sábado, 21 de junho de 2025

Fragilidade psicológica de jovens universitários

Notícias de ontem referem o desânimo de muitos alunos universitários, razão por que consomem muitos químicos psicotrópicos. Adiantam-se vários motivos, entre eles, a pandemia. As análises, parece-me, falham num aspecto crucial: a (im)preparação dos alunos do ensino básico e secundário e o ambiente que se vive nas escolas, nestes níveis.

Criancinhas e os alunos mais jovens fazem o que querem nas aulas e fora delas, dependem dos telemóveis para toda a sua actividade bio-psico-social, copiam como se fosse um direito legítimo, e não valorizam as indicações preventivas dos professores - daqueles que ainda as procuram dar.

Chegados às universidades, parece que as suas energias só não faltam para praxes (mais ou menos horrendas, estética e culturalmente), que se prolongam por quase todo o ano lectivo.

Preparação, que é dela? Espírito de sacrifício, onde está? Resiliência à frustração, vê-se em quem?

E depois queixam-se.

José Batista d’Ascenção

domingo, 15 de junho de 2025

O krill antártico

Se se estiver no oceano Antártico e se vir a água avermelhada, ao longo de poucos metros ou estendendo-se por vários quilómetros, fica-se a saber que se está perante dezenas de milhares de animais minúsculos que, provavelmente, atrairão dezenas de outros muito maiores. Trata-se de um pequeno crustáceo parecido com o camarão, cuja carapaça apresenta uma cor vermelho vivo. Como muitas espécies de água fria, cresce lentamente e tem uma vida surpreendentemente longa. Os seus ovos eclodem nas profundezas escuras do oceano Antártico e as larvas nadam durante vários dias até à superfície para se alimentarem de fitoplâncton (plâncton que realiza a fotossíntese). Demoram então três anos até atingirem o tamanho adulto de 5-6 cm de comprimento.

Quando a estação escura começa a instalar-se e o fitoplâncton entra em declínio, por falta de luz, o krill abranda o metabolismo e adapta a dieta, passando a consumir algas que vivem no gelo, detritos do leito marinho e até zooplâncton (plâncton de natureza animal). Mais notavelmente ainda, o krill diminui de tamanho no Inverno (decresce, afinal), operando uma regressão da fisiologia sexual, retrocedendo, de forma efectiva, à sua fase juvenil, com necessidades energéticas mais reduzidas. Esta redução de porte permite-lhe usar a proteína corporal para subsistir durante esses períodos. Com o regresso da Primavera, recupera as suas características sexuais, tornando-se plenamente maduro, a tempo da época de acasalamento.

Pinguins, peixes, focas, e lulas contam com o krill como componente substancial da dieta. No caso das baleias-de-barbas, filtradoras, como a baleia-de-bossa, a baleia-azul e a baleia-sardinheira, o krill compõe uma porção muito grande da sua alimentação. Pode haver 10 000 krill num metro cúbico de água e uma baleia-azul consegue engoli-lo todo de uma só vez. As baleias dependem tanto do krill que se concluiu que as taxas de gravidez das baleias-de-bossa mantêm uma correlação com a disponibilidade de krill na zona.

Os excrementos das baleias são ricos em ferro (proveniente do krill, de que se alimentam), nitrogénio e fósforo e, regra geral, as baleias defecam à superfície ou próximo dela. Os excrementos fertilizam a água e promovem o crescimento do fitoplâncton. O fitoplâncton alimenta o krill. Por consequência, pensa-se que a presença de mais baleias leva, na verdade, à presença de mais krill, não menos.

in: «Oceano, o último reduto selvagem», David Attenborough e Collin Butfield. Ed. Temas e Debates. 2025. 343-351 p.

José Batista d’Ascenção

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Experiências com a levedura que nos dá o pão, porque gosta (muito) de açúcar

Foto de Leonor Oliveira

Recorrendo a pasta de fermento comercial de padeiro como fonte de levedura Saccharomyces cerevisiae, hoje foi dia de pôr em evidência a fermentação alcoólica que aquele fungo unicelular realiza como via preferencial de obtenção de energia.

Em cada um dos turnos da turma C do 10º Ano de Escolaridade foi usado o seguinte protocolo:

    - Erlenmeyer 1 – 200 ml de água;

    - Erlenmeyer 2 – 200 ml de água + 1 colher de café de pasta de fermento (fonte de S. cerevisiae);

    - Erlenmeyer 3 – 200 ml de água + sacarose (duas saquetas de açúcar de 5-6 gr);

    - Erlenmeyer 4 – 200 ml de água + 1 colher de café de fermento + sacarose (duas saquetas).

Na boca de cada um dos balões Erlenmeyer ajustou-se um balão de látex.

Colocaram-se os quatro balões Erlenmeyer preparados como descrito numa estufa a cerca de 32ºC.

Quarenta e cinco minutos depois o balão de látex do Erlenmeyer 4 estava inflado de gás.

Esse gás correspondia ao CO2 libertado no processo de fermentação.

Os balões dos restantes Erlenmeyer mantiveram-se vazios.

Também se verificou que o conteúdo do Erlenmeyer 4 cheirava a álcool (devido ao etanol produzido).

Os Erlenmeyer 1, 2 e 3 funcionaram como controlo.

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 3 de junho de 2025

Branqueamento de corais

Os corais precisam de águas pouco profundas com grande exposição solar e níveis perfeitos de temperatura e pH. Quaisquer alterações destas condições, a longo prazo, impossibilitam a sobrevivência dos recifes de coral.

Um perigo constante para os corais é a possibilidade de aí crescerem algas pluricelulares, que os poderão cobrir e privá-los da luz, que lhes é vital. Felizmente há exércitos de peixes herbívoros que se alimentam das algas e mantêm o recife limpo.

Nos últimos 12 000 anos, durante o período Holoceno, nas águas tropicais transparentes e tépidas, o coral cresceu e formou vastos recifes onde a vida marinha se tornou muito abundante.

Porém, agora, estas águas estão a mudar. Iniciou-se uma era definida pelos humanos – o Antropoceno.

O oceano desempenha um papel vital de moderação do clima global. Actua como uma esponja gigante que absorve dióxido de carbono (CO2) e calor. O oceano absorveu tanto do nosso excessivo CO2, que o valor do pH está a diminuir – está a tornar-se mais ácido. O pH baixo pode dissolver os esqueletos expostos deixando o coral mais vulnerável a partir-se. Na realidade, isto enfraquece a estrutura de todo o recife de coral, que é maioritariamente composta por calcário – o carbonato de cálcio dos velhos esqueletos de coral, o qual pode dissolver-se, degradando a base primordial da referida estrutura.

Para além deste efeito directo, a acidificação do oceano poderá conduzir a uma debilitação da atracção natural do recife, uma vez que o pH baixo enfraquece as conchas dos caracóis marinhos, dos crustáceos e dos bivalves. A comunicação feita pelos sons das conchas a bater e dos estalidos de camarões é afectada. O recife começa a calar-se. Os peixes não são atraídos pelos sons vindos do local onde podem instalar-se e ficam mais vulneráveis aos predadores. Ou seja: gera-se um ciclo de retorno negativo.

O branqueamento dos corais ocorre quando os pólipos são sujeitos a tensões causadas por alterações de temperatura, de pH, de salinidade e de poluição. Os corais toleram uma gama de temperaturas relativamente restrita. Fora desse intervalo, a fotossíntese começa a correr mal e as zooxantelas podem reagir produzindo substâncias nocivas para os pólipos de coral. Estes reagem também e expulsam as zooxantelas. Sem zooxantelas, o tecido do pólipo torna-se translúcido e revela o seu esqueleto branco – foi «branqueado». Quando a temperatura permanece demasiado tempo fora dos valores normais, os pólipos morrem de fome.

Com as alterações climáticas, as vagas de calor oceânicas podem durar semanas ou meses, aquecendo as águas a centenas de metros de profundidade e matando os corais.

Na recuperação de corais «branqueados» os peixes herbívoros podem desempenhar um papel muito importante limitando a proliferação de algas pluricelulares que recobririam os recifes fragilizados.

in:«Oceano, o último reduto selvagem», David Attenborough e Collin Butfield. Ed. Temas e Debates. 2025. 55-64 p.

José Batista d’Ascenção

domingo, 1 de junho de 2025

Recifes de coral, o que são?

Os corais, tal como os conhecemos hoje, habitam a Terra há cerca de 200 milhões de anos.

O recife é uma estrutura calcária que, com frequência, se vai formando durante milhares de anos, à medida que cada geração sucessiva de coral duro vai crescendo sobre os esqueletos da geração anterior. Há muitas espécies de coral, mas agrupamo-las por norma em corais «duros», que formam recifes, e corais «macios», que também se desenvolvem em recifes, mas não deixam esqueletos. A parte viva do recife é a zona do topo, onde se desenvolvem as colónias de corais, sendo cada uma composta por pólipos de coral – que por vezes se encontram em grande número. Os pólipos de corais são animais.

Uma das mais notáveis e bem-sucedidas relações de benefício mútuo de todo o mundo natural é a dos pólipos de coral com um tipo de alga unicelular chamada zooxantela. As zooxantelas vivem nos tecidos dos pólipos de coral e mantêm uma relação muito especial com o seu hospedeiro. O pólipo de coral, além de abrigo, fornece à zooxantela dióxido de carbono e água para ela fabricar alimento, por via da fotossíntese (como nas plantas verdes). Em troca, a zooxantela fornece este alimento (compostos orgânicos) ao pólipo de coral. Os pólipos usam então os açúcares, os lípidos (gorduras) e o oxigénio produzidos pelas zooxantelas para obterem energia, mediante o processo da respiração celular aeróbia, e para crescerem. Da respiração dos pólipos resulta dióxido de carbono, matéria-prima de que as zooxantelas necessitam.

É um sistema de produção em sistema fechado. Deste modo, os recifes de coral podem crescer em águas pobres em nutrientes.

O esqueleto do coral ostenta uma cor branca semelhante à cal, mas as zooxantelas criam pigmentos proteicos com cores diversificadas que associamos aos recifes de coral.

in: «Oceano, o último reduto selvagem», David Attenborough e Collin Butfield. Ed. Temas e Debates. 2025. 51-53 p.

José Batista d’Ascenção