Quando surgiu o chamado «Novo Acordo Ortográfico», receei que as coisas piorassem, e nunca percebi como é que se podia acreditar nos objectivos a que se propunha. E não era pela crítica furiosa de Vasco Graça Moura, que se me afigurava demasiado cortante. Era, simplesmente, por me parecer inviável: internamente desnecessário e contraproducente e externamente irrealizável.
Segundo Maria Regina Rocha, relativamente a Portugal e ao Brasil, «havia 569 palavras diferentes que se tornaram iguais e 1235 palavras iguais que se tornaram diferentes.» Com o Acordo Ortográfico, aumentou [para mais do dobro] o número de palavras que se escrevem de forma diferente! (1).
E escreve-se pior do que antes, jornalistas encartados, incluídos, diplomados do ensino superior e mesmo professores universitários. As legendas das televisões são tristemente reveladoras, tanto nas estações públicas como nas privadas.
Concordo inteiramente com os textos críticos da nova grafia e do modo como se ensina a língua portuguesa nas escolas, atribuídos a Teolinda Gersão.
Este ano lectivo, que ainda vai no início, já me surgiu mais do que uma vez, escrita por alunos, a palava «excessão» em lugar de «exceção», que eu escrevo (fora da escola) «excepção». Penso que este erro é filho do dito «Acordo Ortográfico». Se, correntemente, escrevêssemos «excepção», era mais difícil alguém dobrar o «ésse» a seguir a um «pê», creio. Para além de a palavra ficar amputada da sua raiz, diferentemente do que acontece noutras línguas em que deriva do mesmo étimo, permite desvarios desconcertantes, como é o caso.
Sublinho sempre os erros ortográficos dos alunos em todos os materiais que recolho deles e verifico e avalio. Porém, não sinto que a generalidade deles dêem relevância às minhas recomendações e penso que, muito menos, se apercebem do meu desgosto.
A revisão da grafia formal do português de Portugal é urgente e terá que ser feita mais tarde ou mais cedo.
Quanto mais tarde, pior.
(1) In: «Por Amor à Língua Portuguesa». Manuel Monteiro. Objectiva. 1ª ed. 2018. Pg. 151 e 163.
José Batista d’Ascenção
Muito obrigado por esta reflexão tão sentida e actual. Por favor continue assim.
ResponderEliminarUm abraço grande
Eu é que agradeço, um comentário tão reconfortante. Quem quer que seja, receba um abraço de muita estima.
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