terça-feira, 9 de outubro de 2018

Nota breve sobre os meus alunos deste ano, à quarta semana de aulas

Motivação para aprender, apesar das condições.
Como (re)ganhá-la, entre nós? Imagem obtida aqui.
Não conhecia os alunos com quem estou a trabalhar este ano lectivo. São jovenzinhos de 10º ano de escolaridade, bem educados e simpáticos. Os que não chegam pontualmente à aula perguntam à porta, que tem estado aberta, por causa do imenso calor nas salas, se podem entrar. Nas aulas têm estado bastante bem, atentos e razoavelmente participativos.
Às voltas comigo, numa luta sem tréguas, dentro e fora da sala de aula, procuro não lhes destruir a curiosidade e o prazer de aprender; e procuro também ser maximamente claro nas explicações, nas perguntas e nas solicitações. Sinto-me sempre à prova, o que não me desagrada, e procuro nunca resvalar para qualquer posição de ilusório e injustificado triunfalismo ou presunção, porquanto é inquestionavelmente mais provável a falha, com uns ou com outros, do que a eficácia generalizada, normalmente impossível. Sabe-o bem quem há muito anda (e/ou desanda) na profissão. Ainda ontem, depois de um fim-de-semana mais longo, cerca de um terço dos alunos não tinham feito a ficha de treino (composta e cedida por uma colega) que lhes havia disponibilizado na quinta-feira passada. Fiquei decepcionado com os que não fizeram o trabalho de casa, e disse-lhes isso mesmo.
Contudo, estou cheio de sorte [as limitações, crescentes e notórias, ainda me permitem ir para a escola com um fundo de esperança no peito, que alimento quanto posso e não quero deixar morrer]: pelos alunos com quem me cabe lidar, pelas condições, embora não perfeitas, da minha escola (longe disso: ontem mesmo «mail» informativo dizia que a funcionária de apoio aos laboratórios ficou doente, pelo que os professores que fizerem aulas práticas vão ter que «ter paciência» e «preparar, lavar e arrumar» o material de que precisem, o que é difícil quando há uma dezena de turmas em cada um dos anos das disciplinas de exame, a fazer basicamente as mesmas aulas e a necessitar dos mesmos materiais e havendo só um gabinete de preparação…) e pela oportunidade de conviver e trabalhar com tantos colegas que muito estimo (e com o desejo de que alguns ausentes recuperem a saúde e retornem ao serviço, o que implica o desconforto de saber que isso significa a despedida dos que os substituem).
Sim, cheio de sorte, apesar das sombras que caem sobre quem é professor ou aluno ou pai. Cheio de sorte, também, por comparar a minha situação com a de tantos colegas em condições profissionais ainda mais difíceis do que as minhas, e que vejo como heróis ignorados de esforço, generosidade e abnegação.
Por isso, olhando tanto quanto posso ver e desejando todo o bem merecido para mim e para os outros, deixo registo do meu sentido abraço a todos os alunos e professores que não desistem de viver e humanizar a escola, para melhor se ensinar e, acima de tudo, aprender.
Por ser verdade, e da minha vontade, e sem me ter sido pedido, honestamente escrevi este texto. 

José Batista d’Ascenção

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