Charles Darwin [imagem obtida via «Google»] |
Há alguns anos, num exercício de formação obrigatória prestada pelo GAVE/IAVE, nós, os formandos, fazíamos a discussão de uma resposta bastante defeituosa, dada em exame (de um ano anterior), para aferirmos a classificação (que teria sido) mais justa naquele caso específico.
A questão pretendia uma fundamentação baseada na teoria darwinista da evolução e a resposta em análise, bastante confusa, incluía uma referência atabalhoada à importância do «uso e do desuso» na modificação dos órgãos dos seres vivos.
Ora, a «lei do uso e do desuso», que traduzimos vulgarmente pela frase «a função faz o órgão» foi proposta primeiramente pelo evolucionista Jean-Baptiste de Monet (1744-1829), conhecido por Lamarck, que é anterior a Charles Darwin (1809-1882).
Acontece que Darwin, conhecedor profundo do trabalho de Lamarck, considerava, como ele, «o uso e o desuso” na modificação dos seres vivos e a transmissão à descendência das características adquiridas por essa via. Isso está abundantemente registado e exemplificado na sua obra «On The Origin of Species» publicada pela primeira vez em Londres, em 1859. A primeira tradução para português dessa obra só aconteceria mais de 50 anos depois, em 1913, pelo médico Joaquim Dá Mesquita Paul. O jornal «Público» republicou-a recentemente. Nesta tradução, as referências ao «uso e desuso» encontram-se, salvo erro, em 25 das suas 506 páginas.
Contudo, Darwin explica a evolução de modo inovador, relativamente aos evolucionistas anteriores, com uma fundamentação extensa e profunda, dificilmente rebatível no essencial.
Voltando ao trabalho de discussão daquela resposta dada em exame (de que ignorávamos a cotação atribuída), o “consenso” obtido então (longe da unanimidade, no entanto) foi o de que se devia descontar na classificação a atribuição “errada” de uma perspectiva lamarckista à fundamentação darwinista pretendida. Foi assim, erradamente.
O ensino/aprendizagem de crianças e jovens requer, obviamente, simplificações e analogias que facilitem a aquisição e a compreensão do conhecimento. Mas não é incomum a adulteração do fundamental, restringindo a substância do saber a fórmulas feitas que, longe de incentivar e apaixonar, formatam errónea e persistentemente mentalidades e raciocínios e matam o gosto de aprender.
No domínio das ciências, também foi assim que se formaram/formataram os professores. O que não facilita nem enobrece a sua função e suponho que contribui (largamente) para o descrédito que a ignorância atribui ao valor do conhecimento científico.
Em Portugal e no mundo.
José Batista d’Ascenção
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