domingo, 25 de outubro de 2020

A formação (des)necessária

Imagem obtida aqui.

Atarefado na elaboração e correcção de testes (versão 1 e versão 2 para cada turma, como passou a ter de ser quando os alunos deixaram de ter mesas individuais ou se sentam muito próximos, lado a lado) dei de caras com a solicitação, via correio electrónico, para me inscrever numa acção de formação intitulada «A formação desnecessária». Ainda agora hesito sobre se me hei-de inscrever ou não: Será necessária?

Desde há longos anos, principalmente quando a formação se tornou obrigatória para a progressão na carreira, que procuro ser criterioso na escolha da que devo frequentar. Nem sempre o consegui, que anos houve em que o ministério obrigou alguns professores à frequência de acções sobre avaliação de professores que mandou ministrar, o mesmo acontecendo com o GAVE/IAVE, a pretexto da imprescindibilidade de formação supostamente preparatória da classificação de exames nacionais. Neste caso, pese o empenho e a competência da formadora, as três que frequentei foram praticamente inúteis. Tanto que a quarta, que estava num contrato formal a que me obrigaram, já nem se realizou, suponho que por indisponibilidade financeira. Não se perdeu nada. E relativamente à «avaliação de desempenho docente», coisa alguma teve qualquer dignidade: na teoria e na trágica aplicação.

Não me alongo no registo de muitas outras actividades (supostamente) formativas, além das que (me) foram impostas hierarquicamente. Apenas direi que tenho pena que demoremos tanto a corrigir ou anular o que nasce torto ou que degenera relativamente às boas intenções, porque não posso eximir-me ao testemunho de que o sistema de formação de professores fornece(u) muito pechisbeque inaceitável, que não contribui(u) em nada para a melhoria do ensino.

Mas não há boa formação?

Claro que há. Alguma que fiz com o Professor Jorge Paiva, no terreno, foi do melhor que podia ter frequentado. E essa até era gratuita. Igualmente de superior qualidade é a formação disponibilizada pelo Centro de Ciência Viva de Estremoz. São dois exemplos.

No fundo, o que mata o ensino é a pouca importância dada à aprendizagem efectiva dos alunos e às condições necessárias para que os professores possam pô-la em prática. A burocracia e as patetadas formal e legalmente justificativas (as «evidências»!) traduzidas em “planos”, “projectos”, “grelhas”, “listagem de medidas”, “inquéritos digitas” e quejandos, sobrepõem-se ao trabalho real com os alunos reais e destinam-se a passar verniz sobre o falhanço do «sistema educativo».

Os professores precisam de estudar continuamente e de saber muito mais do que aquilo que lhes cabe ensinar. Ninguém ensina o que não sabe. E para isso é preciso que sejam bem preparados e libertados de toda a ganga burocrática, em discurso macarrónico, que assentou arraiais nas escolas.

José Batista d’Ascenção

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