a vontade de fazer o melhor possível, e a doença que se vai
insinuando, e a falta de forças que às vezes sentimos, e a desautorização que
chega, não raro por via legal, de onde não era suposto, e tudo o mais que o
destino nos reserve, não hão-de apagar nem esmorecer esta sensação de bem-estar
que conseguimos junto uns dos outros, de preferência à volta de uma mesa. Como
agora.
Juntos
faremos o caminho, caminhando.
Em
homenagem à vida e a esta amizade que não morrerá em nós, coroemos este momento
com um grande e belo e bom e fraterno abraço.
Obrigado.
Braga,
aos catorze de Junho de 2017.
José Batista d’Ascenção
Adenda 1
Texto lido em jantar dos professores de biologia e geologia
da Escola Secundária Carlos Amarante (ESCA), em Braga, na data indicada.
Adenda 2
Suponho
que por um certo recato e timidez, que compreendo, num ano difícil para “o
grupo”, os organizadores preferiram um momento de confraternização restrito aos
professores no activo. Outra era a minha preferência: como, desde há bastante
tempo, me sinto velho – atenção, “velho”, sobretudo aplicado a pessoas, tem
para mim uma conotação benigna e apaziguadora – cada vez mais necessito do
amparo das referências de tempos anteriores como das dos mais novos, que olham com
candura a minha vetustez. Árvore que (já) sou de muitos Invernos e Primaveras fazem-me
tanta falta as raízes de sempre como os renovos do presente. Sem as primeiras e
sem os segundos, nada sou. Pelo que, mais cedo do que tarde, muito gostaria de
suprir esta “falta”.
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