Qualquer análise das classificações dos alunos do ensino secundário, púbico e privado, particularmente nas disciplinas sem exame, faz ressaltar tamanha abundância de dezanoves e vintes que devia fazer soar os alarmes da decência e da prudência.
As razões são múltiplas, facílimas de evidenciar, mas difíceis de assumir e, sobretudo, de resolver. Se eu soubesse ser cauteloso não escrevia isto, mas não posso deixar de o fazer.
Os negócios relacionados com o ensino, que os famosos «rankings» estimulam, da atracção de alunos à venda de explicações (sempre justas se são boas, digo eu, que nunca cobrei nada por nenhuma), encerram os factores principais.
Mas não só. Como escasseiam horas para professores, alguns cedem à tentação das boas “notas”, particularmente nas disciplinas opcionais sem exame, como chamariz de alunos para as suas disciplinas e factor de preenchimento dos seus horários. Assim, não são poucos os alunos que fazem opções a pensar em médias em detrimento de conteúdos disciplinares.
No meio disto, muitos pais abrem os cordões à bolsa e/ou apertam o cinto e pressionam os professores, directa ou indirectamente, para atribuírem classificações altas. E os próprios alunos o fazem, não raro sem qualquer pudor. Descendentes e progenitores também ameaçam com reclamações, que sempre se traduzem em castigo burocrático para os docentes, mesmo que falhem o objectivo principal.
Outro efeito colateral é o recurso aos copianços, que os meios tecnológicos tornaram quase impossíveis de combater. E que alunos e muitos pais passaram a considerar não uma fraude, mas um “direito”.
É preciso assumir o descalabro, e tomar medidas legais e pedagógicas que lhe ponham cobro.
José Batista d’Ascenção