sábado, 27 de junho de 2020

Ainda sobre «rankings»: Por que é que não foram publicados no Outono passado e o são agora?


Capa do suplemento especial do jornal
 «Público» de 27 de Junho de 2020 
Os ordenamentos de escolas com base nos resultados de (alguns) exames publicados nos jornais portugueses desde 2001 não podiam traduzir seriamente a qualidade dos professores e das escolas por motivos (bem) fundamentados. Elucidativo, sobre essa matéria, é o artigo intitulado «Rankings, esse território de basbaques e pavões», da autoria do Professor Alberto Amaral, na página 15 do jornal «Público» (versão em papel) de 23 de Setembro de 2019.
Tais ordenamentos de escolas saíram agora, no final do ano lectivo, antes da realização dos exames que estão próximos. Que razões específicas há ou houve para a mudança, não sei. Mas existem, seguramente.
No «Público» de hoje, o director Manuel Carvalho escreve, em editorial, que «os rankings não servem para criar hierarquias de escolas no sistema, mas antes para as subtrair a uma espécie de condenação natural.» Não percebo como pode sustentar tal opinião. 
Claro que um dos problemas sérios destes ordenamentos traduziu-se na desqualificação artificial da escola pública e na promoção da escola privada.
Certo que um jornal como o «Público» sempre procurou enquadrar os resultados publicados e trazer à discussão a opinião de intervenientes (professores, alunos) e especialistas na análise da matéria.
O que não anula o «erro» de base e as suas consequências.

José Batista d’Ascenção

Melhor escola da Europa a ensinar Ciência desconsiderada nos «rankings».

Os «rankings» com base nos exames nacionais, «despromovem» a Escola Secundária de Alcanena, que, no fim do Verão passado, foi a mais bem classificada entre mil pela União Europeia
Capa do jornal «Público» de 17 de Setembro 2019
No dia 17 de Setembro de 2019, o jornal «Público» titulava a toda a largura no topo da página 18: «Escola de Alcanena é a melhor da Europa a ensinar Ciência». Em sub-título, escrevia-se: «Desde o pré-escolar que os alunos contactam com esta área e a das Tecnologias e chegam ao secundário a fazer investigação em parceria com universidades. Trabalho foi premiado por rede europeia.» Esta notícia tem chamada na capa, na parte mais visível, à direita. No seu desenvolvimento pode ler-se: «Entre as mais de 1000 escolas envolvidas, a de Alcanena foi a mais bem classificada».
Um feito, portanto.
Ora, em ordenamento do jornal «Público» de 27 de Junho de 2020, a Escola Secundária de Alcanena (ESA) surge no lugar 124º do «ranking de exames». Se especificarmos para as disciplinas de ciências, temos:
Matemática A – posição 272;
Física e Química A – posição 135;
Biologia e Geologia – posição 43.
Assim, em termos globais, de acordo com o ordenamento do «Público», há mais de uma centena de escolas secundárias em Portugal ainda melhores do que a de Alcanena, e por isso o ensino em Portugal devia estar muito bem.
Mas há, obviamente, outras possibilidades, entre as quais:
i) O prémio atribuído internacionalmente não ter sido consistente e poder ter havido algum erro de apuramento;
ii) Os exames nacionais (que têm sido feitos) não medirem as reais capacidades dos alunos [objectivamente, as provas de exame de algumas disciplinas nem sempre respeitam ou contrariam mesmo as orientações específicas taxativas dos programas, como tem acontecido no caso da disciplina de biologia e geologia];
iii) Os «rankings» feitos apenas com base em exames poderem ser artificiais e injustos.
Como não é crível que a primeira hipótese seja verosímil, dado que envolveu uma rede de muitos estabelecimentos de ensino ligados a universidades, num projecto («STEM School Label») que aposta no ensino das «Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemática» (STEM), restam as outras duas, sendo que, nas condições formuladas, a terceira possibilidade é afectada pela segunda, por razões óbvias.
Assim, convinha que os jornais explicassem muito bem, como o «Público», de resto, se tem esforçado por fazer, estas desconformidades objectivas dos «rankings», os quais, em termos gerais, se têm traduzido numa degradação da imagem da «escola pública».
Pela minha parte, não tenho dúvidas de que o prémio europeu da Escola Secundária de Alcanena deve ser inteiramente merecido.

José Batista d’Ascenção

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Últimas aulas do ano lectivo

Imagem de arquivo
Custam(-me) sempre, as despedidas.
Hoje, de manhã, à distância, e de tarde, presencialmente, perante os alunos que acompanhei durante o décimo e o décimo primeiro anos, confessei(-lhes) que, se o aluno fora eu, e tivesse um professor que nunca faltou, e que nem se lembra de ter chegado atrasado a qualquer aula durante os dois anos, e que logo que o confinamento foi levantado, voltou a correr para a escola, a que chegava largos minutos antes da hora, consequência de uma vontade inexplicável de dar aulas reais, confessei(-lhes), repito, que talvez desejasse profundamente que um grande elefante caísse em cima de tal professor.
Sorriram e disseram que não, acrescentando palavras simpáticas, que não retive.
Deixaram de ser meus alunos (ou talvez ainda não, pela minha parte…), e hão-de seguir pela vida fora.
Enchi o peito e desejei-lhes felicidades.
Que mais pode um professor dizer?

José Batista d’Ascenção

segunda-feira, 22 de junho de 2020

O que pode a tecnologia, desde que…

Fonte da imagem: aqui.
Nos últimos dias (ou noites) fiquei impressionado com o número de satélites (pretende-se que sejam dezenas de milhar) que uma empresa de Elon Musk está a colocar em órbita.
Lançados a partir de «foguetes», os «comboios» de satélites seguem a alta velocidade, alinhados e a tremeluzir, em espectáculo digno de ser apreciado.
Pese embora a perturbação que podem causar por outros motivos (designadamente as interferências nas observações dos astrónomos), e sabendo nós que hão-de acabar como lixo a enxamear o espaço, o objectivo de proporcionar acesso à rede de internet em todo o mundo é deveras louvável.

E então pode dar-se o facto maravilhoso de eu (poder) usar uma aula das minhas para que, com pouca e barata tecnologia, alguém de vasta sabedoria e generosidade, me ajude a ensinar os meus alunos. Aconteceu esta tarde numa videoconferência feita pelo Professor Galopim de Carvalho sobre “magmatismo e vulcanologia”.

Milagres da tecnologia, claro. Ainda assim subordinados à boa vontade de quem põe o seu tempo e os seus conhecimentos ao serviço da comunidade, designadamente dos jovens estudantes.
São infinitos, o meu apreço e a minha gratidão.

José Batista d’Ascenção