terça-feira, 12 de setembro de 2017

Facilitismo para o século XXI – opinião de Jorge Buescu (In: jornal “Público” de 12 de Setembro de 2017, página 46)

Para Jorge Buescu, Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, a flexibilização curricular – em sua opinião, uma “profundíssima reforma curricular” –, que o Ministério da Educação (ME) iniciou em meados de Agosto último, é profundamente destrutiva do nosso tecido educativo, porque “as disciplinas actualmente leccionadas ficarão, em média, com menos 25% das aulas, o que significa que “haverá um corte efectivo de até 25% dos conteúdos a leccionar nas disciplinas actuais – podendo estes cortes variar de escola para escola e até de professor para professor.”
Estas alterações não foram acompanhadas “de um processo de discussão pública e esclarecimento de pais e alunos” e vão entrar em vigor este ano lectivo, escassas “três semanas depois da sua divulgação!”, em 240 escolas piloto, sendo intenção do ME alargá-las “a todo o universo escolar português em 2018/19.”
Os conteúdos das diferentes disciplinas que continuam a fazer parte da aprendizagem comum a todas as escolas constituem o que foi chamado “Aprendizagens Essenciais” (AE). Segundo Jorge Buescu, “estes documentos curriculares são extremamente vagos, sendo na prática inúteis enquanto orientação eficaz do ensino. No caso da Matemática as AE padecem ainda de graves falhas científicas. […] Aquilo que os alunos sujeitos, já no ano de 2017/18, a esta delirante experiência vão aprender no 10º ano é […] menos do que o programa de 2014, e é também menos do que o programa de 2002. […] Os conteúdos de matemática retrocedem mais de 20 anos. Alunos que nesta semana iniciem qualquer […] ciclo de ensino vão aprender menos matemática do que os seus colegas do ano passado!”
A concluir, Jorge Buescu refere: “O ministro da Educação […] sabe bem que a Matemática é uma ciência extremamente estruturada e cumulativa, na qual aprender menos é saber menos. Custa a acreditar que esteja a promover uma reforma tão dissolvente do conhecimento, do rigor e da exigência como a que está em curso”[…].

O respeito que sinto pelo Professor Jorge Buescu faz com que não possa deixar de registar aqui as suas opiniões sobre tão importante matéria.

José Batista d’Ascenção

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