domingo, 21 de julho de 2019

E se os professores passassem a usar bengala e chanatos rasos?

Fonte da imagem: aqui.
Desde sempre, tenho uma ideia positiva do conceito de velho aplicado às pessoas. Assim me educaram, assim o sinto, como, de resto, escrevi há tempos. Não ignoro porém a erosão das capacidades que a passagem do tempo acarreta, sobretudo nos que chegam à quarta idade…
Acontece que o modo como se olha para o outro é muito variável em função de factores psico-sócio-culturais, também eles mutáveis com os tempos e com a idade de cada um. Vem isto a propósito da média de idade dos professores em Portugal. Mais do que uma vez, tive oportunidade de ouvir jovens alunos entre os 14-16 anos referir-se a professores de que esqueceram ou nunca souberam os nomes, tentando identificá-los por descrição física. Mesmo tratando-se de colegas que eu julgaria (ainda) «jovens», na casa dos quarenta e tantos anos, na imagem que os alunos têm deles são, caracteristicamente, «velhos». Parece-me normal que seja assim.
Já me parece indesejável que, crescentemente, as crianças e jovens tenham como professores, apenas e só pessoas que eles vêem como velhos, associando-os a decrepitude e falta de actualização, senão mesmo incapacidade. Que, na docência, a experiência é um factor de valia inestimável, mas a energia, a ausência de dor, a boa visão e a boa audição são indispensáveis, sob pena de limitação ou impedimento das tarefas docentes, particularmente a leccionação. Idealmente, o corpo docente devia ser formado por pessoas de todas as idades, combinando o dinamismo, a disponibilidade e o entusiasmo dos mais novos com a experiência e a ponderação dos mais antigos. Não é o que se passa, hoje, nas nossas escolas. Com agravamento progressivo nos próximos anos. Até quando, não o sabemos, mas é possível antecipar algumas consequências não facilmente mensuráveis, como o prejuízo para as aprendizagens e o acentuar da degradação da já não propriamente boa imagem da «escola pública».
Da parte dos professores, e falando por experiência própria, confirmo os estragos da marcha do tempo. Serei/sou velho no sentido depreciativo com que me olham como velho. Mas não sinto vergonha, nem revolta, nem tristeza, pelo facto. Enquanto profissional, vejo à volta muitas pessoas (não todas) com marcas acentuadas da mesma natureza e pelas mesmas razões. Curiosamente, algumas delas parecem-me mais belas do que sempre foram, porque mais serenas, mais doces e mais sábias. Como fui perdendo a timidez com a idade, digo-lhes isso mesmo, não raro, quando as encontro casualmente ou estou com elas, com franqueza sincera, grata e reconfortante.
Como recebo invariavelmente sinais de agradabilidade, insisto neste meu compensador procedimento. E resolvo a dúvida que já me tem surgido: será que são sorrisos de cumplicidade ou condescendência com os meus sinais de velhice? Se forem, que sejam. Melhor assim.

José Batista d’Ascenção

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