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Quem há muitos anos anda na lida das escolas do ensino básico e secundário, especialmente se é professor (e dá aulas), sabe como a terminologia e os procedimentos formais recomendados mudam ao sabor de quem ocupa posições de influência normativa, como se se tratasse de inovações de relevo, não obstante o carácter requentado ou desusado de propostas que, em tempos passados e lugares diversos, nada mostraram para além do comum e, às vezes, inadequado. Quando «introduzidas», a pressão exercida sobre os docentes só tem paralelo na aversão e desânimo que causa naqueles que não abdicam de um módico de lucidez e no entusiasmo com que outros se agarram fugazmente a uma suposta «tábua de salvação» que, em breve, os atira para o desejo de que outra coisa qualquer lhes traga nova e mais auspiciosa ilusão. Ainda que passageira. E não se sabe qual é o sofrimento mais doloroso, se o dos que não se deixam iludir, se o dos que almejam por quaisquer utopias, mesmo que pobrezinhas.
Desta vez, com tamanha pressão formal de que é preciso formar cidadãos para uma sociedade inclusiva, carrega-se na «cidadania» e na «inclusão», a fim de que se consiga encaixar os alunos no perfil legal que lhes desenharam para a saída de cada ciclo de ensino. Perfis cheios de exigências que devia ser supérfluo enunciar, se a escola funcionasse (isto é, se tivesse condições para funcionar) como devia. E parece que nos alheamos do facto de que é preparando os alunos e munindo-os de algum corpo de conhecimentos: linguísticos, filosóficos e científicos, que deviam aprender nas escolas, que se obtém a cidadania e se consegue incluir os jovens na sociedade. A cidadania não é um revestimento que se exibe em certas ocasiões para funcionar como evidência a avaliar numa classificação, nem a inclusão é um verniz para disfarçar temporariamente as deficiências que hão-de atirar às feras os seus portadores, quando já não servirem para justificar uns quantos empregos (que não os dos próprios). A cidadania ou é dignamente sóbria e efectiva e permanente, como se deve exigir (depois de dar o exemplo), ou, sendo exibida em sessões marcadas, não merece o nome. E a inclusão ou se faz preparando cada um para o que está ao seu alcance ou é uma sementeira de frustrações a breve prazo.
Ora, como é preciso avaliar toda a gente a todo o momento, como se o produto do que os alunos fazem e aquilo que são ou manifestam não fosse evidente, tem ainda que se arranjar umas metodologias que consigam o milagre de todos terem sucesso. Ainda que fingido. Desta feita, tornou-se moda, nas escolas, o recurso a uma «figura» supostamente diferente no estímulo à aprendizagem e na eficácia da recolha dos dados de sucesso, mesmo os mais «recônditos», que dá pelo nome de “questões de aula”. Basicamente é um conjunto de perguntas ou uns exercícios que os alunos fazem nas aulas e que os professores levam para casa e «corrigem», atribuindo uma cotação. Não dá para acreditar, é certo. Mas é isto. Sempre se fez e sempre valeu o que valeu. Agora revisitamo-lo sob um nome… falho de pertinência.
Não se sabe por quanto tempo durará a designação. Sabe-se apenas que não traz nada de novo.
José Batista d’Ascenção
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