sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Algo mais sobre os períodos em que deve organizar-se o ano lectivo

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No jornal “Público” de hoje (página 50), Filinto Lima (FL) responde à crítica que lhe tinha sido dirigida por José Eduardo Lemos (JEL) na semana passada, no mesmo jornal, sobre o número de períodos do ano lectivo, que Filinto Lima pensa que deve ser dividido em dois semestres, com o objectivo de aumentar o sucesso escolar.
Afirma FL que JEL “foi incapaz de apresentar uma única vantagem para a trimestralidade dos períodos letivos”. Sem responder por outros, parece-me que há vantagem em haver um momento formal de avaliação ao fim de três meses e tal de aulas, que dê um claro “feedback” a alunos e aos seus encarregados de educação sobre o estado das aprendizagens, mormente nos anos iniciais de ciclo, por exemplo no secundário, no 10º ano, e muito particularmente quando os alunos mudaram de escola. Quanto mais tardios mais ineficazes se tornam quaisquer planos de recuperação e remediação. Por outro lado, os momentos de avaliação formais ainda funcionam como motivo de pressão para muitos alunos se esforçarem mais um pouco. Todos sabemos que há hoje, no básico, mas também no secundário, uma enorme (e muito discutível) pressão para que se consiga sucesso a qualquer preço, ainda que fictício, como na realidade acaba por ser (e nem precisávamos que fosse assim: se se quer sucesso artificial, traduzido na passagem de alunos, pois que os alunos “progridam”, se os pais e as hierarquias o desejarem, mas sem se obrigar os professores a aldrabar os resultados). Pergunto: como é que eu vou motivar alunos com alguma lassidão e sem hábitos de trabalho a dedicarem-se mais um pouco, lá por alturas de Outubro ou Novembro, se as “notas” só vão sair lá para Fevereiro do ano seguinte? Temo que seja um forte estímulo a que esses alunos “empurrem com a barriga para a frente”, como é tão tipicamente português…
Diz FL que “a partir do próximo ano letivo, em pelo menos uma escola púbica haverá períodos semestrais para promover o sucesso escolar”. Aprecio a intenção de promover o sucesso, que não tem nada de original nem de invulgar, mas fica por demonstrar que a semestralidade dos períodos seja factor relevante para o conseguir. Restam a vontade e a convicção de FL, que me parece pouco e eu gostaria que não redundasse em mais pressão para os professores da escola que ele dirige obterem sucesso de qualquer jeito, nem que seja para ficar nas boas graças do director…
Outro objectivo de FL é a redução do trabalho burocrático dos professores. Louvável, em minha opinião. Mas eu preferia que ele lutasse para que os diferentes cargos dos professores, tão prenhes de requisitos e procedimentos absurdos e inúteis, como está, por exemplo, o de director de turma, fossem reduzidos à sua dimensão útil e eficaz, libertando os professores, como recomenda Galopim de Carvalho, “de, praticamente, todas as tarefas que não sejam as de ensinar” (in: https://www.facebook.com/Prof.Galopim). Creio até que, se assim fosse, FL teria do seu lado a imensa maioria dos professores. E tenho por certo que, então, haveria também mais sucesso, já que não há “milagres” para o alcançar, muito menos com base na calendarização dos períodos lectivos.
Aqui chegados, destaco outro ponto: FL tem uma convicção e desejará que seja aplicada em todo o país. Eu pedia-lhe que começasse por pôr o assunto à discussão, para que o mesmo seja debatido por todos os interessados: alunos (estou a referir-me aos de mais idade…), encarregados de educação, professores e sociedade, a fim de sabermos ou tentarmos discernir o caminho que indubitavelmente pareça melhor.
Caso contrário ainda acabamos em situações dispensavelmente originais. Tão originais como a das universidades portuguesas, provavelmente os únicos sítios (admito eu) em que os semestres lectivos têm, “classicamente”, três meses ou menos. Sem que ninguém ache estranho.
O que não precisamos seguramente é de aumentar e multiplicar problemas das escolas, somando-os a todos aqueles que, cronicamente, nunca resolvemos.

José Batista d’Ascenção

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