Na Primavera, os campos e os jardins enchem-se de flores. Mas nem todas as plantas dão flor. Só plantas complexas, porque mais evoluídas, as apresentam. Musgos e fetos são plantas que não produzem flores, o que não significa que não possuam beleza, como se sabe. Os pinheiros e plantas relacionadas produzem flores de aspecto discreto, pelo que, muitas pessoas pensam que são árvores sem flor. O senso comum associa flores a órgãos vistosos das plantas, coloridos e perfumados, o que não se verifica em muitos casos, mesmo de plantas altamente complexas, de que são exemplo as gramíneas, que incluem cereais como o milho e o trigo, os bambus e as ervas a que chamamos relva.
As flores são órgãos (reprodutores) especializados que promovem a reprodução sexuada, embora haja reprodução sexuada nas plantas sem flor. A reprodução sexuada é aquela que envolve a combinação de informação hereditária (genes) proveniente de uma célula reprodutora masculina (gâmeta masculino, que nas plantas se chama «anterozóide») e de uma célula reprodutora feminina (gâmeta feminino, que nas plantas se chama «oosfera»). À união de um gâmeta masculino com um gâmeta feminino chama-se «fecundação». Da fecundação resulta a primeira célula (designada «ovo» ou «zigoto») de uma nova planta, com uma combinação de genes aleatória, dependente dos gâmetas que se uniram, originando novos seres com variabilidade genética, com diferenças mais ou menos significativas entre si, entre si e os progenitores e entre si e todas as outras plantas da mesma espécie. Este facto é determinante para aumentar as probabilidades de haver sempre algumas plantas adaptadas às diferentes condições ambientais de lugares diversos ou do mesmo lugar em tempos sucessivos. Entre as plantas que dão flor, há casos em que temos plantas masculinas e plantas femininas, as primeiras originando apenas flores masculinas e as segundas originando apenas flores femininas (acontece em palmeiras e em quivis, por exemplo); noutros casos, na mesma planta há flores (unissexuais) masculinas e flores (unissexuais) femininas (como se verifica nos pinheiros); e noutros casos ainda, é a mesma flor que tem uma parte masculina (chamada «androceu»), que corresponde às peças florais (que são folhas modificadas) que designamos «estames», e uma parte feminina (chamada «gineceu»), que diz respeito aos elementos florais (folhas modificadas, também) a que foi atribuído o nome de «carpelos».
Há um outro tipo de reprodução, mais «primitiva», que não envolve a fusão de gâmetas, em que as células de uma parte da planta são capazes de originar novas plantas com uma cópia exacta dos genes da planta progenitora (reprodução assexuada). É o caso da multiplicação das plantas por métodos tradicionais como a estaca, a alporquia ou a mergulhia, por exemplo. Ao conjunto das plantas assim obtidas, todas geneticamente iguais (por isso igualmente vulneráveis a condições desfavoráveis: se uma praga se instalar, há tendência para serem dizimadas na totalidade…), chamamos clones. Hoje faz-se clonagem laboratorial de plantas em grande escala, de forma fácil e rápida, produzindo-se milhões de exemplares geneticamente iguais a partir de um dado progenitor. No entanto, a clonagem artificial de plantas (para multiplicar variedades com qualidades particulares, de árvores de fruto ou outras) é muito antiga, com milhares de anos, logo que o Homem, usando a inteligência, foi capaz de copiar o que já acontecia na Natureza.
Voltando às flores. Quando oferecemos um ramo de flores bonitas e de odor agradável estamos a ofertar os órgãos sexuais das plantas com cujas cores e aromas nos deleitamos. Porém, essas características não foram produzidas na Natureza para esse efeito. Cores e cheiros são «chamarizes» destinados a atrair os polinizadores (abelhas e outros insectos, aves e mesmo outros animais), que hão-de empoeirar-se no pólen (estrutura de que se originará o gâmeta masculino) e transportá-lo até à abertura dos carpelos, a fim de que chegue ao ovário onde se encontra o gâmeta feminino, para que haja fecundação cruzada (entre plantas diferentes), desse modo se obtendo maior diversidade genética dos descendentes. Daqui resulta o grande cuidado que devemos ter com os químicos que matam os insectos ou com a introdução de espécies exóticas que os eliminam, como acontece com a vespa velutina relativamente às nossas abelhas. Se não houver polinizadores não há polinização e não há produção de frutos. Naturalmente, quando o agente polinizador é o vento (como nos pinheiros ou no trigo) ou a água, como em certas plantas aquáticas, não há motivo para haver cores vivas nem aromas, que essas flores comummente não apresentam.
Na Natureza, vingam os seres vivos com características vantajosas; aqueles caracteres que não são vantajosos nem desfavoráveis podem manter-se aleatoriamente ao longo das gerações, mas os seres com características desvantajosas, que os prejudiquem na luta pela sobrevivência, são eliminados pela «selecção natural». Como o naturalista inglês Charles Darwin ensinou, em 1859.
José Batista d’Ascenção
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