Imagens da divisão celular por mitose em células do ápice de raiz de cebola (Allium cepa L.), coradas com orceína acética. [ESCA, Outubro de 2019] |
Tenho para mim que a vida é um exame permanente, a que cada um vai respondendo conforme as suas circunstâncias e de acordo com as suas capacidades e possibilidades. Por essa razão primordial, concordo e defendo a realização de exames nos fins de ciclo da escolaridade obrigatória.
Dito isto, acrescento (também) que a elaboração de provas de exame deve obedecer ao estabelecido nos programas das diferentes disciplinas e respeitar (e incentivar) o esforço de quem aprende e o trabalho de quem ensina. Digo-o pensando no tipo de provas de exame nacional da disciplina de biologia e geologia do ensino secundário que têm sido aplicadas desde 2006. E quando refiro as provas, englobo não só o modo como são elaboradas certas questões (a fazer lembrar charadas de espíritos não propriamente apaixonados pelas matérias), como as respostas e os critérios com que são classificadas. Neste âmbito, há quem insista na necessidade de formação de professores, formação para elaborar questões segundo os modelos de exame e para as classificar, note-se, o que me parece desfocado do essencial: os professores precisam (muito) de (muita) formação mas sobre a vastidão de conteúdos que devem ensinar, dispensando que os entranhem em modos arrevesados ou obtusos de conceber questões, em prejuízo da simplificação e da clareza dos enunciados, até para tornar efectiva a redução dos extraordinários gastos de papel, exigidos para dar vazão a inumeráveis perguntas de opção, por exemplo. O ambiente e a economia (do país, das escolas e das pessoas…) agradeciam.
Tudo o que antes disse vem a propósito das aulas práticas que fiz (como os meus colegas fizeram) o mês passado, nas minhas turmas de 11º ano, sobre divisão de células nucleadas, por um processo típico, chamado «mitose», mediante o qual cada célula origina duas que são cópias genéticas da célula-mãe. Este processo de divisão celular está na base do crescimento, da regeneração de tecidos, da substituição de células mortas e em todos os processos de reprodução não sexuada de seres com células com núcleo (células eucarióticas, razão por que esses seres se chamam seres eucariontes).
Ora, os alunos participaram nos trabalhos com entusiasmo, fizeram preparações de células da extremidade da raiz de cebola, observaram-nas ao microscópio óptico (com ampliações de 600x) e fotografaram-nas com os seus telemóveis. Gostaram da actividade prática, foram capazes de executar os diferentes passos com destreza razoável e entenderam bastante bem o processo. Quando fizeram uma ficha específica sobre esse trabalho corresponderam sem dificuldades.
Agora, a relação dos terceiro e quarto parágrafos deste texto com o primeiro e o segundo: Nos exames nacionais, isto raramente lhes é perguntado e, quando o é, leva tais voltas que boa parte dos alunos, senão a maioria, não são capazes de responder. Eu próprio, como os alunos, chego a ter dificuldade em saber exactamente o que que as perguntas perguntam.
A questão que se (me) levanta é esta: quem ganha o quê com isso?
José Batista d’Ascenção
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