Professsor Luís Aguiar-Conraria. Imagem do «Público». O título deste texto não é da sua autoria. |
Sob o título «Para lá dos exames, que escolas preparam melhor os alunos? As privadas ou as públicas?» Luís Aguiar-Conraria, economista professor da Universidade do Minho refere, em artigo publicado no jornal Público de ontem (na página 6 da versão impressa), o seguinte:
«Maria Conceição Silva (professora na Católica Porto Business School), Ana Camacho e Flávia Barbosa (professoras na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto) publicaram, há dois meses, na revista Omega — uma das melhores revistas internacionais na área de investigação operacional e de ciências de gestão —, um trabalho em que fazem um ranking alternativo das escolas secundárias. A originalidade desse ranking, por comparação com os que anualmente vários jornais fazem, é que, em vez de considerarem as notas dos alunos nos exames nacionais, analisam a sua performance no primeiro ano da universidade. Como as autoras dizem, o objectivo das escolas secundárias não é, ou não devia ser, apenas, o de preparar os alunos para os exames nacionais, mas também o de os preparar para ter sucesso no curso que escolherem, bem como no resto da sua vida. Ao avaliarem a performance do aluno no primeiro ano, através de três indicadores (o número de cadeiras feitas, as notas que tiram e a percentagem de estudantes que faz parte da elite do curso), avaliam, parcialmente, a segunda vertente. Os resultados a que as autoras chegam chocam pelo contraste: o ranking das escolas feito com base nas notas que os seus estudantes tiveram nos exames não tem qualquer relação com o ranking feito com base na performance dos estudantes do 1.º ano da universidade. Quando digo que não tem nada que ver, estou a pecar por defeito. Na verdade, a correlação entre os dois rankings é mesmo negativa! Por exemplo, entre as escolas que estão no top 5 dos rankings obtidos a partir dos exames nacionais, duas estão também entre as cinco piores quando se analisa a performance dos seus ex-alunos na universidade»
[…]
«Usando como critério as notas dos exames nacionais, as cinco melhores escolas da amostra são privadas e as cinco piores são públicas. Usando como critério a performance dos alunos do 1.º ano da universidade, as cinco melhores são públicas e as cinco piores são privadas.»
Na realidade, estes dados não chocam toda a gente. Por um lado, a Universidade do Porto já tinha produzido outros estudos a demonstrar o mesmo. Por outro lado, os professores do ensino secundário, entre muitas outras pessoas, também sabem que não se devem ensinar os alunos como quem «treina animais de circo». Os exames são úteis e necessários, mas não podem ser um fim absoluto ou único da aprendizagem dos alunos. Quem também sabe isto muito bem são os senhores jornalistas que tanto se têm empenhado na publicação de rankings baseados (apenas) nos resultados de exames.
Ora, esses rankings não foram publicados por acaso. Sabendo nós que eles não tornaram melhores as escolas públicas, que desqualificam desde 2001, nem as escolas privadas (senão no amestramento de alunos), resta perceber-lhes o motivo. E esse talvez se relacione com negócios a precisar de publicidade, mesmo que enganosa. A qual foi eficaz, deve notar-se.
José Batista d’Ascenção
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