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Em conversa curta com ex-aluna, que frequenta agora o primeiro ano de medicina na Universidade do Minho, fiquei a saber que um professor terá pedido aos alunos, no dizer dela, que «esqueçam tudo o que aprenderam até agora». Espanta-se aquele professor que os alunos cheguem ao primeiro ano de medicina a supor que um transporte activo se faz sempre ao contrário da tendência natural, digamos assim [contra o gradiente de concentrações, em termos técnicos]. Por outro lado, segundo a mesma aluna, o conceito de «osmose» é algo que, a bem dizer, na opinião desse professor, «nem existe…»
Soubesse aquele professor universitário o que os programas de biologia mandam ensinar e como ensinar, nalguns casos com conceitos que já estavam errados quando, em 2001 e 2003, foram homologados [por exemplo a ideia de que a levedura da panificação só fermenta na ausência de oxigénio, respirando quando este gás está presente, ignorando o cheiro a álcool da massa levedada que ocorre em qualquer atmosfera oxigenada – afinal, os padeiros não extraem o oxigénio dos compartimentos onde preparam a massa -, como se sabe desde sempre], e talvez se incomodasse mais ainda.
E se soubesse que há professores que, no desempenho de cargos de coordenação, fizeram listas específicas de conteúdos científicos que tentaram remeter pelas vias formais aos «centros de formação», para colmatarem as necessidades que sentiam de actualizar-se nas matérias que deviam ensinar com rigor, sem que vissem aprovada qualquer uma dessas propostas, talvez ainda achasse os factos mais inaceitáveis.
Quem sabe se aquele professor ignora que há tendências na escola que empurram os docentes no sentido de preocuparem menos em ensinar «conteúdos» e de incidirem mais em «cidadania, inclusão e formação integral» dos alunos», como se estas fossem possíveis sem aqueles? Predominando tais ideias, talvez os jovens que chegam às universidades não precisem de fazer esforço para esquecer quaisquer matérias, e poderão, então, aprender tudo de novo, como deve ser, embora com muito atraso na idade.
Já pedir a esse e a outros professores universitários que olhem para o que está escrito nos programas e nas «aprendizagens essenciais» introduzidas há dois anos, com base neles, e se pronunciem civicamente sobre esses documentos, talvez seja pedir muito. Esse pedido de análise justificava-se, porém, junto de organizações que têm preocupações com o ensino dos alunos do ensino secundário, como seja, neste caso, a «Ordem dos Biólogos», se os seus sócios assim o entendessem.
Donde, no mundo real do ensino continua a imperar a ineficácia e o descontentamento. Os que mais são (e continuarão a ser) prejudicados, mesmo sem se darem conta, são os filhos dos (mais) pobres. A despeito das estatísticas de «sucesso» do governo e dos dados de progresso da OCDE, que os respectivos funcionários (às vezes os mesmos) zelosamente divulgam e promovem.
José Batista d’Ascenção
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