sábado, 31 de outubro de 2020

Modalidades de ensino e desigualdades na aprendizagem dos alunos

Fonte da imagem: aqui.

Nesta altura, quase todos os (meus) alunos estão presencialmente nas aulas, as quais, tendo em conta os constrangimentos do presente, decorrem com (a) normalidade (possível).

Receio que mais alguns deles contraiam o novo coronavírus e que, por essa razão, aumente o número dos que ficarão temporariamente em casa. Claro que também pode acontecer que seja eu ou alguns dos meus colegas a ficarmos doentes ou de quarentena, o que aumentará as dificuldades com que nos confrontamos. E esses problemas podem generalizar-se se, com o agravamento do frio e da chuva, houver necessidade de fechar portas e janelas das salas de aulas, encerrando os alunos durante os períodos lectivos (que podem ser de noventa minutos) numa atmosfera húmida e viciada (até agora temos mantido janelas e portas abertas).

Confrontados com a adversidade, admitem-se alternativas e, entre elas, o que agora se chama “b-learning”: b de “blended”, com o significado de “mistura” de ensino presencial e à distância.

Ora, o ensino à distância já existe há muito tempo: a “telescola” funcionou entre nós, e relativamente bem, durante muitos anos, desde 1965, tendo sido retomada recentemente através da “RTP Memória” (com o nome de “Estudo em Casa”); eu frequentei o “ano propedêutico” em 1979/80, através da televisão; a “Universidade Aberta” é uma realidade, desde 1988; etc. Mas o ensino não presencial não funciona com as crianças e funciona mal com os adolescentes, por razões psico-afectivas, pedagógicas e sociais. Acontece que as condições económicas precárias são uma agravante de peso em grande número de famílias portuguesas. Convém salientar, por outro lado, que os problemas deste tipo não se resolvem com a hipotética atribuição de um computador a cada aluno, o que, de resto, já se tentou sem resultados palpáveis.

Temos, portanto, que fazer tudo para que os alunos frequentem fisicamente o espaço escolar, porque não temos nada melhor nem tão bom que o possa substituir.

Quanto a estrangeirismos como “b-learning” e outros podem perfeitamente traduzir-se para português escorreito. Não faltam expressões adequadas: naquele caso, talvez servissem “aprendizagem semi-presencial” ou mesmo “aprendizagem multiforme” ou “aprendizagem plurimodal”, por exemplo. “Ensino misto” ou “ensino híbrido” parecem-me formulações com significado ambíguo. A linguagem deve compaginar-se com a realidade, traduzindo-a e esclarecendo-a, muito especialmente no ensino. O fraseado da moda (indígena ou importada) confunde mais que resolve o que quer que seja. Nem nesta área se vislumbra qualquer solução revolucionária, justa e equitativa, nem as ilusões ou miragens, nacionais ou estrangeiras, são aconselháveis.

Qualidade, equidade e justiça na educação de todas as crianças são os objectivos a perseguir.

Com a desejável prudência de não descambar na “invenção da pólvora”.

José Batista d’Ascenção

domingo, 25 de outubro de 2020

A formação (des)necessária

Imagem obtida aqui.

Atarefado na elaboração e correcção de testes (versão 1 e versão 2 para cada turma, como passou a ter de ser quando os alunos deixaram de ter mesas individuais ou se sentam muito próximos, lado a lado) dei de caras com a solicitação, via correio electrónico, para me inscrever numa acção de formação intitulada «A formação desnecessária». Ainda agora hesito sobre se me hei-de inscrever ou não: Será necessária?

Desde há longos anos, principalmente quando a formação se tornou obrigatória para a progressão na carreira, que procuro ser criterioso na escolha da que devo frequentar. Nem sempre o consegui, que anos houve em que o ministério obrigou alguns professores à frequência de acções sobre avaliação de professores que mandou ministrar, o mesmo acontecendo com o GAVE/IAVE, a pretexto da imprescindibilidade de formação supostamente preparatória da classificação de exames nacionais. Neste caso, pese o empenho e a competência da formadora, as três que frequentei foram praticamente inúteis. Tanto que a quarta, que estava num contrato formal a que me obrigaram, já nem se realizou, suponho que por indisponibilidade financeira. Não se perdeu nada. E relativamente à «avaliação de desempenho docente», coisa alguma teve qualquer dignidade: na teoria e na trágica aplicação.

Não me alongo no registo de muitas outras actividades (supostamente) formativas, além das que (me) foram impostas hierarquicamente. Apenas direi que tenho pena que demoremos tanto a corrigir ou anular o que nasce torto ou que degenera relativamente às boas intenções, porque não posso eximir-me ao testemunho de que o sistema de formação de professores fornece(u) muito pechisbeque inaceitável, que não contribui(u) em nada para a melhoria do ensino.

Mas não há boa formação?

Claro que há. Alguma que fiz com o Professor Jorge Paiva, no terreno, foi do melhor que podia ter frequentado. E essa até era gratuita. Igualmente de superior qualidade é a formação disponibilizada pelo Centro de Ciência Viva de Estremoz. São dois exemplos.

No fundo, o que mata o ensino é a pouca importância dada à aprendizagem efectiva dos alunos e às condições necessárias para que os professores possam pô-la em prática. A burocracia e as patetadas formal e legalmente justificativas (as «evidências»!) traduzidas em “planos”, “projectos”, “grelhas”, “listagem de medidas”, “inquéritos digitas” e quejandos, sobrepõem-se ao trabalho real com os alunos reais e destinam-se a passar verniz sobre o falhanço do «sistema educativo».

Os professores precisam de estudar continuamente e de saber muito mais do que aquilo que lhes cabe ensinar. Ninguém ensina o que não sabe. E para isso é preciso que sejam bem preparados e libertados de toda a ganga burocrática, em discurso macarrónico, que assentou arraiais nas escolas.

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

A atitude com que alguns alunos encaram os seus deveres

Imagem adaptada, obtida aqui.

Acordáramos que a ficha de trabalho seria realizada em tempo de estudo e de treino em casa e que eu verificaria, na aula desdobrada, oito dias depois, a execução por cada um.

Todos fizeram excepto o B. E não deu nenhuma razão plausível para o facto. Não fez, simplesmente.

Iniciámos a correcção e, como costume meu, solicitei imediatamente o B. para o primeiro exercício.

Muito espantado, o aluno pediu a palavra, mas não propriamente para tentar responder, antes para perguntar, respeitosa, mas assertivamente:

- Se o professor sabe que não fiz o trabalho, nem me preparei, nem sei responder, porque me escolhe a mim para dirigir as perguntas?

Ao que respondi:

- Precisamente porque não trabalhou, vai trabalhar agora, com a ajuda de todos.

De seguida, acrescentei que, ao privilégio de poder vir à escola, tem que corresponder a obrigação de estudar e de fazer os possíveis por aprender. E, em insistência abstrusa, mais disse que, havendo tanta gente que pensa que não é assim, então, cabe a essas pessoas procurarem as escolas que premeiem a falta de aplicação, onde quer que existam.

Duas aulas depois, o B. (já) não fazia parte da lista de nomes da turma.

No dizer dos colegas, terá mudado de curso.

Será que se tinha colocado à experiência, para saber se gostava do «curso cientifico-humanístico de ciências e tecnologias»?


José Batista d’Ascenção

sábado, 17 de outubro de 2020

Perturbações comuns de professores e alunos neste Outono

Fonte da imagem: aqui

Obviamente imprescindíveis, as aulas presenciais decorrem nestes tempos de pandemia vírica com dificuldades múltiplas, entre as quais:

- o desconforto da máscara horas seguidas, afectando a dicção e a expressão;

- a necessidade de diminuir quer os movimentos nas aulas, quer as aproximações físicas, já de excessivas, devido ao número de alunos na generalidade das turmas, que torna o espaço lotado na maioria das salas;

- as actividades práticas reduzidas a demonstrações magistrais que implicam a inactividade e a passividade dos alunos, particularmente dos que se sentam no fundo da sala;

- a necessidade de desinfecções frequentes que obriga à colaboração de funcionários, professores e alunos na hiegenização dos espaços e do material usado nas aulas: mesas, teclado do computador, "rato", apagador, puxadores…;

- aulas mais sujeitas ao barulho nos corredores devido à circulação frequente durante os tempos letivos por causa do desencontro de horários, agravado pela recomendação de manter janelas e portas abertas;

- portas e janelas abertas durante as aulas vão, por outro lado, constituir um sério problema com a chegada próxima do frio e do vento típicos do Inverno, obrigando eventualmente a que professor e alunos se vejam forçados a fechá-las, encerrando-se, contra as normas, no espaço viciado da sala de aula;

- as limitações técnicas e de habilidade do ensino/apoio à distância, o qual funciona bem como meio complementar em tempo normal, mas não como método único e com diversos alunos com níveis de conhecimentos e dificuldades muito diferentes.

E porque os tempos mudam e (felizmente) temos nas escolas (também) um número significativo de crianças e jovens de outros países, mais difícil é para os professores promoverem a aprendizagem efectiva de tantos alunos com percursos escolares tão diversos. A individualização do ensino é um tema caro e clássico, mas impossível com salas cheias de aprendizes, onde a mobilidade (do professor) está limitada: o que já é difícil em condições normais, torna-se praticamente impossível em tempos que requerem mil cuidados de distanciamento físico. Por sinal, quinta-feira passada chegou-me mais um simpático e diligente aluno proveniente de Angola, a carecer de muito apoio, pelo que me foi comunicado.

Mas, de todos, o problema que (me) causa mais preocupação respeita à média de idades dos professores, às suas condições de saúde e estado anímico perante as teias burocráticas a que são submetidos.

Assim mesmo, far-se-á o possível.

José Batista d’Ascenção

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Preservação do património natural - postal dirigido ao Presidente da Câmara Municipal de Sintra

«Exºmo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Sintra


Dr Basílio Horta:


Creio que se interessa (tanto como eu) pela preservação do património natural do país (e do mundo) e, em particular, do que se situa no concelho de Sintra.

Por isso, concordará que não se pode permitir a degradação das pegadas de dinossauro de Pego Longo (Carenque).

Abordei este assunto com os meus alunos de 10º ano de escolaridade no âmbito da área transdisciplinar de cidadania.

À Câmara a que Vossa Excelência preside cabe desempenhar o estipulado no artigo 7º do Decreto nº19/97, de 05 de Maio.

Espero-o de si.

Com os melhores cumprimentos.

Sou: José Batista d’Ascenção, CC nº…

Braga, aos 12 de Outubro de 2020»


Seguiu hoje, em correio normal, como mera acção de cidadania.

Convidei os meus alunos a fazerem outro tanto, ainda que numa curta frase, ao gosto de cada um, em postal simples, num sobrescrito que lhes disponibilizo.

Alguns sugeriram outras acções, de que, a seu tempo, aqui farei registo.


José Batista d'Ascenção