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Nesta altura, quase todos os (meus) alunos estão presencialmente nas aulas, as quais, tendo em conta os constrangimentos do presente, decorrem com (a) normalidade (possível).
Receio que mais alguns deles contraiam o novo coronavírus e que, por essa razão, aumente o número dos que ficarão temporariamente em casa. Claro que também pode acontecer que seja eu ou alguns dos meus colegas a ficarmos doentes ou de quarentena, o que aumentará as dificuldades com que nos confrontamos. E esses problemas podem generalizar-se se, com o agravamento do frio e da chuva, houver necessidade de fechar portas e janelas das salas de aulas, encerrando os alunos durante os períodos lectivos (que podem ser de noventa minutos) numa atmosfera húmida e viciada (até agora temos mantido janelas e portas abertas).
Confrontados com a adversidade, admitem-se alternativas e, entre elas, o que agora se chama “b-learning”: b de “blended”, com o significado de “mistura” de ensino presencial e à distância.
Ora, o ensino à distância já existe há muito tempo: a “telescola” funcionou entre nós, e relativamente bem, durante muitos anos, desde 1965, tendo sido retomada recentemente através da “RTP Memória” (com o nome de “Estudo em Casa”); eu frequentei o “ano propedêutico” em 1979/80, através da televisão; a “Universidade Aberta” é uma realidade, desde 1988; etc. Mas o ensino não presencial não funciona com as crianças e funciona mal com os adolescentes, por razões psico-afectivas, pedagógicas e sociais. Acontece que as condições económicas precárias são uma agravante de peso em grande número de famílias portuguesas. Convém salientar, por outro lado, que os problemas deste tipo não se resolvem com a hipotética atribuição de um computador a cada aluno, o que, de resto, já se tentou sem resultados palpáveis.
Temos, portanto, que fazer tudo para que os alunos frequentem fisicamente o espaço escolar, porque não temos nada melhor nem tão bom que o possa substituir.
Quanto a estrangeirismos como “b-learning” e outros podem perfeitamente traduzir-se para português escorreito. Não faltam expressões adequadas: naquele caso, talvez servissem “aprendizagem semi-presencial” ou mesmo “aprendizagem multiforme” ou “aprendizagem plurimodal”, por exemplo. “Ensino misto” ou “ensino híbrido” parecem-me formulações com significado ambíguo. A linguagem deve compaginar-se com a realidade, traduzindo-a e esclarecendo-a, muito especialmente no ensino. O fraseado da moda (indígena ou importada) confunde mais que resolve o que quer que seja. Nem nesta área se vislumbra qualquer solução revolucionária, justa e equitativa, nem as ilusões ou miragens, nacionais ou estrangeiras, são aconselháveis.
Qualidade, equidade e justiça na educação de todas as crianças são os objectivos a perseguir.
Com a desejável prudência de não descambar na “invenção da pólvora”.
José Batista d’Ascenção