domingo, 2 de junho de 2024

Estudos sobre o ensino em Portugal antes e depois do 25 de Abril revelam mais do que as suas conclusões

Sob coordenação de David Justino, saíram com o jornal «Público», no passado mês de Maio, quatro volumes sobre como foi, como é e como se supõe que deve ser a educação do futuro, de acordo com uma selecção de vários investigadores da área da pedagogia a afins.

Sobre o prefácio, de Sampaio da Nóvoa, fiz reflexão aqui.

A obra abarca dados desde a segunda metade do séc. XIX até à actualidade. Não se pode duvidar do rigor nem do tratamento desses dados, o que lhes confere grande importância e nos obriga ao seu conhecimento.

Já no que respeita à extracção de ilações estritamente pedagógicas, muito para além do controlo do poder político de cada época (decorrente da ideologia e da sociologia vigentes), dos interesses económicos e materiais, assim como do grau de respeito pelos direitos humanos, sobrelevam convicções ou crenças, modas psico-sócio-pedagógicas e motivações de nichos profissionais enfeudados em áreas académicas que querem fazer passar por ciência o que os métodos científicos não legitimam e apresentam-nos como bons resultados que deviam envergonhar-nos.

Detenhamo-nos em algumas afirmações espantosas ao correr destes livrinhos.

…«a universalização do sucesso não está a ser acompanhada pela melhoria das aprendizagens»…, o que «tende a gerar frustração»… (vol 1, pg 17). Pudera, se o sucesso é estatístico, se os estímulos formais e não formais são para se avaliar tudo positivamente, para compor uns gráficos bonitos para a OCDE, independentemente de os alunos saberem ou não, como podia ser de outro modo?

Sobre a própria OCDE se diz que «soube aproveitar o desenvolvimento dos testes PISA para se munir de influência política» (pg 84, vol. 1). Convinha, sobretudo, que se afirmasse como entidade exigente, rigorosa e credível relativamente aos dados que recolhe, [com que alimenta as estatísticas publicadas pela União Europeia e que fornece à UNESCO (pg 85, vol. 1)], e isenta nas influências que pretende exercer em matéria de políticas públicas de educação. A sua importância cresceu de tal modo que tem mesmo um programa («o TALIS») que define o professor “ideal”, «desconsiderando características como autoridade e ensino expositivo» (pg 85, vol.1), donde se pode retirar que o professor ideal nem manda nem explica, e as salas de aula, diferentemente de qualquer espaço humano organizado, vão-se transformando em caos progressivo a que se vai fechando os olhos. 

Lê-se que, olhando ao …«trilho percorrido ao longo de 130 anos»…«poderemos afirmar que a batalha educativa vai sendo ganha, aguardando que os Censos de 2031 o confirmem.» Quem cá estiver, verá. Em qualquer caso, não faltarão gráficos a elucidar o progresso, tão coincidentes com a realidade como os da actualidade, por exemplo no que se refere à assiduidade (as faltas dos alunos não são registadas em documentos como as pautas) e ao sucesso (sabendo-se que os professores quase não podem atribuir classificações negativas …).

José Batista d'Ascenção

(Continua)

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