terça-feira, 2 de março de 2021

Membrana celular e sistema endomembranar (II)

Texto destinado a alunos do 10º ano de escolaridade, motivo por que procura seguir as regras ortográficas de 1990

Imagem obtida aqui.

As vesículas endocíticas, caso contenham substâncias a digerir, movem-se no citoplasma ao encontro de outras vesículas cujo conteúdo é formado por enzimas digestivas (as quais têm de estar contidas, senão atacavam, por hidrólise, os próprios componentes celulares…). Essas vesículas são chamadas lisossomas. Da fusão entre as duas entidades resulta uma vesícula maior, designada vacúolo digestivo, em alusão à sua função. Após a digestão, as partículas mais simples, podem então atravessar a espessura da membrana e passar para o citoplasma, onde vão ser utilizadas.

Os lisossomas são originados em organelos membranares que formam o Complexo de Golgi (CG). Esta estrutura corresponde a uma série de conjuntos de sáculos achatados e empilhados (dictiossomas), sendo que cada conjunto cresce por coalescência e fusão de vesículas com conteúdo provenientes de estruturas próximas como a rede de cisternas membranares que se distribuem pelo citoplasma e que se designa Retículo Endoplasmático (RE). Na zona oposta de cada dictiossoma formam-se abundantes vesículas a partir dos sáculos, com os produtos maturados (enzimas, glicoproteínas, e polissacarídeos, por exemplo), cujos destinos são os diferentes locais da célula ou o exterior.

Quando ao RE se associam ribossomas, organelos não membranares que unem aminoácidos em cadeias proteicas (mediante ligações peptídicas), segundo uma ordem específica (estrutura primária de cada proteína), a face membranar virada para o citoplasma apresenta-se rugosa nas observações ao microscópio, pelo que a esse retículo foi aposto o nome de Retículo Endoplasmático Rugoso (RER). O RER acondiciona temporariamente e faz distribuir as mais diversas proteínas para os seus destinos, em particular o CG. O trânsito destas proteínas faz-se no interior de vesículas que se formam e destacam do retículo, migrando até se fundirem com a membrana da face mais próxima de cada conjunto de sáculos do CG (face de formação). 

Há extensões do Retículo Endoplasmático que não estão estreitamente associadas a ribossomas. Nestes casos, não apresentam um aspeto rugoso, nas observações ao microscópio, pelo que se lhe chama Retículo Endoplasmático Liso (REL). O REL está envolvido na síntese e distribuição de hidratos de carbono, lípidos e hormonas. Também aqui, o “empacotamento” e distribuição de materiais ocorre pela formação e migração de vesículas.

Acontece que todo o retículo de cavidades e sáculos membranares é afinal contínuo entre si e desenvolve-se mais ou menos no interior da célula de acordo com a intensidade do seu metabolismo, num dinamismo constante. Comos antes dito e repetido, o CG “constrói-se” por fusão de vesículas provenientes do retículo, na face de formação dos dictiossomas, e “consome-se” na face oposta (face de formação) num processo de que se originam novas vesículas, as quais se destacam e transportam os materiais sintetizados e preparados para outras regiões da célula ou exportam-nos para o exterior dela - fenómeno de secreção - por exocitose.

Mas não é tudo, as membranas do retículo são uma extensão física da membrana externa do invólucro nuclear (IN). O invólucro nuclear é uma dupla membrana que abriga o material genético, que comanda a célula. Entre as duas membranas há um espaço. E é este espaço intermembranar que se continua pelo interior das cisternas do retículo.

Em resumo: para além da constituição fundamental e da estrutura básica comuns a todas as membranas, há interconversão e continuidade das membranas biológicas das células eucarióticas, desde a membrana mais externa do IN, às cisternas, túbulos e sáculos do RE, a que se segue o CG, passando pelas mais diversas vesículas contidas no citoplasma, até à membrana citoplasmática que delimita a célula. Ao sistema de membranas do interior da célula com estas relações e interconexões chamamos sistema endomembranar (endo = dentro). A ordem pela qual, resumidamente, referimos os seus componentes podia ser a inversa.

Acrescente-se apenas que organitos “semi-autónomos” como o cloroplasto e a mitocôndria não fazem parte do sistema endomembranar, por razões que estudaremos mais tarde.

José Batista d’Ascenção

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