Admiráveis, muitas referências destes livros, como: «Portugal é de longe o país onde os alunos mais consideram os seus professores e mais apreciam a sua disponibilidade» (pg 91, vol. 1). «Este padrão de admiração pela qualidade de trabalho e dedicação dos professores é constante desde 2003» (idem). Revelam-se «duas realidades antagónicas: (…) os alunos parecem idolatrar os professores e (…) os professores acusam falta de respeito e desvalorização da profissão» (ibidem). As mesmas ideias são vincadas mais adiante (pg 106, vol. 1).
Devem ser uns ingratos e insensíveis, estes professores, ainda que, «em relação aos alunos, apresentem poucas queixas» (idem), provavelmente porque sentem e sabem que de nada serviria...
Nem vale a pena interrogarmo-nos sobre aqueles tempos, não muito longínquos, em que era habitual os encarregados de educação irem à escola espancar professores (Carlos Fiolhais publicou um artigo sobre essa matéria, intitulado: «Bate que é professor», em 16/03/2007, no jornal «Público»). Os especialistas da pedagogia não deram por nada. Nem então nem agora, em que, por vezes, são os próprios alunos a fazê-lo no interior da escola, dentro e fora das salas de aula.
De resto, o vol. 1 fecha com chave de ouro: «Somos um caso exemplar em algumas das nossas práticas». (…) «Os nossos filhos e netos são a prova desse caminho.» (pg 108). Salazar, no seu tempo, não seria mais entusiasta do regime educativo que preconizava e impunha.
Outras asserções extraordinárias, por exemplo na pg. 106 do vol. 2: «o país encontra-se estável em termos políticos, a democracia parece ser inabalável»… A segurança destes autores não é proverbial apenas no sector educativo. Pela minha parte, não só não tenho certeza como sinto alguns receios, relativamente a Portugal e ao resto do mundo.
Mais adiante, a propósito de inclusão, refere-se a necessidade de as escolas «se ajustarem a todas as crianças, independentemente das suas condições físicas, sociais, linguísticas e outras (pg. 108, vol. 2), como estabelecido na lei (preâmbulo do dec. lei 54/2018), ignorando a realidade dramática, triste, impotente e ineficaz de certos casos com que convivemos nas escolas.
Muito mais poderia ser anotado. A escola continuará em crise, não sei se por o mundo ser como é e haver quem queira pintá-lo do modo que lhe convém. Também não sei se o mundo está como está por causa da educação, em cuja crise andamos perdidos.
Esta obra é útil, mesmo se nem sempre bem escrita (em particular, não fica bem a um ex-ministro da educação escrever «atingiria-se», pg 35, vol.2), mas não ilumina o âmago das questões principais.
José Batista d’Ascenção
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